A minutos da badalação de South Beach, às margens de Biscayne Bay, esta mansão da década de 1930 pertenceu, em outros tempos, ao gângster Al Capone. “Na realidade, ele nunca morou aqui. Capone tinha vários investimentos na Flórida, este era um deles”, explica o arquiteto, designer e artista conceitual venezuelano Luis Pons, que adquiriu a residência em 2004, com o arquiteto David M. Schwarz, na época, seu parceiro e sócio. Ironicamente, Pons, estabelecido em Miami desde 2002, foi depois contratado para reformar uma casa em Palm Island, na mesma baía, onde o mafioso viveu de 1928 a 1947, vendida em junho último por US$ 7 milhões com alarde no mercado local.
Enaltecer a vista do pôr do sol, com a cidade ao fundo; a proximidade da água; a privacidade dos 2.800 m² do terreno; e a arquitetura original com ares hispano-mediterrâneos foram os pontos que nortearam a reforma a quatro mãos do imóvel de 1.500 m² na North Bay Road, em Nautilus Island. A empreitada de um ano teve a força-tarefa dividida: a reforma arquitetônica ficou com Schwarz e o interior e o paisagismo a cargo de Pons. No jardim, foram plantadas palmeiras, para poupar a intimidade dos barcos que navegam na baía, e criadas áreas de sombra, como a da frondosa figueira que resguarda a entrada da residência. Além de restaurar a arquitetura ao estilo em voga na Flórida nos anos 1930, a obra concedeu luminosidade aos antes escuros ambientes sociais, agora abertos para o terraço de pedra coral e a piscina hollywoodiana, herança do último morador.
As 12 suítes se distribuem nos dois pisos e em um bangalô no jardim: “Esta configuração reduz a sensação de exagero”, explica Pons, que curte hospedar amigos e artistas de passagem por Miami e oferece, anualmente, um disputado brunch durante a Art Basel Miami Beach. Sua filha de 17 anos, a bonita Lulu Pons (uma celebridade do Vine, espécie de Instagram em vídeo que está causando furor), usa a mansão para suas festas, mas nem ela nem sua irmã menor residem lá. No momento, Pons vive com Sissi, o cão das meninas, e hospeda o chef José Mejia, “um expert em gastronomia italiana que cria pratos fantásticos nas nossas reuniões”. Segundo ele, Mejia já cozinhou para o presidente Obama, Jennifer Lopez, Giorgio Armani e Ricky Martin, apenas.
Filho de um arquiteto modernista e uma galerista de design escandinavo, Pons teve sua paixão pelo colecionismo impulsionada por esta casa, que abriga obras de arte latino-americana, com direito a brasileiros como Rosangela Rennó, Valeska Soares, Iran do Espírito Santo e Vik Muniz. Fruto de garimpos, viagens e de seu entusiasmo pelas manifestações criativas, o décor reúne peças dos anos 1940 à produção contemporânea, incluindo protótipos de jovens artistas e de sua autoria. Entre as preciosidades vintage destacam-se o desenho dos americanos George Nakashima e Florence Knoll, dos dinamarqueses Peter Hvidt, Orla Mølgaard Nielsen e Kofod Larsen, dos italianos Carlo Scarpa e Gio Ponti, além de criações de expoentes do cenário atual, como o holandês Tejo Remy e nossos irmãos Campana. Resume Pons sobre o éden que criou para si em Miami Beach: “Vejo o mundo de forma holística e os objetos como parte de um projeto integrado a essa identidade”.
* Matéria publicada em Casa Vogue #342 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)