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Viagem luxuosa à moda antiga

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Malas de Luxo (Foto: Cortesia Gucci / Divulgação)

“Carruagem, leva-me contigo! Navio, arranca-me daqui! Aqui, a lama é feita de nossas lágrimas”, escreveu o poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). Criador da poesia moderna, Baudelaire nunca se sentiu à vontade em sua casa e em Paris, onde nasceu e morreu. Padecia de solidão. Desejava um lugar mais quente, mais vibrante. Qualquer lugar. “Lá, tudo é ordem e beleza. Luxo, calma e volúpia”, mencionou nos versos de L’Invitation au voyage (O convite à viagem), de As Flores do Mal (Nova Fronteira). Para o crítico T. S. Eliot , o escritor foi o primeiro a revelar, no século 19, as maravilhas das viagens modernas e seus apetrechos, instituindo “a poesia das partidas, a poesia das salas de espera”.

Baudelaire não estava sozinho nessa jornada. Grifes cuja origem é ligada à produção de artigos de viagem também embarcaram no desenvolvimento do transporte marítimo, ferroviário, aéreo e rodoviário do final do século 19 e começo do século 20 para fundamentar histórias longevas relacionadas à tradição do fazer artesanal. Em 1854, em Paris, o malletier Louis Vuitton (1821-1892) deu início à sua aventura da modernidade com a criação da empresa homônima, transferida em 1859 para Asnières. “Mostre-me tua bagagem e te direi quem és”, o slogan de 1921, revela: invólucro para utilidades, segredos e paixões, a mala é um espelho do seu dono.

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

Plugada aos costumes da época, a Louis Vuitton concebeu ícones confeccionados até hoje da mesma forma que no passado. Patrick-Louis Vuitton, da quinta geração da família, disse: “O savoir-faire só pode existir se for transmitido”. Vide o Wardrobe Trunk, de 1876, talhado para os avessos a desfazer malas. Ou a Steamer Bag, de 1901, originalmente destinada a acumular roupas sujas sem travessias marítimas – hoje, um item empunhado com orgulho, a R$ 10 mil. Essa líder global lança publicações – como o livro 100 Legendary Trunks – para relembrar itens especiais, feitos sob encomenda e usados em viagens por célebres como Jeanne Lanvin, Ernest Hemingway e Damien Hirst . O que dizer da ousadia da mala-cama, do baú-biblioteca, do baú-chuveiro?

Também atento ao lifestyle (e às bagagens) da upper class em Londres, onde, no Savoy Hotel, trabalhou como ascensorista, o italiano Guccio Gucci (1881-1953) retornou à sua Florença natal – conhecida por seus artesãos hábeis em trabalhar com o couro – para, em 1921, fundar a G. Gucci, Articles for Travel, Florence. O nome em inglês antecipava o desejo de romper fronteiras. Com seus “GGs” invertidos no logo, a Gucci, que ainda cunhou a estampa Diamante em malas e bolsas, sempre foi associada ao jet set: de Peter Sellers a Veruschka, de movimentados aeroportos internacionais à pista de dança do Studio 54, da via Montenapoleone ao red carpet de Hollywood. Roberto Paz, presidente da grife na América Latina, afirma: “Assim como os demais produtos da Gucci, o universo da viagem tem até hoje grande importância, não apenas histórica, mas também comercial para a marca”.

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

Outra italiana digna de honrarias é a Prada. Muito antes de Miuccia Prada realizar façanhas com o náilon nos anos 1980, a loja aberta por seu avô, Mario, em 1913, na Galleria Vittorio Emanuele, em Milão, foi “o” endereço dos artigos nobres de viagem. Expertise que levou a marca a evocar o glam dos anos 1920 no figurino do longa O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, ao produzir as malas da personagem Madame D., interpretada por Tilda Swinton. Igualmente estelares são as francesas Goyard, de 1845, uma família que eternizou a sequência de “Ys” nos canvas desejados por duques e duquesas, por Karl Lagerfeld e Alain Ducasse, e a Hermès, fundada em 1837 com foco em selaria e desde sempre autora de peças inspiradoras, como a caixa-escrivaninha, de Philippe Nigro. Fechada, é como um trunk – pode ser levada para lá e para cá.

Baudelaire, em seus baús, só não conseguiu carregar o antídoto para o desgosto. Sofreu reveses no frustrado percurso à Índia e só chegou às tropicais Ilhas Maurício. De volta à França, relatou em A Viagem: “E, apesar do naufrágio em borrascas hediondas, o tédio, como aqui, nos cinge em suas teias”. Já que ninguém está livre do tédio, que seja in style: na companhia de uma bela mala.

* Matéria publicada em Casa Vogue #348 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

Malas de Luxo (Foto: divulgação)

 

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