“Eu não vejo diferença entre os filmes de arte e os do cinema mainstream, são apenas gêneros diferentes. Tanto que já fiz ambos”, conta o videoartista Isaac Julien à Casa Vogue enquanto explica um pouco sobre sua ousada obra, que acaba de chegar ao Brasil, na galeria Nara Roesler, em São Paulo. Trata-se de Playtime, uma instalação feita para ser exibida em 7 telas diferentes, que desembarca no país em versão do diretor: um filme de 70 minutos para apenas uma tela. A sequência de imagens deslumbrantes filmadas no Reino Unido, na Islândia e em Dubai também ganhou versões fotográficas em grande escala que acompanham a mostra.
Assim como as locações, o casting escolhido por Julien para interpretar personagens altamente impactados pelas reviravoltas capitalistas – já que o dinheiro é o verdadeiro protagonista da trama – é variado e baseado em personagens da vida real. A começar por James Franco, uma estrela de Hollywood, que vive um negociador de arte que anuncia, sem ressalvas, que o mercado de arte é um grande jogo. Colin Salmon, famoso por participar de três filmes da série 007, é um banqueiro negro que toca saxofone.
Maggie Cheung, uma amiga de outros trabalhos do videoartista britânico, e que não atua mais em filmes, abre uma excessão para dar vida à uma vibrante repórter que entrevista Simon de Pury, um famoso leiloeiro de arte, que interpreta a si mesmo no filme. “Simon e Maggie nunca chegaram a se conhecer. As partes da entrevista foram gravadas completamente separadas”, revela Julien.
Já Mercedes Cabral, promissora atriz das Filipinas, foi escolhida pela internet para interpretar uma empregada que se mudou para Dubai e não tinha mais como sair do país – caso verídico inspirado em uma mulher que trabalha com o próprio Julien. Enquanto isso, Ingvar Eggert Sigurðsson, ator nacionalmente conhecido na Islândia, conta a história real do fotógrafo Thorsten Henn, que viu sua antiga casa se tornar uma “ruína moderna” após a crise de 2008 que assolou o país.
“Basicamente é um filme sobre pessoas que eu conheço rodado em lugares do mundo que contam um pouco sobre a história do dinheiro. O design modernista de Londres representa o velho capital. Dubai, assim como a cidade Esmeralda, do Mágico de Oz, é um paraíso que surgiu do nada, no meio do deserto, graças ao dinheiro. já Reykjavík é um exemplo do que acontece quando o dinheiro acaba. E o solo vulcânico e imprevisível do país se torna um ótimo símbolo ao ser comparado ao mercado financeiro”.
O artista, cujo trabalho é marcado por contestações políticas e sociais, conta que relacionar o capitalismo com o mercado de arte veio da própria experiência em sua galeria. “Todo mundo foi afetado pela crise de 2008. Na Frieze daquele ano você podia ouvir o vento soprar. Não tinha ninguém. Até hoje há negociantes que eram mestres da feira que não voltaram a expor. Como James Franco fala no filme, é tudo um jogo. Um jogo que estamos habitando. Arte e dinheiro estão entrelaçados. A qualidade das obras fica em segundo plano.”
Isaac Julien: Playtime
Data: até 22 de novembro
Local: Galeria Nara Roesler
Endereço: avenida Europa, 655, Jardim Europa, São Paulo - SP
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 15h