“Minha casa não está pronta”, diz a moradora, enquanto abre a porta de entrada da residência de arquitetura moderna, levando o interlocutor a acreditar que ouviu mal o que lhe foi dito. Conforme ela apresenta os espaços, móveis e objetos – o papel de parede trazido de uma viagem, a cadeira antiga doada pela sogra, o tecido novo do sofá que ela tem estranhado e as inúmeras futuras mudanças planejadas para o décor –, o visitante conclui que não está com a audição prejudicada. Assim como o homem, que nunca está acabado, mas sempre crescendo e em transformação, esta morada paulistana também passa por constantes mudanças, acompanhando o movimento da vida dos seus donos. Tudo ali tem a mão da proprietária e a representa inteiramente. E a pessoa em questão, a banqueteira Aninha Gonzalez, tem um gostinho especial por novidade.“Nem o café da manhã eu gosto que seja o mesmo todo dia”, diz.
Dona do bufê que leva seu nome e que produz festas bacanas em São Paulo, Aninha é igualmente festeira na vida pessoal. “Essa é uma casa viva, muito usada”, conta, apontando para os fios aparentes na parede, uma gambiarra temporária feita pelo marido, o engenheiro eletrônico Roberto Gonçalves, para trazer a TV do andar superior para a sala, onde recebeu a plateia de amigos nos jogos da Copa. O espaço e os anfitriões são generosos no quesito acolhimento, o que faz os convidados para um almoço irem embora às dez da noite. “Já coloquei 500 pessoas aqui dentro numa festa”, revela Aninha, orgulhosa e cheia de bom astral.
A área da casa, localizada no bairro dos Jardins, é um retângulo de 600 m². No piso térreo, fica a espaçosa sala de estar, que agrega o jantar e termina em uma ampla varanda – ou pista de dança em dia de celebração. Em seguida vê-se o jardim, uma pequena piscina e, no fundo, uma edícula com a suíte de hóspede e um caramanchão. O principal pedido de Aninha ao arquiteto Pedro Useche, autor do projeto de reforma, foi garantir luz natural e insolação, o que foi conseguido por meio de grandes portas e paredes de vidro. Tantas que Olivia, a filha de 6 anos, volta e meia pergunta aos pais por que a casa dela não tem janelas, referindo-se às aberturas tradicionais. Também não tem corrimão a senhora escada que leva ao piso superior. Solta, possui a estrutura de concreto aparente que tão bem dialoga com os degraus de cumaru, mesma madeira das tábuas fininhas que recobrem todo o piso. As cores base da residência são justamente o marrom da madeira, presente ainda em ícones do design moderno e em antiguidades de família, o branco de algumas paredes e o cinza de muitas outras. A arquitetura reta contrasta com o décor romântico e com as peças antigas, como as camas que foram de Roberto e de sua irmã e hoje são usadas pelos filhos.
“Todo mundo tem dois lados”, aponta Aninha, que no seu trabalho gosta de misturar materiais nas mesas dos eventos, como cerâmica, cestaria e outros. “A graça é essa”, afirma. E também,como ela diz, ter zero de pretensão. “Aprendemos que menos é mais. Claro que eu gostaria de ter mais dez obras de arte, mas isso não faz diferença.”
* Matéria publicada em Casa Vogue #348 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)