“O Maracanã é a alma brasileira em forma de estádio”, cravou o arquiteto Nestor Goulart Reis Filho no parecer sobre o tombamento do mais importante templo do futebol brasileiro. Diante dessa afirmação, entende-se por que reformá-lo foi uma tarefa complexa. “Demolir a construção existente e erguer outra no lugar daria menos trabalho e sairia mais barato. Mas não tínhamos esse direito”, diz o arquiteto Daniel Hopf Fernandes, responsável pelo projeto que repaginou o Estádio Jornalista Mário Filho (nome oficial do Maracanã), no Rio de Janeiro, e o preparou para grandes eventos esportivos, como a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
É difícil comparar o prédio atual com o que foi inaugurado em 16 de junho de 1950. Apenas a estrutura e os pilares em forma de “P” sobreviveram. Entre os itens que saíram de cena, está a marquise de concreto armado que protegia as arquibancadas, retirada devido a danos estruturais irremediáveis. “Por fora, no entanto, a aparência é a mesma. A nova cobertura, de lona tensionada autolimpante, não interfere na fachada”, aponta Fernandes.
No que se refere ao conforto, a preocupação foi grande: “O antigo Maracanã tinha cerca de 1 m² de espaço para cada torcedor. Hoje são 2,50 m²”, compara o arquiteto, explicando que o aumento da área útil foi possível com a alteração da geometria das arquibancadas. Há também mais espaços de convivência – bares, lanchonetes, cafés e lojas. Outro cuidado assegura que os 79 mil espectadores (número que se aproximava de 200 mil em 1950) possam ter uma boa visão do campo, independentemente da localização dos assentos, que agora são numerados. Um detalhe fundamental, porém, foi mantido: a acústica do estádio, garantindo que o grito da torcida no novo Maracanã tenha a mesma vibração de sempre.
* Matéria publicada em Casa Vogue #339 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)