Os guias turísticos não revelam o que há de mais interessante em Valência: a vanguarda e a tradição andando lado a lado na cidade espanhola banhada por águas mediterrâneas. Se a arquitetura anterior a Cristo pode conviver com as audaciosas construções de Santiago Calatrava, que assina a Cidade das Artes e das Ciências, por que uma marca tradicional não poderia ter como consultor criativo um designer irreverente como Jaime Hayon? Ao completar 60 anos, a Lladró é uma representante legítima dos novos tempos e da cidade em que nasceu: mantém intocada a qualidade de suas figuras de porcelana, aquelas que você não consegue ver sem ter uma leve arritmia cardíaca e uma voz dizendo “eu quero” bem dentro dos seus ouvidos.
Apesar de contar com sangue novo em seu quadro fixo, ainda alia a suas famosas peças o toque de designers convidados, uma gente para lá de moderna. Além de Hayon, o estúdio Devilrobots, Tim Biskup, Bodo Sperlein e Committee compõem esse time que imprime o toque contemporâneo ao clássico. Tradição, como se vê, não precisa do acúmulo dos séculos. A fábrica da Lladró, criada pelos irmãos Juan, José e Vicente Lladró em 1953, é chamada pela população local de “cidade da porcelana”. Cerca de 700 pessoas trabalham diretamente nas esculturas, esculpidas e pintadas à mão, com seus minuciosos detalhes e acabamento perfeito.
Mas nem só de figuras humanas vive a grife. As primeiríssimas peças foram os vasos. E, se hoje a Lladró é tão conhecida pelas esculturas, “os utilitários, como jogos de jantar e chá, lustres, vasos e espelhos estão cada vez mais presentes”, conta a porta-voz da marca, Alicia Gonzalez. O que não muda, além da qualidade, é a exclusividade das peças, sempre produzidas em número reduzidíssimo – isso quando não são únicas.
Não por acaso, o madrilenho Jaime Hayon, que vive em Valência, declarou: “A Lladró não é uma marca, é uma cultura”. O criador trouxe seu humor e seu universo de fantasia para as esculturas que, em alguns casos, são um novo olhar sobre peças icônicas. Todas, feitas pelos artistas da casa ou pelos convidados, têm nome e levam a assinatura do artesão que lhe deu forma. The Lover, por exemplo, é a peça que o designer não esconde ser a sua preferida.
No final de 2012, uma nova loja Lladró, desenhada por Hayon, deu à esquina da Madison Avenue com a 52nd Street, em Nova York, um vibrante tom de branco. A presidente da marca, Rosa Lladró, filha de um dos fundadores, deu ao The New York Times a definição mais precisa: “São vários tons de branco. E, longe de ser asséptica, a loja é agradável e calorosa”. Nós, brasileiros, ainda podemos ter esperanças. “Estamos empenhados em aumentar nossa presença nesse belo país”, diz Alicia.
* Matéria publicada em Casa Vogue #335 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)