Quando a artista alemã Katharina Roters se mudou, em 2003, de uma metrópole da Alemanha para um pequeno vilarejo húngaro, seu olhar forasteiro não apenas fez com que a cidade ficasse mais interessante para ela, como também deu origem a um projeto fotográfico que nasceria mais de uma década depois. Desde então, as ruas de seu novo lar passaram a ser fotografadas por ela. O foco eram pequenas casas cúbicas, todas do mesmo tamanho e construídas em meados dos anos 1920. Mas o que chamou a atenção da fotógrafa não foi a semelhança entre elas – muito pelo contrário.
No livro Hungarian Cubes: Subversive Ornaments in Socialism, lançado recentemente, fica claro o porquê das residências comuns em toda a zona rural da Hungria terem feito os olhos de Katharina brilharem. Em busca de personalidade própria, os moradores criavam verdadeiras obras de arte em suas fachadas – partindo de padrões geométricos e seguindo estéticas diversas.
"Eu fui ficando cada vez mais fascinada pela qualidade irresistível deste fenômeno ornamental", conta a fotógrafa, que retirou, no pós-tratamento, todos os elementos dispensáveis, como fios de energia, árvores e qualquer aspecto que interferisse nas imagens. "Meu olhar de alguém de fora me permitiu ver essas casas sem o lastro intelectual e emocional que o povo local tem."
Tais lares, que foram erguidos em um período comunista pós-guerra, ganharam o nome de Cubos de Kádár, em referência ao presidente János Kádár. Hoje, eles acabam sendo destruídos ou reformados pelos moradores por representarem um passado em que a população se sentia subjugada. "Para eles, essas construções são como feridas abertas", conta Katharina. "Mas, apesar disso, essa prática ornamental espontânea e inconscientemente subversiva merece ser lembrada."
Hungarian Cubes: Subversive Ornaments in Socialism
Editora Park Books
176 páginas