
Philippe Nigro evita as luzes da ribalta. Entretanto, este é o seu momento: nomeado designer do ano de 2014 pela Now! Design à Vivre da Maison & Objet, ele concebe também o layout da sétima edição do Triennale Design Museum, em Milão, uma das mostras mais importantes do setor, em cartaz até fevereiro de 2015 – sem abandonar as colaborações com marcas do calibre da Ligne Roset, Baccarat e Venini, para citar só as mais recentes. O caso do francês de 39 anos é emblemático: após passar anos no estúdio de Michele De Lucchi, mestre do design italiano, demonstrou um talento nato para a elegância. Cada uma de suas criações carrega impresso o código de um novo luxo – e as coleções que assina para a Hermès são o mais claro exemplo. Hoje, Nigro mora entre Milão e Paris. Continua a ser homem de poucas e precisas palavras, mesmo enquanto nos fala de inspiração e golpes de sorte. Talvez o segredo do seu sucesso seja justamente esse perfeito equilíbrio. De Paris, Nigro concedeu esta entrevista exclusiva à Casa Vogue.
Sua pesquisa no campo do design e seu estilo elegante e original são apreciados em nível mundial. Como alcançou a sua identidade de designer? Como imprime sua assinatura em suas criações? Para um designer, o verdadeiro desafio é o de compreender a fundo o espírito e o DNA da marca com a qual colabora, sempre tendo em mente sua própria personalidade. Acho que todas as minhas criações têm em comum uma certa elegância, combinada a um toque de ironia capaz de surpreender as pessoas. Mas não sou da opinião que um determinado estilo [pessoal] deve ser reconhecido como a coisa mais importante. A assinatura do designer, para mim, deve ser secundária: não devemos vê-la imediatamente, à primeira vista.

O que é o luxo na sua opinião? Considera-o algo necessário – pensando no nome que deu para a sua coleção de 2013, Les Nécessaires d’Hermès – ou a elegância é casual? Eu gostaria que as coleções que fiz para a Hermès transmitissem a impressão de um mobiliário atemporal, de algo que nunca deixou de existir. Este é o meu conceito de luxo, a definição mais exata, na minha opinião: atemporal. A leveza das peças não tem nada de aleatório. Pelo contrário, a elegância de suas formas originais e surpreendentes, as funções escondidas e os materiais nobres empregados remetem claramente ao legado da marca francesa.
Quais os aprendizados de se trabalhar com a histórica maison? Nesse projeto, a Hermès me forneceu todos os instrumentos necessários para alcançar a perfeição no meu trabalho. E, para um designer, isso é fantástico, absolutamente incrível. Foi um golpe de sorte que me aconteceu, uma experiência magnífica que me fez pensar que nada é impossível.

E onde encontrou inspiração para as coleções Les Nécessaires, de 2013, e Les Curiosités, deste ano? A ideia inicial era criar objetos simples e funcionais, que se adaptassem facilmente ao cotidiano das pessoas. Baseei-me na maestria dos artesãos, na sua competência em trabalhar com os mais diversos elementos. Além disso, me inspirei no universo da grife, especialmente na temática equestre, em 2013, e no setor de viagens, como os baús-armários da coleção 2014. Em Les Nécessaires, eu me propus a fazer referência, nas formas e, obviamente, nos materiais utilizados, àqueles cavaletes básicos [em forma de ‘X’] vistos na equitação para apoiar todos os acessórios que compõem o equipamento completo de um cavaleiro.
* Matéria publicada em Casa Vogue #351 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)