Pioneiro no encontro entre o artesanato e o design no Brasil, este carioca lida, há quase três décadas, com comunidades de artesãos no País inteiro. O trabalho que conduz é tema de exposição na capital paulista e de um livro recém-lançado.
1 Como surgiu o interesse pelo tecido e o que ele representa para você? O fio é a vida, e o tecido, meu caminho. Cresci no bairro da urca, onde minha avó era costureira das boas. Fiz meus primeiros trabalhos em tear aos 14 anos – mais do que um hobby, era a
busca do sustento próprio.
2 O que foi definitivo para nortear sua carreira? Em 1985, conheci comunidades de artesãos de Muquém, bairro rural de Carvalhos, MG. Vi ali a oportunidade de incrementar a atividade deles e de um novo negócio para mim. De designer têxtil, me tornei consultor e, depois, diretor de arte.
3 Qual seu trabalho mais recente desse tipo? É com mulheres da ilha do ferro, em Alagoas, que criamos bordados boa-noite, feitos com tecidos desfiados. O resultado está na mostra Boa noite, Ilha do Ferro, em cartaz até dia 18 em A Casa – Museu do objeto brasileiro, em São Paulo.
4 Cada técnica artesanal tem sua beleza.Qual delas impressiona você? A renda de bilro, presente ao longo do litoral brasileiro. Não consigo entender muito a lógica do trançado, feito de maneira precisa.
5 De que designers você gosta? Admiro o trabalho de tetê, da Coopa-Roca, de Ronaldo Fraga e dos irmãos Campana – sobretudo sua poltrona banquete (foto).
6 Qual seu lugar no mundo? Além do brasil, os países africanos, pela alegria e delicadeza do povo, e o Japão, pelo silêncio que encontro somente lá.
7 Como é sua casa? É um sobradinho no bairro paulistano do Alto de Pinheiros, reformado pelas arquitetas gaúchas Tina e Lui, minhas parceiras em alguns projetos. Gosto da presença da luz nela.
8 Você teve um filho, plantou uma árvore e escreveu um livro? Sim. tive uma filha, Maria, plantei um pau-brasil em meu sítio no ano 2000 e escrevi dois livros com minha mulher, a jornalista Maria Emilia Kubrusly – entre eles, o Lá e Cá (ed. Senac São Paulo), recém-saído do forno.
9 Pense em uma textura, uma cor e um sabor. A de um tecido percal com mil fios, o azul e um gosto doce.
10 Viver vale a pena por quê? Porque é bacana demais. Quero chegar a mais de 100 anos sem depender de ninguém e vivendo intensamente. Não sou muito de dar importância ao passado, mas de me voltar para o presente e o futuro.
* Matéria publicada em Casa Vogue #340 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)