John Pawson e Ian Schrager se conheceram em 1994. Uma década depois, o nome mais proeminente da Inglaterra em se tratando de arquitetura minimalista e o empresário nova-iorquino, criador do antológico Studio 54, somaram seu know-how para lançar o Residences at Miami Beach Edition. Com inauguração prevista para este ano, o primeiro empreendimento conjunto da dupla terá a assinatura de Pawson na arquitetura e a de Schrager no lifestyle. A vista arrebatadora de Miami Beach banhará 26 apartamentos state of the art, divididos em dois prédios: um dos edifícios, erguido nos anos 1950, abrigará um hotel (também de Schrager, que vem trabalhando no ramo hoteleiro desde 1984) nos pisos inferiores e os imóveis desenhados pelo inglês na cobertura; o outro, uma torre nova, de 18 pavimentos, será inteiramente ocupado pelas moradias. De quebra, o conjunto contará com um nightclub, cujo lighting design é de Patrick Woodroffe. Nesta entrevista exclusiva concedida à Casa Vogue, Pawson e Schrager falam de trabalho, mercado imobiliário e bom gosto.
John, o que você mais admira no trabalho de Ian Schrager como hoteleiro?
Para o Ian, tudo se relaciona com estilo de vida. Como eu, ele detecta as mudanças no comportamento e não repete fórmulas comprovadas. Está sempre mirando o futuro.
Ian, como você descreveria a arquitetura de John Pawson?
Simples, honesta e direta. Trata-se do design destilado em sua forma mais pura.
Quais são os pontos altos desse empreendimento no que se refere à estética?
JP – A meu ver, a suavidade das superfícies colabora muito para a experiência sensorial e espacial de um projeto, assim como a relação das cores da cartela. Criei uma paleta econômica, composta de branco-lavado, marrom-carvalho, aço polido e concreto cinza-pálido. E há um grande elemento escultural, a escada de ripas verticais de teca.
IS – Nosso objetivo foi promover um diálogo entre os detalhes da arquitetura e os detalhes do nosso dia a dia.
Com tantos projetos lançados em Miami Beach, o que este traz de diferencial, por exemplo, quanto à tecnologia?
JP – As especificações técnicas dos apartamentos são exemplares. Mas o que conta é a sensação que o espaço oferece.
IS – A sofisticação tecnológica é crucial, vai ser algo que facilitará e elevará nossas experiências diárias.
O que vocês pensaram em relação ao conforto?
JP – Nesse quesito, o mais importante é a atmosfera. Conforto não é só uma poltrona. É um estado superior, que induz à calma. Aprecio ambientes em que a família e os amigos se sintam em casa. O projeto incorpora esse conceito à experiência do Ian em criar lugares com atmosferas inesquecíveis.
IS – O mais importante em uma moradia ou em um design não é o visual, mas como você vive naquele lugar. É uma experiência visceral. Se você se sente confortável e à vontade em casa, isso é um luxo. Foi nisso que concentramos nossa energia. É como a questão da sustentabilidade, não dá mais para executar algo que apenas aparente ser ecologicamente correto. É uma ofensa não construir dentro desses parâmetros. Para nós, é um ponto de honra, não é marketing. No final, tudo se resume à diferença entre o que é de fato sofisticado e autêntico e o que é falso.
Existe algo no Edition pensado especialmente para atrair clientes brasileiros?
JP – Minha experiência no Brasil sempre foi de uma gente calorosa, hospitaleira. Mas, aqui, o apelo vai além da nacionalidade. É um empreendimento extremamente atraente. Quando se pensa em Miami Beach, imaginamos o horizonte sem fim e aquela luminosidade extraordinária. Os apartamentos foram planejados para absorver a vista do oceano e da baía e ser banhados por essa luz única.
IS – Os brasileiros estão entre as pessoas mais sofisticadas do mundo. Possuem o belíssimo legado arquitetônico de Oscar Niemeyer, um dos nomes que sempre admirei. Na realidade, pessoas refinadas facilitam meu trabalho, porque entendem o conceito do projeto, que é o de ser uma moradia extremamente original e requintada com todo o conforto da vida moderna.
O que vocês têm a dizer sobre o mau gosto?
JP – Claro que tenho minhas preferências. Mas, para mim, o importante é que a casa das pessoas possua a estética e a funcionalidade que elas elegeram para suas vidas.
IS – Não tolero falta de conforto. Também não gosto de nada falso ou artificial.
* Matéria publicada em Casa Vogue #340 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)