Dizem que as primeiras inspirações do que seria um tecido começaram antes mesmo do uso das peles de animais. Teria sido a partir das tramas formadas pelas teias de aranhas ou ninhos de pássaros, quando o homem ainda nem era o que chamamos hoje de homem. Pode começar assim uma conversa com a publicitária Tatiana Gabriel, uma das criadoras da marca de tecidos JRJ. E depois, falando sobre linho, fibras naturais, sustentabilidade, desenhos artísticos para crianças e materiais que realmente carregam história. Fica claro que os tecidos que passam por ali têm algo de orgânico, num desenvolvimento natural que tornam mais harmoniosos. Os quartos, as salas, paredes e mobiliários que revestem.
Tatiana e a irmã, Mariana, têm gerações de indústria têxtil na bagagem. Ainda muito jovens decidiram abrir o próprio negócio. “Quando criamos a JRJ queríamos ir para o mercado de decoração, mas não como uma empresa de revenda. Somos uma empresa de transformação de um tecido básico em algo totalmente exclusivo e especial. Quando os outros estão terminando, nós estamos começando o processo de transformar, lavar, criar”, diz Tatiana.
A dupla é defensora das fibras naturais. Dos 20 anos da empresa, 17 foram dedicados exclusivamente a elas. Até por isso, é a marca com maior variedade em linho 100% natural do mercado, todos com acabamentos exclusivos. Entre eles está a impermeabilização, a película antichama e o inovador Washed, que permite lavar as peças sem que elas encolham. “Se você pode bater uma calça na máquina e ela não vai encolher, o mesmo tem de valer para uma capa de sofá. É um conceito que interfere em estética, praticidade e bem-estar.
”Apesar de sua predileção, ouviram os pedidos dos clientes que procuravam fibras sintéticas e há três anos a dupla se rendeu, mas só quando a indústria têxtil desenvolveu materiais com qualidade e textura melhores. Atualmente, as linhas que usam fibra sintética representam 20% do mercado da marca. “É mais barata, mais procurada especialmente para uso corporativo, mas não apenas. O tecido é a última coisa que entra numa obra e, às vezes, o cliente já está mais apertado e quer economizar.” Também é uma questão de gosto e a influência regional conta bastante. Em São Paulo e Rio, as fibras naturais imperam. No Sul, ambas são aceitas. O mesmo acontece com os bordados, que evocam luxo e exclusividade no Sudeste, mas não têm o mesmo efeito no Nordeste.
As irmãs foram as primeiras da família a desbravar o universo da decoração, mas levam a moda no DNA. “Se as pessoas usam jeans lavado, linho, por que esses tecidos não podem ser usados na decoração? Se você pode se vestir com eles, você pode vestir a sua casa. A mesma lavagem que os tecidos passam para chegarem aos cabides, começou a ser aplicada para envolver uma poltrona. A JRJ lançou a lã de alfaiataria, quase a mesma dos ternos, e usou para decoração. Só não digo que é pegar o mesmo tecido e botar no sofá porque não duraria seis meses. Mas o conceito é o mesmo.”
MATERIAIS COM HISTÓRIA
Se todos os tecidos da JRJ têm história, a Lona BR100 é a melhor prova disso. Há cerca de dez anos, o boné feito de lona de caminhão que um americano usava deu o start em um produto superexclusivo. Durante três anos, as irmãs pesquisaram como incorporar o tecido para a decoração. A primeira dificuldade era, justamente, criar a cadeia de produção envolvendo os caminhoneiros.“É o produto mais brasileiro que pode existir”, diz Tatiana. Aqui, todo o transporte agrícola é rodoviário e, para não abafar a carga, a cobertura precisa ser 100% algodão. Como o material é caro, os caminhoneiros ficam o máximo de tempo possível com a mesma lona e os rasgos causados por ventos ou pelo próprio uso são remendados na estrada. Elas são usadas por 3, 4 anos e depois viram lixo. A JRJ passou a comprar a lona que seria descartada.
A cor depende de uma série de fatores: quanto de sol ou chuva recebe, se a estrada é de terra ou asfalto e o próprio conteúdo levado pelo caminhão – que, às vezes, pode ser carvão! A lona chega completamente contaminada e imunda e depois de lavada e desinfetada exaustivamente, gera três cores: esbranquiçada, amarelada ou acinzentada. Essas são as originais, mas a JRJ também tinge, faz tye-dye e até bordados no material.
Explicar ao cliente o valor que cada um desses produtos pode ter, não foi tarefa fácil. Quem compreendeu imediatamente a bagagem emocional e de sustentabilidade das lonas foram os americanos, em especial designers de Nova York, tornando-as o principal produto de exportação da marca. Aos poucos, brasileiros foram valorizando a resistência, beleza e história do material que pode ser usado no revestimento de móveis, paredes e acessórios – e já foi adotado até pela Converse na fabricação de uma linha especial da All Star. O cliente que prefere uma versão sem passado também encontra. “É uma decisão 100% emocional. Quero um produto com história? Valorizo a sustentabilidade?”, questiona Tatiana.
Com o sucesso da ideia, a JRJ se abriu para novos e inusitados tecidos e algum tempo depois lançou a linha Sac de Café feita, justamente, com a mesma juta que serve ao transporte dos grãos. Plantada no Pará, a juta é por si só sustentável por ser uma fibra biodegradável. Depois de receber acabamentos na empresa, ela vai para a decoração. Em agosto, a marca renova a linha aplicando incríveis esboços de desenhos campestres da artista plástica paulista Tarsila do Amaral.
MAIS QUE CRIAR, TRANSFORMAR
A JRJ é conhecida no mercado por conseguir uma variedade de tecidos imensa. “Investimos em tramas, texturas, lavagens… Nosso carro-chefe é isso – perseguimos o diferencial de cada produto”, diz Tatiana.
O conceito que transforma cada material em peça única acontece de maneira orgânica e consciente. Ele está na estampa bordada à mão por bordadeiras que personalizam os desenhos e no couro, que não sofre intervenções químicas e envelhece naturalmente. “A gente diz que o couro fica curtindo, como vinho ou queijo.” O resultado de todo esse cuidado é sempre o mesmo: exclusividade.
A estamparia segue o mesmo conceito e caminha de encontro a parcerias inusitadas e criativas, como a feita com a Farm, há quatro anos. Sentindo a necessidade de criar uma linha jovem e feminina, as irmãs procuraram a marca de moda e a ideia foi aceita de imediato, dando origem a uma associação de tremendo sucesso que rendeu desenhos alegres e coloridos feitos pelos estilistas especificamente para a linha de decoração.
Atualmente, um dos destaques, também da estamparia, é a linha Surface, idealizada por designers cariocas com a proposta de levar a natureza para dentro de casa, numa mistura de brincadeira com realidade. Imagens do mar, de madeira, de vegetação e, paradoxalmente, de concreto são trabalhadas em 3D e usadas em camurças aveludadas. Quando as pessoas se deparam com paredes revestidas de capim-santo, almofadas com ondas ou poltronas que parecem madeira, a reação imediata é passar a mão. Assim, encontram algo adoravelmente macio.
CARYBÉ E TARSILA PARA CRIANÇAS
Mas quando se fala em estampas, o xodó de Tatiana, às vésperas de colocar no mundo seu segundo filho, é a coleção infantil. Em 2011, a JRJ recebeu uma proposta ilustre: o Instituto Carybé queria que fosse criada uma linha de tecidos usando desenhos do artista baiano (embora nascido na Argentina), por ocasião dos seus 100 anos. Eram estampas adultas, com a graça, alegria e cores típicas dele. O projeto deu tão certo que uma segunda linha seria criada.
Foi quando a publicitária se deparou com as ilustrações de Carybé para o livro infantil de Jorge Amado “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”. “Assim foi dado o pontapé para nossa primeira coleção para as crianças. Entramos nesse segmento agregando cultura”, diz Tatiana. Em agosto, mais uma linha infantil com valor chega ao mercado: a fase Tarsilinha, usando ilustrações de Tarsila do Amaral como A Cuca (1924).
PROJETOS E PARCERIAS
Arquitetos e designers renomados explicam porque a variedade e qualidade dos tecidos da JRJ fazem a diferença na hora de criar e executar seus projetos.
"A JRJ sempre esteve à frente na questão de tecidos com tecnologia, laváveis, com mais durabilidade. Uma coisa que me seduziu foi o linho, que era difícil de achar para decoração e elas foram grandes disseminadoras. Sempre fui fã do material, ainda mais quando começaram a estampar. É o tecido que mais uso, adoro o toque, o caimento, acho que tem a ver com o nosso clima e com a decoração que eu faço. Tem cores lindas e o branco e o cru são campeões. Neste caso da varanda, é uma lona que também tem uma tecnologia incrível. Uso bastante a lona de caminhoneiro, adoro a cara dela. É um material que tem uma bagagem, além de fazer uso de uma coisa que ia ser descartada, é uma questão de sustentabilidade.“
Marinha Linhares, da Marina Linhares Arquitetura de Interiores
"A JRJ é uma importante parceira da Bernardes Arquitetura. Seus tecidos naturais, linhos, algodões e sedas rústicas são perfeitos para os nossos projetos. Adoramos as texturas e a variada paleta de cores, que nos proporciona inúmeras possibilidades! Nesta casa de fim de semana, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, usamos vários tecidos da JRJ – principalmente o linho pré-lavado ou estonado – nos estofados, almofadas e cortinas. O linho traz sofisticação, praticidade e conforto, fatores essenciais em nossos projetos. Viva a JRJ!”
Camila Tariki, sócia da Bernardes Arquitetura
"Eu e Eza utilizamos muitos tecidos lisos e, em especial, os linhos que servem para usos variados, desde cortinas a estofados, com muitas opções de cores e texturas. Quando pensamos em linho, já pegamos o catálogo da JRJ. Há linhos estonados, linhos naturais, e sempre trazendo um diferencial com cores exclusivas. Também gostamos das lonas, pois são ótimas para quartos de criança, paredes ou sofás, que precisam ser mais resistentes. A qualidade do material vem sempre em primeiro lugar, além disso, encontramos muita diversidade. É uma parceria, um fornecedor em quem a gente confia. Essa é a sala de convenções da Pousada Literária, em Paraty – decoração que a Eza fez ainda no escritório Jacobsen Arquitetura. Neste espaço usamos a Lona Stone nos sofás, em um tom de cinza mais claro, e nas poltronas, um cinza mais escuro. As poltronas de madeira levaram couro vermelho.”
Isabel Benoliel, sócia de Eza Viegas
"Está cada vez mais complicado encontrar tecidos de alto padrão no Brasil. Houve uma redução significativa de fornecedores. Mas nós sempre trabalhamos com a JRJ: eles funcionam bem, são muito bons e o atendimento é sempre excelente. Nossa linha de decoração não é muito colorida, exagerada, temos uma atmosfera um pouco mais masculina. Por isso, usamos especialmente o linho e o veludo. E eles resolvem isso bem, tem muita solução em termos de cores e texturas. Os linhos lavados são lindos.”
William Simonato, arquiteto da Bick Simonato
"A JRJ tem uma enorme linha de tecidos, tudo com uma superqualidade. Temos uma ótima relação com eles há muitos anos. Na minha primeira participação na Mostra Black, utilizamos um tecido incrível nas paredes, o Mimo, e esse foi um dos pontos fortes do espaço. Por ter uma largura dupla, ele fica praticamente sem emendas quando usado nessa situação. Com enorme variedade de cores que o catálogo oferece, esse é um tecido-curinga para meus projetos! A camurça da JRJ também é muito frequente em minhas escolhas porque a durabilidade e o toque são impecáveis. Esse material sempre deixa o ambiente mais aconchegante, por isso é indicada para salas de TV, por exemplo. Gosto especialmente dos tons em marrom e acinzentados.”
Dado Castello Branco, arquiteto