A alfaiataria – smokings e paletós perfeitamente ajustados ao corpo – deu o tom à coleção outono-inverno 2013/2014 da Dsquared2, de Dean e Dan Caten, assim como dá o tom ao Ceresio 7, restaurante que os gêmeos abriram na cobertura com piscina de sua sede, em Milão. Do veludo azul que recobre as cadeiras aos detalhes desenhados sob medida, o espaço foi fatto a mano pelos designers Britt Moran e Emiliano Salci, do milanês Dimore Studio. Os quatro se conheceram na inauguração da loja da Dsquared2 de Paris, em 2011. Desde então, brotaram parcerias – Moran e Salci organizaram lançamentos de perfumes Dsquared2 em Milão, por exemplo.
Como estilistas que desdobram coleções inteiras a partir de um personagem, o duo de designers se inspirou na Itália fascista dos anos 1930 e no edifício em si para escolher a cartela de cores e as linhas do mobiliário. “Pesquisamos muito aquela época: Le Corbusier, Eileen Gray e Charlotte Perriand”, diz Moran. No resultado, vê-se o típico modo Dimore (leia-se incomum) de casar os tons. Mesas de tampo laqueado vermelho-antigo contrastam com paredes cinza-azuladas.
Outra assinatura Dimore é o uso do latão. “É um jeito fantástico de dar um ar luxuoso ao lugar sem que pareça ostentação”, explica Moran. Ao longo da parede do salão retangular há sofás de couro, cujos encostos são arrematados com o metal. No bar, uma mesinha com pernas finas do mesmo material – desenhada pela dupla – faz par com poltronas estofadas de lã grafite.O latão aparece até no candelabro de círculos interligados que enfeita o bar – se é que se pode chamar assim esse imenso objet-d’art, o mais impressionante de vários detalhes criados especialmente para o elegante espaço pelo duo. Eles também são autores das estreitas luminárias sobre as mesas e o aparador baixo com portas laqueadas azuis. O efeito é algo “anos 30 contemporâneo”, como define Moran.
À primeira vista, a cozinha do Ceresio 7 parece ir na contramão dessa contemporaneidade. No menu, clássicos italianos como spaghetti al pomodoro, linguini alla matriciana e cotoletta di vitello alla milanese. Entretanto, o aparente despojamento esconde mais uma instância da “alta-costura”. De manhã cedinho, o chef Elio Sironi (ex-Hotel Bulgari), usando o calor brando que restou da noite anterior, assa pães e verduras docemente em seu forno a lenha. Ele transfere o carvão que sobra para sua grelha, onde prepara finíssimas iguarias, como filés de atum bluefin pescado com anzol. Sironi prega o retorno às raízes. “Tem-se usado tecnologia demais na cozinha”, diz. “Prefiro a simplicidade do fogo, elemento tão antigo como atual.”
A voluntária restrição que se vê no salão do restaurante – cores sóbrias, linhas anos 1930, nenhuma estamparia – repete-se no menu, em que a ausência de rococós e invencionices permite que os ingredientes de qualidade falem mais alto. O Ceresio 7 é prova de que, como diz o ditado, less is more.
Ceresio 7 – Via Ceresio, 7, Milão, Itália.
Britt Moran e Emiliano Salci em quatro tempos
A dupla do Dimore Studio fala à Casa Vogue sobre a vida em Milão e como decorar restaurantes.
Na opinião de Dan Caten, da Dsquared2, “Milão é chata, a gente não tem onde ir”. Vocês concordam?
Em parte, sim, você acaba indo sempre aos mesmos restaurantes.
Terá sido coincidência um duo de estilistas chamar um duo de designers para idealizar seu primeiro restaurante?
Sei lá, talvez homens se dêem melhor? [risos]. Nós tivemos as principais ideias, mas eles deram seu input também. Éramos contra a vontade deles de instalar cortinas, por exemplo, mas quando vimos o resultado concordamos que ficou mais aconchegante.
Estilistas costumam criar roupas com uma cliente em mente. E vocês? Inspiraram-se em um perfil de pessoa para conceber os ambientes?
Não. Nosso ponto de referência foi o prédio em si, que é dos anos 1930. Achamos importante sermos fiéis à arquitetura, de forma que a pessoa entre no espaço e enxergue esse link.
Qual é a característica mais importante a considerar ao desenhar um restaurante?
Quando saímos para jantar, queremos nos sentir confortáveis do começo ao fim da refeição e também esquecermos de certas coisas do cotidiano. Por isso, tentamos criar um mundo diferente, para que as pessoas se vejam transportadas. O próprio edifício já ajuda, pela vasta entrada. Na cobertura, a luz baixa e o jogo de cores garantem uma experiência incrível.
* Matéria publicada em Casa Vogue #343 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)