Nos anos 1980, eles desfilavam pelo East Village, em Nova York, como dândis do século 21, em fraques bem cortados, cartola e colarinhos engomados. Na arte, produziam suas obras à moda antiga e demonstravam sua reverência à decoração de épocas anteriores de forma extrema.
David McDermott, 61, e Peter McGough, 54 - também conhecidos por McDermott&McGough – vivem literalmente no passado, inclusive no que diz respeito à morada e seu funcionamento, a ponto de McDermott, o mais radical da dupla, ter o costume de arrancar fora instalações modernas, como iluminação, encanamento e calefação, até mesmo de apartamentos alugados. Para ele, morar em uma casa do século 19 é uma experiência que exige móveis, objetos e papéis de parede da mesma época, e que tudo seja apreciado com os mesmos recursos disponíveis de então, ou seja, a luz de velas.
A excentricidade da dupla se encaixava bem em seu bairro, o caldeirão cultural polimórfico que foi cenário artístico do East Village no início dos anos 1980. Trinta anos depois, eles não são mais um casal e têm o Oceano Atlântico entre eles (desde os anos 1990, McDermott mora na Irlanda), mas ainda trabalham juntos, revezando-se em experiências de pintura, fotografia e cinema.
A obsessão por épocas antigas diz muito sobre quem é David McDermott. "Quando ele era adolescente, optou por não viver no presente. Nossa casa não possuia decoração, mas sim experiências de instalação e imersão. Quem pode dizer que, se você estivesse sentado em nossa casa do século 18, não teria sido transportado para essa época?”, conta McGough.
Atualmente ele mora em Nova York, em um prédio dos anos 1930 no West Village, decorado com objetos da mesma época. A cozinha, o único cômodo que não segue o estilo do restante do apartamento, fica escondida atrás de uma cortina. "McDermott queria que a destruíssem”, revela McGough. "É meu primeiro apartamento em muito tempo. Gastei uma fortuna na decoração”, diz. “É muito caro viver no passado”.
A aquisição do imóvel se deu após uma crise pessoal e criativa do morador. Após alguns anos na Irlanda, ele estava de volta a Nova York sem o parceiro e cansado do trabalho. “Não queria mais fazer o que vinha fazendo. Queria poder mudar a linha do tempo. Voltei à minha infância, quando podia assistir filmes antigos obsessivamente”, conta. Para ele, a promessa dos filmes era uma fuga da banalidade e a prisão do subúrbio, um reflexo do trabalho atual da dupla, pinturas sobre o momento de uma atriz de cinema. “Ela vai matar o marido ou fugir dele? Penso em todas as minhas decisões, boas ou más, e para onde me levaram”, diz.
A revitalização da carreira trouxe um alerta. “Estamos fazendo sucesso e isso me fez querer ter um apartamento de verdade, não mais viver em um estúdio. Fiquei louco para decorar – olha esse papel de parede!”, empolga-se, apontando para o hall de entrada. Para ele, “um papel de parede pode mudar a vida de uma pessoa”, diz.