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Esculturas com boa dose de lirismo

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  (Foto: Hauser & Wirth )

"Trata-se de um material desafiador, pois é muito delicado e, ao mesmo tempo, extremamente resistente. Afinal, a idade de uma civilização pode ser identificada pelas peças de cerâmica que produzia”, diz a cubana Juana Valdes sobre a instalação In the Fold. Retratar a mulher e sua força no ambiente doméstico: esta era sua ideia ao fazer as esculturas de bone china – se a porcelana é um tipo de cerâmica que aparenta ser mais frágil pela textura fina e translúcida, mas é bastante dura, a bone china é ainda mais forte pelas cinzas de ossos em sua composição. “O valor da mulher em Cuba está associado à limpeza, trabalho útil que ajuda a ganhar força na sociedade. Mas esse também pode ser um gesto bastante feminino e sensual. Eu quis mostrar a poesia do pano pendurado depois da faxina”, afirma a artista.

Ela escolheu cores que representam os diferentes tons de pele das cubanas e, para aprender a adicionar as porcentagens certas de tinta à porcelana sem quebrá-las, fez residência no The European Ceramic Work Centre –EKWC, centro na Holanda que recebe artistas, designers e arquitetos para ensiná-los a manipular essa matéria-prima e incentivá-los a subverter a visão tradicional ligada aos utensílios de mesa e aos vasos.

Outro mestre em revolucionar a percepção da cerâmica é o brasileiro Laerte Ramos. Ele criou instalações como Arma Branca e Lastlândia, para as quais fez esculturas de revólveres, machados, facas e soco-inglês, em um jogo entre formas que representam a violência versus a fragilidade do material. No segundo semestre, lançará uma linha de seis esculturas com a Vista Alegre baseada na série Acesso Negado: objetos reconhecíveis deformados por eventuais protuberâncias pontiagudas.

  (Foto: Stefan Altenburger Photography Zürich / cortesia)

“Neles, a pele é sedutora e convida ao toque, mas é, ao mesmo tempo, reativa por conta dos ressaltos”, esclarece o artista, que acredita não só no efeito hipnotizante da cerâmica esmaltada, mas também nas possibilidades de “camuflagem” do material. Não à toa, explora o hiper-realismo no projeto 50% off, para o qual esculpiu tênis que enganam os olhos: a textura final fica similar à do couro. “Não sigo a tradição da cerâmica, pois limitaria minha criatividade. Esse é o papel da arte contemporânea: se apropriar de materiais já conhecidos e rompê-los de alguma maneira.”

O peruano David Zink Yi assina embaixo inovando em obras como a escultura de lula-gigante Untitled (Architeuthis) exibida na última Bienal do Mercosul. Na mostra, era possível ficar a 5 cm da obra, e todos juravam que se tratava de borracha, mas era cerâmica. Em Cephalopod III, ele optou pelo efeito metálico para o animal marinho. “O que me atrai na cerâmica é sua dinâmica de transformação, dependendo das misturas e acabamentos. A obra apresentada na Bienal era muito grande e, por isso, precisei fazê-la na Holanda, único lugar onde encontrei fornos e o suporte técnico necessário”, conta o artista sobre a escultura de cerca de 300 kg. As lulas-gigantes tornaram-se protagonistas, aqui, por serem animais com lugar especial nas fábulas sobre a impotência humana – mas só são vistos quando chegam doentes à costa para morrer. David questiona: não seriam, na verdade, histórias de terror com uma dose de romantismo e solidão?

* Matéria publicada em Casa Vogue #341 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

  (Foto: divulgação)

 

  (Foto: divulgação)

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