Ele é superantenado. Adora o Brasil e tem o espírito cool dos cariocas. Seu cenário ideal combina areias brancas, floresta tropical e o mar em tons de turquesa do Caribe mexicano. Tulum, na Riviera Maia, é uma das moradas do alemão Claus Sendlinger, fundador e CEO do Design Hotels, um selo que reúne e atesta a qualidade de 300 hotéis independentes e únicos no mundo. Sua rotina nômade à frente do grupo inclui períodos em Berlim, onde fica a sede da empresa, e Nova York. Design, segundo sua filosofia, vai muito além da escolha de móveis e objetos ou da arquitetura. É algo que define a nova art of travel, sustentável, plena de responsabilidade social, raízes culturais e experiências únicas. Sua residência latino-americana é um reflexo de tudo isso.
Um terreno com 5 km de orla acolhe quatro cabanas rústicas, construídas de acordo com os princípios da arquitetura regional e respeitando a vegetação ao redor para acomodar a família – Claus, a mulher, Polina, e os filhos, Alec, 7 anos, e Neo, 3, que lá frequentam uma escola de ensino Montessori. Ele conheceu esta localidade em 1989 com uma turma de amigos. “Depois de viajar para lugares com campos de energia similar, como Goa e Ibiza, Tulum me intrigou”, conta. “Enquanto os outros destinos se desenvolveram ao longo dos anos, Tulum reteve sua magia. É intocado, sem grandes resorts, atraindo a classe criativa do mundo inteiro.”
As estruturas separadas, interligadas por caminhos e jardins, foram erguidas com materiais do lugar, incluindo palapa (folhas secas de palmeira, comuns na arquitetura dessa parte do México) nos telhados, madeira recuperada de destroços de tornados, grandes troncos de um pinhal próximo e pedra da praia local. “Um grande amigo, o arquiteto mexicano Rodrigo Larios, ajudou com o design e a construção”, diz. Na primeira cabana estão dois quartos e um banheiro com chuveiros interno e externo, em meio à natureza circundante. A segunda comporta uma generosa cozinha no estilo casa de fazenda. Na terceira, dois quartos de hóspede em dois andares e um banheiro, também com chuveiros dentro e fora. A quarta cabana é de praia, com vista para o mar, uma lareira aberta e churrasqueira, um dos espaços onde a família recebe os visitantes.
Da mobília aos objetos, cada detalhe do décor foi escolhido a dedo por Polina, que é fotógrafa e se propôs a criar uma estética descontraída e bem pé no chão. “Tudo o que ela garimpou, dos móveis às demais peças, foi desenvolvido por artesãos e designers locais”, conta Claus. Há camas e itens de madeira, cestos de vime, tapetes de sisal mexicano, almofadas de linho e algodão confeccionadas por bordadeiras de uma ONG, mesas de troncos de árvores, lustres com conchinhas (design de Polina) e ainda um outro, com macaquinhos de tecido, feito na escola pelos dois filhos. Um luxo roots e criativo na medida.
Hospedagem por quem entende...
Homem por trás do Design Hotels, criado há mais de 20 anos e pioneiro no conceito dos hotéis pop-up, Claus Sendlinger está sempre com o olhar voltado para o novo.
“Quando viajo a lazer, procuro experiências que extrapolem barreiras e sejam fora do comum”, disse ele nesta entrevista exclusiva à Casa Vogue.
Quais os mandamentos para um hotel tornar-se membro do Design Hotels?
Há cinco pilares fundamentais na estratégia da marca. Além de design e arquitetura impressionantes, estamos interessados nas pessoas por trás dos hotéis e sua visão, na integração com a vizinhança e na responsabilidade social corporativa.
Como seria o seu hotel dos sonhos?
Não tenho apenas um, mas diversos projetos instigantes no meu radar. O Eremito Hotel, na Umbria [na Itália], por exemplo, é um dos que mal posso esperar para vivenciar.
Há algum designer ou arquiteto que admire?
Tenho me impressionado muito com o parisiense Joseph Dirand, que fez o design do Hotel Habita Monterrey [no México]. Projetou interiores dramáticos e hipermodernos usando preto, branco e cinza e preservando a fachada dos anos 1960.
E os hotéis pop-up? Como escolhe os destinos para os projetos?
Temos um network internacional de amigos e hoteleiros e é por meio deles que as experiências temporárias de hospitalidade ganham forma. Criamos um spot no Rio durante a Copa – as pessoas que conhecemos, as festas que fizemos e a atmosfera na Club House [em Santa Teresa] foi diferente de tudo, eletrizante.
Qual o futuro dos hotéis pop-up?
A partir do momento em que algo ganha a consciência de todos, não é mais experimental. Aí é hora de olhar para a frente e começar as explorações por algo novo.
* Matéria publicada em Casa Vogue #348 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)