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O homem por trás da Bienal de Veneza

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  (Foto: divulgação)

Para onde caminha a arte contemporânea? Se é verdade que, nos últimos tempos, as duas tendências principais são a valorização dos arquivos e a emotividade crescente entre espectador e obra, Massimiliano Gioni é o homem certo para questionar essa situação. Este italiano, o próximo diretor da 55ª Bienal de Arte de Veneza, que se realizará de 1° de junho a 24 de novembro deste ano, parece ter uma predisposição inata para enfrentar desafios complexos. Poucos curadores souberam, como ele, gerar paixões e agitação. E seu interesse pelas origens da criatividade é notório. Com 40 anos – será o diretor mais jovem da Bienal de Veneza –, tem uma carreira fulminante, provocativa e de altíssima qualidade. Basta lembrar que ele é o curador principal e diretor associado do New Museum of Contemporary Art, em Nova York, ja dirigiu a 8ª Bienal de Arte de Gwangju, na Coreia do Sul, foi um dos curadores da 4ª Bienal de Berlim e diretor artístico, durante uma década, da Fondazione Nicola Trussardi, em Milão. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva que Gioni concedeu a Casa Vogue.

Obra Mole, 1964, de Lygia Clark (Foto: Associação Cultural “o Mundo de lygia Clark”)

Il Palazzo Enciclopedico: por que foi escolhido este nome para a próxima bienal?
Em 1955, o ítalo-americano Marino Auriti, artista autodidata, apresentava junto ao departamento de patentes dos EUA o projeto Palazzo Enciclopedico, um museu imaginário que deveria conter todo o saber da humanidade, desde a roda ate os satélites. Chegou a construir uma maquete desse edifício impossível, com 700m de altura e 136 andares, que ocuparia 16 quadras de Washington. Foi em referencia a esse empreendimento inacabado que escolhi o nome para esta bienal, uma forma de homenagem ao sonho de um conhecimento universal que atravessa a história da humanidade.

Como diz Paolo Baratta, presidente da Biennale, esta será uma mostra de pesquisa, com uma abordagem museológica e antropológica. O que você quis contar?
Eu quis abordar as obsessões e o poder da imaginação, a ponto de transformar as coisas. Vivemos assediados por um dilúvio de informações, e eu me pergunto onde vão terminar as nossas imagens pessoais e as dos artistas, em particular. O desejo de saber tudo (“não existe nada mais doce”, dizia Platão) leva a criação de cosmologias pessoais, em um tipo de delírio de consciência. O desafio de conciliar o subjetivo com o coletivo, o indivíduo com a cultura de seu tempo. Sob essa linha, está inscrito também o Pavilhão do Brasil, com o curador Luis Pérez-Oramas, que apresenta os artistas Hélio Fervenza (Santana do Livramento, 1963) e Odires Mlászho (Mandirituba, 1960). As obras inéditas desses artistas serão acompanhadas por uma trilogia de esculturas históricas: Côncavo/Convexo, 1946, do italiano Bruno Munari; Obra Mole, 1964, da brasileira Lygia Clark; e Unidade Tripartida, 1948, do suíço Max Bill.

Vídeo Blindly, 2010, de Artur Żmijewski (Foto: Foksal Gallery Foundation e Galerie Peter Kilchmann)

Existe um fulcro dessa exposição? E um percurso ideal?
Há pouco tempo, tivemos a confirmação de uma peça importante: o manuscrito original do Livro Vermelho, de Carl Jung. Um livro de sonhos e visões, escrito e ilustrado pelo psiquiatra suíço. Parece uma miniatura medieval, mas tem 100 anos. A exposição será organizada como os Gabinetes de Curiosidades dos séculos 16 e 17, que partiam das formas naturais para chegar às artificiais em nome da curiosidade e da maravilha [esse retorno ao diálogo entre arte e ciência dos séculos passados também norteará a Bienal do Mercosul, em setembro, curada por Sofía Hernandez Chong Cuy]. Haverá cartografias do Universo e imagens simbólicas, materiais antropológicos e talismãs, bonecas, mapas, fotonovelas, moldes, catálogos e coleções, entre muitas outras coisas.

Haverá algum nome especial em mostra ou alguma coisa particularmente significativa para você?
Acredito que uma das obras mais fortes seja um vídeo de Artur Zmijewski que, há alguns anos, filmou pessoas cegas que pintam. Nas telas, essas pessoas retrataram o sol, as árvores, as casas. Um mundo que não podem ver, mas que faz parte das imagens compartilhadas por todos. Além disso, existem algumas telas do pedagogo e filosofo Rudolf Steiner, com seus diagramas, que procuravam descrever e entender todo o Universo. Ele passou a vida fazendo conferências, sempre as ilustrando com esses desenhos delirantes. No centro do Arsenal, Cindy Sherman apresenta um projeto curatorial autônomo: uma “mostra dentro da mostra” que reúne mais de 200 obras de 30 artistas, em um teatro anatômico que reflete sobre o corpo e as suas obsessões, a representação e a percepção de si mesmo. No Palazzo Enciclopedico, nao existem apenas artistas, conhecidos ou de pouca fama, mas também escritores, cientistas e profetas. São outsiders e visionários, personagens que procuraram dar uma forma ao mundo desde os primeiros anos do século 20.

* Matéria publicada em Casa Vogue #333 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

Maquete do Palazzo Enciclopedico, que deu nome à Bienal de Veneza de 2013 (Foto: divulgação)

 

Uma das famosas bonecas do americano Morton Bartlett, que estudava a linguagem do corpo (Foto: Collection de l’Art Brut)

 

Açougueiro V,  2007, de Odires Mlászho, que estará no pavilhão brasileiro (Foto: Galeria Vermelho)

 

Diagramas com os quais o suíço Rudolf Steiner buscava descrever e entender o Universo (Foto: divulgação)

 

Página do Livro Vermelho, de Carl Gustav Jung (Foto: divulgação)

 

Instalação escultórica Almech, 2011, do polonês Pawel Althamer (Foto: divulgação)

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