Quando o arquiteto holandês Piet Blom (1934-1999) apresentou em 1984 o seu condomínio Cube Houses em Roterdã, o formato absolutamente único do projeto chamou a atenção do mundo. Mas como nem só de aparências vive a arquitetura, o conjunto de 38 casinhas de habitação social, complementado por dois blocos de apartamentos, pontos comerciais e uma escola, naufragou.
Um dos blocos, abandonados por falta de interesse, acaba de ser reformado para uma proposta nobre: receber indivíduos recém-saídos da cadeia, em seu último estágio de punição antes de retornarem de vez à sociedade.
Cada casa do projeto "micado" tem uma inclinação de 45 graus, e repousa sobre uma coluna em forma de hexágono. A ideia de Blom era que a estrutura, parte de uma ponte, se tornasse uma passagem alternativa entre o centro da cidade e o mercado do velho porto. Assim, nasceria uma nova rua com diversas lojas, fomentando o comércio local. Mas a população simplesmente não aderiu, e muitas das casas e unidades comerciais ficaram abandonadas.
Com o intuito de reaproveitar um dos dois blocos maiores de apartamentos, a fundação Exodus decidiu criar o lar para abrigar os presidiários. Para tanto, recrutou os serviços do escritório Personal Architecture, que reformou todo o interior, acabando com a escuridão e a falta de ligação entre os pavimentos. A reforma iluminou e reestruturou o espaço, dando aos ex-detentos mais de 20 quartos, cozinha e áreas de alimentação e trabalho.
Sander van Schaik, profissional do Personal Architecture, acredita que Piet Blom, falecido em 1999, teria gostado da mudança. “Reutilizar um dos cubos para uma função social tal como essa teria deixado Blom muito feliz”, conta.