Algumas pessoas ousam na arquitetura de suas moradas, outras nas cores que escolhem para a decoração. Mas poucas chegam ao nível do russo Sergei Bobovnikov. O revendedor de antiguidades, especializado em arte do início do período soviético, buscou inspiração justamente na sua profissão para decorar um novo apartamento em São Petersburgo. Cada detalhe foi escolhido com o intuito de recriar fielmente o lar de um burocrata do regime soviético, como teria sido nos anos 1930.
O proprietário, que comprou o imóvel em 2002, deixa claro que não é simpatizante do comunismo. “O stalinismo é repulsivo, assim como o fascismo”, diz Bobovnikov. Foi a história do prédio, construído no começo do século 20, que o orientou a decorá-lo dessa forma. Para ele, não seria certo ignorar o fato de que diversos oficiais de Stalin viveram naquele edifício, e a importância que tal período teve na construção do país.
A reforma do espaço, que durou quatro anos, começou com a derrubada das paredes que formavam os pequenos quartos onde antes moravam oito famílias. Oito.
Restaurou-se, assim, o look original da Art Déco russa dos anos 1930, de amplos ambientes. “O conceito começou a ficar mais claro em minha mente”, explica Bobovnikov. “Eu tinha vários itens que ainda não tinha vendido e dos quais eu gostava muito. Couberam no espaço como um mosaico.” Entre eles, figura uma pintura que mostra um grupo de crianças admirando uma estátua de Stalin.
Bobovnikov decidiu usar o apartamento como uma espécie de showroom para a arte que negocia, além de um espaço para abrigar convidados. Com o visual adotado, o russo pretende não apenas celebrar a estética de tempos passados, mas também instigar conversas a respeito de um importante capítulo da história de seu país, por meio do contraste entre o otimismo da arte que vende com o fim que tiveram seus criadores no regime soviético.