Nova York é uma cidade viva, que se rearranja a todo momento. A metrópole que é o símbolo máximo do capitalismo tenta seguir a rapidez dos dias de hoje. Assim, redefine o que é cool a toda hora. Se ontem o bacana era viver no Soho, em Williamsburg, ou em Bushwick, hoje, os artistas e os quase famosos estão reunidos em Brooklyn Heights. O bairro residencial é o novo abrigo de criativos de todos os tipos. Além disso, o endereço tem figurado em diversas mídias, do catálogo da loja Design Within Reach ao seriado Girls.
A fotógrafa Margaret Reid Boyer é uma feliz moradora do bairro. Seu trabalho é para lá de pessoal. Sem medo de expor-se em demasia, ela fotografa seus filhos – dois pares de gêmeos –, suas posses, sua morada e seu entorno. As imagens têm uma aura tensa, que visa levar o observador à ponderação sobre os conceitos de família e de bem estar, ou de bonança financeira. Margaret revela com sua arte as facetas imperfeitas do idealizado universo que são os Brooklyn Heights.
Não longe dali, vive Laura Karetzky, cujo modo de expressão é a pintura a óleo. Suas telas assemelham-se à fotografias, nem tanto devido à perfeição da reprodução, mas por causa da arbitrariedade dos momentos registrados. "Meus quadros são como um diário aberto a esmo", explica. "É como se você lesse uma frase, e fosse obrigado a imaginar seu contexto", continua. Laura vive em um apartamento de três quartos que faz parte de um edifício antigo da área, construído no final do século 19, mas seu estúdio fica em Dumbo.
Mas em Brooklyn Heights não são só as pessoas que retêm fama. Há endereços célebres também. Entre eles, a casa de Terry Adkins e Merele Williams-Adkins, que só este anos protagonizou 13 produções, como os comerciais da marca Target e da Loteria de Nova York. Em 2012, foram nove delas, e em 2011, apenas duas. Esses números revelam bem a crescente popularidade do bairro onde a residência está inserida. Merele ressalta, orgulhosa, que os interiores de seu lar são tão requisitados quanto a casa em si.
A redatora Rebecca Johnson, por sua vez, não gosta da atenção midiática que sua rua, em Cobble Hill, tem recebido. "Quando comprei minha casa, em 1999, costumava ver nos rostos de colegas da Vogue, revista com a qual contribuí, expressões de pena", lembra-se. Agora, essas mesmas pessoas derretem-se ao ver os cenários de Brooklyn Heights em campanhas publicitárias e no seriado Girls. "Estou sempre tropeçando em cabos e equipamentos do pessoal que faz as gravações dos vídeos e filmes por aqui", queixa-se.
"Pelo lado bom, eu recebi 5 mil dólares para deixar que a atriz Sarah Jessica Parker pulasse pela minha janela da sala de estar no dia do ano novo", conta. "A equipe do seriado ' Baby Mama', outro dia, me pagou 250 dólares para poder 'embelezar' a minha cerca com flores para uma gravação", somou. Mesmo assim, Rebecca mantém sua opinião: "Estão filmando o piloto de uma série nova bem ali, na esquina de casa, e eu e meus vizinhos estamos rezando para que a franquia não seja comprada pela emissora".
Nove anos atrás, Alexandra Styron, escritora, e Ed Beason, empresário do ramo imobiliário, mudaram-se para o bairro. Eles arremataram uma das propriedades que fazia parte de um duo de casas geminadas. Devido ao caráter simples do local e das construções, formou-se ali, entre vizinhos, uma comunidade. A vida passava longe do ideal americano de saúde financeira, ainda assim, estranhos a invejavam. O casal fica do lado mais racional dos moradores da região, temendo a aura de glamour que foi posta sobre o bairro.
"Certa vez, quando estava no acampamento que meu filho frequentava conversando com uma das outras mães me assustei", relatou. "Disse a ela que era escritora, tinha dois filho e vivia no Brooklyn, e ela disse entusiasticamente que essa era a vida que ela sempre sonhou", explicou. "Isso foi há mais de cinco anos, quando os Brooklyn Heights ainda nem haviam sido transformados em marca publicitária, imagina hoje qual não é a visão distorcida das pessoas em relação à minha vida", reflete.