O apartamento de Alan Wanzenberg, em Nova York, foi mobiliado e decorado sob a premissa da ilha deserta, como ele mesmo denomina. “Se você não pudesse carregar muitas coisas com você, o que seria mais importante?” Assim, o renomado arquiteto e designer montou sua nova morada, aos 62 anos, deixando para trás muito daquilo que construiu sua personalidade, seu reconhecimento profissional e, mais importante, suas memórias.
Quem simplesmente vê seu lar, talvez não diga sobre a jornada que ele percorreu – Journey, inclusive, é o nome do livro que lançou recentemente sobre sua carreira e influências. Nos anos 1980, Wanzenberg e seu parceiro de vida e de trabalho revigoraram, nos Estados Unidos, o conceito de Arts and Crafts, um movimento que valorizava o artesanato como forma de escapar da recente padronização dos móveis e quaisquer outros produtos industrializados.
A união de Wanzenberg, um arquiteto formado em Harvard, com Jed Johnson, uma das crias do estúdio de arte The Factory, de ninguém menos que Andy Wahrol, foi explosiva. Juntos, deram forma às residências de toda a nata do mundo artístico da época, dentre nomes como Richard Gere, Mick Jagger e Jerry Hall. Mas nenhum lugar representava melhor o estilo criado pela dupla que o próprio apartamento, comprado quando se preparavam para sair dos vinte anos. Era um estúdio que abrigava um caos formado por uma coleção de peças dos melhores designers da época, mixados de maneira ousada e harmônica ao mesmo tempo.
Quando Jonhson faleceu em um acidente de avião, em 1996, ambos estavam em meados dos seus quarenta anos e no ápice de suas carreiras. Foram necessários seis anos para que Wanzenberg conseguisse superar a perda e começar um novo relacionamento. Mais dez anos se passaram para que ele conseguisse deixar para trás todas aquelas memórias, em forma de mobília e obras de arte. Vendeu o apartamento por mais de US$ 4 milhões, com boa parte dos itens dentro.
Para sua nova habitação, bem menor que a primeira, ele só levou aquilo que era importante. Os livros são uma boa alegoria para representar o processo. Só levou consigo aqueles que gostaria reler de verdade (e os que nunca lera e queria dar uma nova chance). Das pinturas e móveis, só restaram os mais valiosos – emocionalmente falando.
Assim Wanzenberg passou a viver no novo apartamento junto com Skip, seu filhote de dachshund, e a simplicidade. “A habilidade de desapegar me custou 16 anos para ser construída”, conta. De uma forma ou de outra, agora o arquiteto e designer ganhou algo que nunca teve. “No meu antigo apartamento, lugar onde eu até perdia o senso de tempo – o que foi bom para meu período de recuperação – mal havia iluminação natural”, relembra. “Agora eu tenho uma bela vista”, conclui, otimista.