Ao entrar na casa de Tracy Martin e Vince Clarke, a primeira constatação que se faz é que os moradores dali não podem ter uma história comum. O lugar, todo decorado como se tivesse sido congelado no tempo um século atrás, tem em meio à sua elegância clássica ornamentos bizarros, como quadros feitos de cabelo e ilustrações científicas de anomalias humanas. Não é à toa que o casarão no Brooklyn foi escolhido como locação para a festa que levantaria fundos para a nova empreitada de Tracy. The Morbid Anatomy Museum, que abriu as portas em maio deste ano, é um museu dedicado à taxidermia vitoriana, ilustrações de patologias médicas, insetos preservados e uma seleção de outras “curiosidades”.
Ao conhecer a história do casal mais a fundo, fica claro que uma vida banal jamais poderia fazer parte do dia a dia deles. Tracy e sua irmã gêmea Tonya trazem o gosto pelo mórbido desde o berço. As duas nasceram em uma família dona de uma funerária e tinham como rotina acompanhar a avó, semanalmente, em seu passeio favorito: comparecer a velórios e enterros. Depois que cresceram, mudaram-se para Nova York em busca do sucesso no mundo da música. Mas acabaram encontrando os amores de suas vidas. Tonya casou-se com Michael Pagnotta, o dono da companhia que lançou bandas como Erasure, Depeche Mode, Morrissey, George Michael, Prince, The Cure e as gêmeas Olsen. Já Tracy acabou se apaixonando por Clarke, responsável por nada menos que produzir hits como I Just Can’t Get Enough, do Depeche Mode. Vinte anos depois, os quatro vivem palpitando nos negócios uns dos outros, entre música, filmes, livros e agora um museu.
Quando Tracy viu que aquela casa de pedra do Brooklyn estava à venda, soube de imediato que gostaria de viver ali até seu último dia. Mas a residência era propriedade de Jenna Lyons, diretora criativa da loja de moda J. Crew e agora atriz do seriado Girls, da HBO. Depois de vencer o leilão pelo lugar, pagando US$ 4 milhões - US$ 250 mil a mais que o valor inicial – havia outra guerra a ser conquistada. Era preciso espantar de uma vez por todas o legado visual deixado pela antiga moradora fashionista, com toda a claridade e suas papoulas na janela.
Foi então que contrataram os designers de interiores Robin Standefer e Stephen Alesch, do escritório Roman and Williams, para dar ao lugar um necessário toque final. A dupla, inicialmente especializada em sets de filmagens, ficou famosa por seus interiores com um mood obscuro. E foi assim que a casa ganhou o ar maximalista e feminino que Tracy queria. Tons escuros, móveis vintage garimpados em todas as partes do mundo, o contraste do couro com papéis de parede bordados e o clima do início do século 20 finalmente transformaram a construção em um lar.