
Fauna, flora e cenas do cotidiano viram esculturas feitas a partir de troncos encontrados na beira dos rios. Fibra de piaçava, tucum, tucumã e carnaúba, entre outras plantas nativas, são trançadas e se transformam em belíssimas cestarias. Mãos que não saem do barro e das tintas naturais fazem nascer cerâmicas com motivos gráficos. São muitas as riquezas do artesanato e da arte popular no Brasil. Para iniciados e iniciantes, Casa Vogue fez um guia do que há de melhor em todas as regiões do país

CENTRO-OESTE

DISTRITO FEDERAL
• João Gomes da Silva, o Juão de Fibra, ficou conhecido na capital nacional pela cestaria feita com capim-colonião.
• Fundadora da marca Flor do Cerrado, Roze Mendes transforma “esqueletos” (sem clorofila) de folhas do cerrado em caminhos de mesa e biombos.

GOIÁS

MATO GROSSO
• As esculturas das artesãs do EcoArts Brasil nascem do reaproveitamento de resíduos da floresta e os lucros são revertidos para o plantio de novas espécies em áreas desmatadas.

NORDESTE

ALAGOAS
• João das Alagoas, de Capela, ficou famoso pelos bois feitos de barro que recriam o Bumba meu Boi, com mantos esculpidos em alto e baixo relevo.
• Patrimônio vivo de Alagoas, Irinéia Rosa Nunes da Silva, a dona Irinéia, modela no barro animais e cabeças expressivos, em Sítio Muquém, comunidade quilombola em União dos Palmares.
• Autor de bancos e poltronas com raízes encontradas na beira do Rio São Francisco, Fernando Rodrigues (1928-2009), o Fernando da Ilha do Ferro, foi o precursor e incentivador da arte popular local. Vale reparar nos poemas gravados nas peças.
• Valmir Lessa, genro de Fernando Rodrigues, também usa troncos, mas soma às cadeiras pedaços de couro e pássaros entalhados. Desenvolveu, assim, um trabalho autoral de destaque.

• Aberaldo Sandes Costa Lima, também da Ilha do Ferro, ficou conhecido pelos animais estilizados e pelos ex-votos feitos de galhos de mulungu.
• Jasson Gonçalves da Silva, de Belo Monte, faz esculturas e poltronas inspirado pela fauna local e em cores vivas. Vale checar, ainda, suas carrancas estilizadas.
• José Bezerra Sandes, chamado de Vieira, confecciona os mais belos pássaros de madeira da Ilha do Ferro. Não deixe de conferir as esculturas híbridas com corpo de ave e cabeça humana.
• José Cícero da Silva, o Zezinho de Arapiraca, usa madeira encontrada nos arredores do seu povoado para elaborar cenas escultóricas lúdicas nas cores mais marcantes da região.
• Manoel Cavalcanti de Almeida, o Manoel da Marinheira (1917-2012), de Boca da Mata, fazia imponentes esculturas de coelhos, leões e onças com troncos de jaqueira. Entre os cinco filhos que seguiram o ofício, vale destacar os trabalhos de Manoel da Marinheira Filho e André da Marinheira.

BAHIA
• Dona Cadu molda, em Coqueiros, potes, travessas e frigideiras de barro em formas arredondadas com a ajuda de uma cabaça. As peças são queimadas em fogueira à beira do rio Paraguaçu.
• As artesãs de Helvécia já faziam crochê quando Paula Dib chegou para orientá-las. A escassez da lã levou à busca de um novo material: começaram, então, a fazer bowls com a trama de lascas de eucalipto.
• Estruturados a partir de coquilho da piaçava, os cestos, bandejas e bowls do Projeto Joias do Quilombo, em Ituberá, têm detalhes em fio de algodão, sementes, ossos bovinos ou resíduos de madeira de pupunha e pau-roxo.
• José Valdo Rosa e os membros da Associação dos Artesãos de Santa Brígida ganharam fama pela cestaria feita com palha de ouricuri, cujos detalhes são pássaros esculpidos na madeira umburana.
• Feitos pelas 35 artesãs da Cooperativa dos Trançados Tupinambás, os cestos e tapetes de palha de piaçava, em combinações de cores vivas e harmônicas, são must buy para quem passar pelo Porto de Sauípe, em Entre Rios

CEARÁ
• Sobrinho do artista Severino de Juazeiro do Norte, Hércules de Souza esculpe personagens do Bumba meu Boi e totens de mulheres em madeira de tons fortes.
• Espedito Seleiro desenvolveu uma estética marcante ao transformar couro em vestuário e móveis cheios de arabescos coloridos, uma influência dos ciganos que circularam em Nova Lima.
• Inocêncio Medeiros da Costa, o Mestre Noza (1897-1983), de Juazeiro do Norte, foi um grande escultor, xilógrafo de cordel e santeiro do Ceará – é o maior representante de Padre Cícero. Entre suas obras mais famosas está a série de xilogravuras Vida de Lampião e Os Doze Apóstolos.
• João Cosmo Felix, o Nino (1920-2002), esculpia peixes, pássaros, elefantes, bois, macacos e figuras de reisados de imburana ou timbaúba. Começou usando o marrom, negro e branco, mas logo desenvolveu uma paleta própria com tons contrastantes.
• José Maurício do Santos, o Maurício Flandeiro, construía navios, castelos, lampiões e aviões com folhas de zinco em um hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro e, hoje, os produz em Juazeiro do Norte, sua terra natal.

MARANHÃO
• As artistas do Grupo Mulheres de Fibra trançam fibras de buriti para fazer apoios para copos em forma de flores e peixes ou jogos americanos. A coloração é feita com vegetais.
• As miniaturas de embarcações, feitas de buriti, podem ser brinquedos ou ter função religiosa ou decorativa. Ex-pescadores, os artesãos obedecem às proporções ideais à navegação. Vale destacar o trabalho de Domingos Pereira Lopes, o Seu Mimi, e José de “Ananias” Pereira Santos.
MARCELO ROSENBAUM, DESIGNER

• Luís Carlos, de São Luís, faz esculturas de madeira e cerâmica, reproduzindo sementes nativas (babaçu, jatobá, sucupira ou jacarandá) em grandes dimensões.
• As caretas de Cazumba, cabeças de Bumba meu Boi, podem ser de madeira, borracha ou tecido. Abel Teixeira, o Mestre Abel, da Vila São Sebastião, usa fibra vegetal e paetês para decorá-las. Procure também pelas caretas dos integrantes do Boi Unidos de Santa Fé, em Penalva.

• Tomás Azevedo Campos, de Baiacuí, transforma o cipó-de-leite em poltronas e mesas que combinam com áreas externas.
• O povoado de São Simão destaca-se pelas redes com vasta gama de texturas e padrões ricos em cores. Confira as peças de José Ribamar Paxeco Magno, o Zé Branco, e Raimundo Nonato Magno Rayol.
• Antonio Ribeiro faz vasos delgados de barro e cobertos por uma “capa” tramada com a fibra de buriti.
• Quem gosta da tradição da azulejaria deve notar os vasos de Bernarda Vieira com padrões do revestimento decorativo

PARAÍBA
• Mestra Zefinha, ou Maria José do Nascimento, é a principal representante do artesanato de fibra de coco de pitimbu. O complexo trançado dá origem a flores, frutas, galinhas e cestos.
• Oziel Dias Coutinho, de Itabaiana, esculpe, em madeira mulungu e umburuna, expressivos cachorros, cabras e outros bichos do agreste.
• Maria das Neves Paiva, a Nevinha das Cerâmicas, é conhecida pelas peças de barro negras feitos em Itabaiana. A coloração nasceu depois de uma queima “errada” e acabou virando a marca da artesã e de seu marido, Seu Tota.
• Joaquim Davi da Silva Neto, o Joca dos Galos, faz galos, pavões e outras aves em Araçagi a partir de latas recortadas e pintadas. Em dois meses ele “recicla” cerca de mil latas.
• Da Imburana, Bento Medeiros Gouveia, o Bento de Sumé, faz surgir esculturas de animais como bois, onças e pássaros, além de santos estilizados. Retrata, ao mesmo tempo, figuras do imaginário popular, como Lampião e sereias, com traços nordestinos.
• Artistas da Associação das Louceiras do Bairro de São José, em Cajazeiras, criam cerâmicas terracota bordadas com agulha e linhas coloridas de crochê – os temas são flores e frutas, algumas vezes, gráficas.

PERNAMBUCO
• Aposta do escritor Ariano Suassuna, J. Borges é considerado o melhor gravador popular do país. Natural de Bezerros, ele esculpe em louro-canela as matrizes de até seis cores de suas xilogravuras, que ilustram cordéis ou viram quadro.
• Herdeiras da tradição da louça cabocla, Cida Lima e Neguinha, de Belo Jardim, ficaram famosas por criar cabeças e outros personagens de barro.
• Mestre Nuca (1937-2014), de Tracunhaém, tornou-se célebre pelos leões de barro com jubas de rolinhos. Ele também é autor das bonecas de cabelos cacheados e mãos cobertas de flores.
• Mestre Fida é reconhecido por seus homens cata-ventos, esculturas de madeira articuladas. Em Timbó, comunidade de Garanhuns, esculpe ainda barcos, ex-votos e utilitários.
• Ana das Carrancas (1923-2008), de Petrolina, criava carrancas de terracota e formas primitivas. As peças apresentam os olhos vazados, uma referência ao marido, José Vicente, que era cego e fazia os bolos de barro para a mulher esculpir.

• Tiago Amorim vive em Olinda, onde molda animais e mulheres de formas arredondadas no torno. Além de ceramista, é pintor, gravador e pesquisador.
• Fã de lendas populares, Miguel dos Santos, de Caruaru, esculpe na cerâmica, madeira e mármore, seres que transitam entre o mundo real e o fantástico.
• Mestre Heleno da Luz entalha bonecos do trio do forró e pífano em Tracunhaém, Zona da Mata. Com pernas alongadas, os exemplares de madeira são marcados pelo uso de cores primárias.
• José Alves da Cruz foi ajudante de Nhô Caboclo, com quem aprendeu a esculpir na madeira. Seus navios negreiros, saci-pererês e biombos com figuras primitivas são invariavelmente pintados de preto e vermelho.
• No barro, Joaquim Alves Pereira, em Tracunhaém, modela de bonecas a obras mais complexas como a Árvore da Vida. Escultura composta por Maria, São José, São Francisco e um anjo, é a peça mais cobiçada do mestre.
• Manuel Eudócio Rodrigues (1931-2016) aprendeu a modelar o barro com Mestre Vitalino. Recriava cenas festivas num estilo próprio – repare nas máscaras dos personagens – que lhe rendeu fama em Alto do Moura, bairro de Caruaru.
• Marcos Paulo Lau da Costa, o Marcos de Sertânia, esculpe figuras delgadas em movimento que refletem a vida nordestina e clássicos como Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

PIAUÍ
• A arte santeira ganha relevância nas mãos de Expedito, Cornélio, Kim e Paquinha – todos de Teresina. Esculpindo imagens sagradas na madeira, cada um tem sua particularidade. As obras estão em igrejas e acervos de grandes colecionadores.
• Ribamar Santinha se diferencia ao esculpir santos longilíneos no cedro, pintados com tinta látex e acrílica de cores vivas e inspiradas em Oxumaré, a divindade do arco- -íris no candomblé.
• Orientados por Marcelo Rosenbaum, os artesãos de Várzea Queimada criam belos cestos com palha de carnaúba. A borracha vira joias que remetem à paisagem e vegetação locais.
• As artesãs da Associação Artesanal Xique-Xique, em Pedro II, tecem colchas, redes e jogos americanos. Resgatam tradições locais e pontos típicos da região, como o “olho-de-pombo”, o “tapeueuirana” e o “catado”.
SERGIPE
• Natural de Nossa Senhora da Glória, Cícero Alves dos Santos, o Véio, esculpe figuras com ar androide usando troncos que encontra na beira do rio.
NORTE

ACRE
• Maqueson Pereira da Silva de Cruzeiro do Sul, se inspira na exuberância da Amazônia para criar bolsas e caixas de refinada marchetaria, a partir de restos de madeiras derrubadas pelas madeireiras.

AMAZONAS
• O Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos produz vasos, luminárias e bandejas de fibra da piaçava. Confira tanto as peças tradicionais quanto as feitas em parceria com o designer Sérgio J. Matos.
JEFF ARES, COLUNISTA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DA VOGUE
• A Associação Uirapuru Arte Rio Negro e outros artesãos de São Gabriel da Cachoeira, como Gilda Barreto, trançam a fibra do tucum para confeccionar fruteiras e vasos inspirados nas folhas da floresta, com orientação de Sérgio J. Matos.
• O grupo Teçume – formado por mulheres caboclas e indígenas de Santa Isabel, no rio Tupana – trança o cipó ambé para dar vida a bowls feitos em parceria com a designer Luly Vianna, da Saissu.

PARÁ
• Os sousplats da Poloprobio, de Nova Olinda, são feitos com borracha produzida com látex e folhas – técnica artesanal criada em seringais nativos.
• A Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta, em Santarém, elabora bela cestaria a partir do trançado de fibra de tucumã e pigmentos naturais da floresta.
• A Cerâmica Icoaraciense, do Distrito de Icoaraci, em Belém, nasce com inspiração nas formas e nos grafismos da arte indígena marajoara. Vale destacar os artesãos Rosemiro Pereira e Sinéia Hosana.

• O povo indígena paiter surui é reconhecido pelo primor técnico. Fazem cerâmicas com espessuras finas, texturas lisas e sem grafismos: a maior preocupação é com a forma.
TOCANTINS
• As artesãs da Associação Capim Dourado, de Mumbuca, produzem cestaria valorizando o capim-dourado.
SUDESTE

ESPÍRITO SANTO
• As famosas panelas de barro preto são fabricadas em Guarapari e Goiabeiras. A coloração negra aparece quando as artesãs despejam um caldo feito da casca da árvore mangue-vermelho.

MINAS GERAIS
• Izabel Mendes (1924- -2014) estendeu a fama do Vale do Jequitinhonha graças às suas bonecas de cerâmica policromada. Foi a primeira a retratar uma mãe amamentando e esculpir os olhos em vez de pintá-los.
• Zezinha modela no barro e pinta com minerais noivas, mães e mulheres de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha
• Filho de G.T.O., Mario Teles é um dos mais importantes escultores da madeira. Nascido em Divinópolis, ele segue o caminho do pai, criando Rodas da Vida – figuras humanas que se repetem e se encaixam numa única peça – e inova com cenas folclóricas e de musicais mineiros.
• Artesãs do Polo Têxtil de Veredas criam mantas, jogos americanos e caminhos de mesa tingidos naturalmente. O algodão usado é plantado e colhido por elas.
• Membros da Associação dos Artesãos de Capitão Eneas, em Sepé, usam a fibra de bananeira e a madeira para criar frutas e vegetais – pense em jacas e abóboras – em tamanho e com texturas reais.
JOSIANE MASSON, DIRETORA EXECUTIVA DA ARTESOL E DA LOJA ARTIZ
RIO DE JANEIRO
• Francisco Moraes da Silva, o Chico Tabibuia, ficou conhecido pelas esculturas eróticas que representam Exu, confeccionadas com troncos de tabibuia. Ele também fez móveis rústicos.

SÃO PAULO
• As Porcelanas de Monte Sião, no interior paulista, são famosas desde os anos 1960 pela alta qualidade: são peças em azul e branco, como as louças portuguesas.
• Os artesãos da Associação Jovens da Jureia, em Iguape, esculpem peixes e flores tropicais na ponta de colheres, facas e espátulas de madeira.
SUL

RIO GRANDE DO SUL
• Favos do Sul, em São Borja, concentra um grupo de artesãs que fazem almofadas, capas de edredom, colchas e cortinas a partir do bordado casa de abelha, desenho típico das bombachas do homem do campo. As texturas e efeitos gráficos dão destaque às peças.
ONDE ENCONTRAR
MACEIÓ
Galeria Karandash karandash.com.br
MANAUS
Galeria Amazônica galeriamazonica.org.br
OLINDA
Sobrado 7 Arte e Artesanato R. Prudente de Morais, 262, tel. (81) 3429-1009.
SÃO PAULO
Artiz artesol.org.br
Dpot Objeto dpot.com.br
Museu A CASA acasa.org.br