Na concepção de projetos residenciais, o maior desafio é alcançar o equilíbrio entre os desejos dos futuros moradores e a visão estética do arquiteto. Tão importante quanto a obra caber dentro do léxico do seu autor é a sua capacidade de acolher os clientes aos quais se destina. Há muita negociação até que esse consenso seja alcançado. O projeto nunca é completamente fiel às ideias de ambas as partes. Mas o que acontece quando arquiteto e cliente são a mesma pessoa?
A pergunta é o ponto de partida do livro The Architect’s Home, publicado este ano pela editora Taschen. As moradas que os arquitetos constroem para si são particularmente interessantes pelo fato de não haver resistências ou vetos. Esta nuance intrigou e inspirou o arquiteto, professor e editor da revista Area, Gennaro Postiglione, a compilar no volume fotos de 100 projetos deste tipo. Entre os arquitetos contemplados estão Le Corbusier, Gio Ponti, Alvar Aalto, Fernando Távora e Jean Prouvé.
Por um ângulo ainda mais poético é possível apreender que, se as casas refletem as personalidades de seus donos, essas moradas de arquitetos são autobiografias. Localização, disposição dos móveis, estilo, iluminação, as obras de arte, o mobiliário e todas as pequenas escolhas acabam por montar um mosaico que revela muito mais do que a visão estética do arquiteto/morador. Cada detalhe adiciona cor à história que o observador pode se esforçar para imaginar ou conhecer.
Deste modo, cada um destes lares fala mais sobre o seu criador do que qualquer outro edifício que eles tenham projetado. O livro é um convite irresistível aos amantes da boa arquitetura. Aproveite: desta vez são os arquitetos que dão as boas-vindas.