Parte de uma fazenda que viveu seus anos dourados em torno de uma grande sede, o pedaço de terra que coube em herança ao arquiteto René Fernandes foi o suficiente para fazê-lo feliz para sempre. O sítio em Tatuí, no interior de São Paulo, onde hoje passa os fins de semana, possuía duas construções – as cocheiras dos garanhões – e mais um monte de ipês e bauhínias, oriundos do viveiro plantado pela irmã paisagista. No mais, além de sua vontade de construir, faltava-lhe pretensão e sobravam coisas guardadas que poderiam se juntar no momento de erguer a casa dos sonhos. “Por três anos, levantei uma construção barata e de forma simples, seca”, relembra René, que fez seu projeto baseado naquilo que já tinha: janelas de demolição, como as da residência da avó, e outros restos de materiais de obras, como a caixilharia de um ambiente assinado por ele na Casa Cor. Na mesma receita de reciclagem, muitos móveis de família, tanto de casa quanto da clínica do pai médico e caçador, que lhe legou a coleção de chifres de suas presas, e inúmeros objetos utilitários ou de decoração que ia comprando para, quem sabe, um dia...
Qual o resultado dessa acumulação, durante anos, até a segunda década dos anos 2000? Um confortável refúgio de 300 m², pintado por fora de um azul-céu em seus dois andares. Há uma ampla sala com jeito de galpão coberto por telhas onduladas e termo acústicas e mais dois quartos no térreo, e apenas a suíte principal no segundo piso, onde se sente ainda mais paz para além do gramado. As velhas cocheiras, agora unidas, abrigama sala de jantar e a cozinha, com dois fogões a lenha: aquele onde é preparado um franguinho orgânico, um bom arroz e feijão e acompanhamentos pelo casal de caseiros, e outro que serve de réchaud e de lareira.
René jogou a casa para os fundos do terreno: “Voltei-a para o norte. Então, tenho o sol entrando na sala até o meio-dia. E, à noite, é a lua que a ilumina”. Do lado de fora a maior parte do tempo, “aproveitando ao máximo a luminosidade”, o anfitrião e os hóspedes curtem longos cafés da manhã na varanda e fartos passeios a pé pelas alamedas, com os cachorros, ou a cavalo, ou ainda de bicicleta. E nadam no lago, a piscina natural do lugar. No pomar estão as romãs, os figos e as mangas, e a horta produz de tudo: “É ali que faço a feira”, brinca o dono.
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Do lado de dentro, a decoração que mistura o novo e o velho acontece sem conflitos. Afinal, René não é um chic de hoje: além das peças de design e dos bons móveis e acessórios contemporâneos, ele curte uma antiguidade, o usado e o reutilizado, a herança bem guardada, os presentes dos amigos, o que é bom de qualquer época, com ou sem data, com ou sem grife. Aqui estão valendo móveis, objetos e tecidos atuais importados ou da indústria nacional. Cadeiras, bancos e assentos em geral dos anos 1950, 1960 e 1970, de Scapinelli a Zanine – e também os de hoje. Lustre de cristal de época e luminária assinada pelo alemão Ingo Maurer. Telas vintage que retratam a família e fotos de artistas amigos. Tapete arrematado em leilão, gadget de lojinha de museu e piano comprado em Família Muda-se. Chapéus arranjados por aí...
* Matéria publicada em Casa Vogue #347 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).
de cristal e móvel de contador antigo, tipo prancheta