Um dia, enquanto conversavam na cozinha – lugar onde geralmente conversam velhos amigos –, Sonia Diniz e René Fernandes chegaram a uma conclusão em comum: o ambiente era pequeno e antiquado, precisava de mudanças urgentes. Até porque ela gosta mesmo é de gente ao redor da mesa, de um bate-papo ao pé do fogão. Foi assim que a proprietária da Firma Casa, loja-galeria de São Paulo que há 20 anos reúne alguns dos mais hypados designers nacionais e internacionais, e o arquiteto, que contabiliza cerca de 500 projetos em seu currículo, resolveram assumir a reforma.
Já era hora. Faz 30 anos que a família chegou à casa – o caçula de Sonia era ainda um bebê. Hoje, os três filhos estão casados e deram aos pais quatro netos. Mas a moradia ainda é o ancoradouro frequente da turma. Pensando nessa nova configuração familiar, era inevitável que transformações maiores viessem a reboque da renovação da cozinha. Sonia e o marido se instalaram em um apartamento alugado e, enquanto transcorriam as alterações anteriormente planejadas, ela e René foram “trocando figurinhas”, expressão que ambos gostam de usar para classificar seus diálogos. Veio, então, a ideia de tornar a área social mais integrada – afinal, à família ampliada somam-se os amigos, e aumentar o escopo da reforma pareceu uma necessidade, mais do que um capricho. Mas que ninguém falasse em demolição.
“Tenho horror de ver a nossa cidade ser destruída”, afirma René, fascinado com essa espécie de caos bem orquestrado que define o estilo eclético do Jardim Europa. Por isso ele manteve em pé a construção, uma das mais antigas do bairro, preservando a fachada, que lembra um cottage. E também porque Sonia reza pela mesma cartilha. “Era preciso modernizar o espaço, mas uma demolição leva embora suas raízes”, completa. Assim, com intervenções como a troca da caixilharia de madeira, que já estava pesada e envelhecida, e a mudança de lugar de algumas áreas, a casa já foi se ajustando aos novos tempos. A varanda, antes pequena, escondida sob um toldinho, e a piscina, enorme, deram lugar a um grande jardim, assinado pela paisagista Renata Tilli, e uma varanda mais ampla, praticamente uma extensão da sala de estar. As novas aberturas e transparências trouxeram luz e profundidade para dentro.
Curta a página da Casa Vogue no Facebook e acompanhe as novidades do décor
Já as alterações em outros cômodos foram indeléveis. A moradora “roubou” o armário do dormitório que fora da filha e ampliou seu closet, por exemplo. “Mantenho o quarto dos meus filhos, eles fazem parte da nossa memória”, diz Sonia, que conserva o hábito de almoçar em casa todos os dias, às vezes sozinha, mas, geralmente, na companhia do marido e de mais alguns amigos que ligam e avisam, na maior informalidade: “Estou passando aí pra almoçar com você”. Ela aprecia a movimentação. “Esta é uma casa aberta”, diz.
Aberta também para o belo, diga-se. Obras de arte e peças de mobiliário e design formam uma espécie de patrimônio do bom gosto universal, com Joaquim Tenreiro e os irmãos Campana dividindo o espaço com reedições do Memphis e tela de Tomie Ohtake. René se apressa em dar o crédito da ambientação à amiga, com quem continua trocando figurinhas. “O décor é da Sonia, que respira e vive decoração”, afirma o dono de duas das quatro mãos que modernizaram a casa antiga sem dela tirar folhas, flores e, principalmente, raízes.
* Matéria publicada em Casa Vogue #351 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)