Além de serem o meio de comunicação predominante em uma época, as cartas carregavam em seus corpos algo a mais. Os correios também serviam como plataforma para que artistas de todo o globo, no centro ou nas margens do sistema das artes, trocassem trabalhos e referências. Batizado de arte postal, o movimento global nasceu no final dos anos 1950 e sobrevive ainda hoje, num mundo onde a internet praticamente extinguiu a correspondência pessoal do papel.
Na exposição Batalhão de Telegrafistas, na Galeria Jaqueline Martins, os curadores Tobi Maier e Fernando Oliva reuniram uma seleção de obras de artistas brasileiros que participaram ativamente dessas redes de troca. No entanto, a mostra também traz algumas versões contemporâneas. É o caso do norte-americano Ze Frank, que incorpora novas tecnologias para produzir um vídeo em que interpreta um e-mail enviado em massa.
Mas a manifestação artística não se resume a simplesmente enviar peças pelo correio. "Ela é a própria mídia, suporte e, em alguns casos, também co-autor do que se cria", contam os curadores. Um bom exemplo é Pinturas postais, de Karin Sander, em que as marcas oficiais dos correios em seus deslocamentos pelo mundo atribuem novos significados.
A arte postal representou uma das tentativas mais ambiciosas e bem-sucedidas de encontrar uma maneira de conectar, de forma não convencional, artistas em países diferentes. No Brasil, ela amadureceu durante a ditadura militar e, por ser um contexto político carregado de tensão, também funcionava como instrumento de denúncia.
Batalhão de Telegrafistas
Data: até 16 de agosto de 2014
Local: Galeria Jaqueline Martins
Endereço: Rua. Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 74, Pinheiros, São Paulo, SP
Horário: de segunda a sexta, das 12h às 19h; sábados, das 11h às17h