Quem passa na frente do Palácio Gustavo Capanema, um marco da arquitetura modernista do Rio de Janeiro, talvez não note uma contradição que o artista Laercio Redondo levantou. Apesar de ter sido projetado por nomes como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, sob a consultoria de Le Corbusier – e ainda com a colaboração de vários artistas plásticos – o edifício foi concebido na época da ditadura Vargas. Assim, a obra que deveria representar um sistema baseado em valores democráticos, acabou incorporando, ao mesmo tempo, a visão de nação moderna do regime.
É como uma reflexão sobre a memória que Redondo abre sua exposição Fachada,
Na Galeria Silvia Cintra + box 4. Usando quatro elementos principais – um filme, uma frase fundida em bronze, um cartão postal dos anos 1950 em versão gigante e um conjunto de dispositivos para parede – o artista provoca no público a mesma inquietação que o acometeu.
O vídeo mostra uma tomada vertical feita por um drone que sobe do pilotis e vai até o céu, revelando o cenário carioca ao redor. Já a frase de metal, de Le Corbusier, remonta a 1936, ano em que visitou a cidade: “Na Realidade, o Rio de Janeiro ainda não existe”.
Entre o passado de bronze e o presente audiovisual, ficam os dispositivos. No verso da tela, Redondo imprimiu reproduções de imagens históricas do Palácio na época de sua construção. Ao lado, molduras monocromáticas chamam o espectador a pensar a história do edifício.
Além disso, a mostra ainda traz uma seleção de fotos atuais tiradas por Redondo que justapõem vários detalhes do lugar para evocar o legado de ideologias contraditórias dali. Ao sobrepor diferentes temporalidades e vários elementos, a exposição busca reativar a visão geral sobre a história da política e a complexidade da memória histórica e suas ambiguidades.
Laercio Redondo: Fachada
Data: até 21 de junho
Local: Galeria Silvia Cintra + Box 4
Endereço: Rua das Acácias, 104, Gávea - Rio de Janeiro