Isay Weinfeld não gosta de repetir projetos. Tanto que já confessou o sonho de desenhar um bordel ou um posto de gasolina. Faz sentido. Edifícios, livrarias, museus, casas de praia, danceterias e até clubes de golfe já nasceram nos computadores do seu escritório, em São Paulo.
Um dos últimos desafios do arquiteto foi criar um plano diretor para desenvolver a área ao redor do Hotel Intercontinental, em Viena. A proposta venceu um concurso internacional em fevereiro e causou animada discussão entre os profissionais austríacos. Tanto que o Centro de Arquitetura da cidade organizou a mostra Die Welt von Isay Weinfeld (O mundo de Isay Weinfeld), com trabalhos selecionados.
Weinfeld assina o design da exposição, um percurso no qual o visitante topa com imagens de prédios misturadas a maquetes e peças de design. Como os arquitetos do início do modernismo, o paulistano é meticuloso com o detalhamento de suas obras. "Sempre tento desenhar tudo em minha profissão. Se projeto uma casa, desenho interiores, a campainha, tudo".
Por isso, a exposição revela móveis como a Poltrona Isay e o carrinho de bar Toto, ambos para a Etel; passa pelos projetos de interiores, a exemplos da Forneria San Paolo e Livraria da Vila; revela casas icônicas, a Yucatan e a Piracicaba. O visitante também conhece maquetes de edifícios e, claro, do projeto urbanístico para Viena.
O arquiteto escolheu apresentar seus trabalhos através de detalhes – por exemplo, uma escadaria e a porta de entrada de um prédio, ao invés do edifício inteiro. A estratégia reflete o humor de Weinfeld. Afinal, que outro traço de caráter levaria alguém a criar uma pilha desorganizada de maquetes na porta da própria exposição?
O projeto expográfico revela também a familiaridade com a criação de experiências sensoriais, visíveis em suas obras. Weinfeld orquestra materiais e superfícies de modo a unir minimalismo e exuberância, modernidade e ar lúdico. Um exemplo é o edifício 360 º, com seu generoso espelho d'água flutuando sobre os telhados das casas ao redor. Ou a Livraria da Vila, na qual as estantes ortogonais contrastam com uma escada em espiral irregular - pintada de amarelo ovo. Seus prédios fazem parecer tão fácil emocionar com a arquitetura.
Terá essa maestria relação com a experiência de dirigir filmes? Junto com Marcio Kogan, colega da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Weinfeld criou películas respeitáveis, como o longa Fogo e Paixão, de 1988, presente na mostra. Para projetar, o arquiteto inspira-se em cineastas como Stanley Kubrick e Ingmar Bergmann. E também aprecia a banda Radiohead e o músico Jay Z.
"Vejo arquitetura como um todo, como se eu fosse um diretor de arte", conta Weinfeld. "A ideia expressa meu desejo de projetar desde o início da vida até o fim", conta. O profissional materializou a ideia ao criar e levar para a mostra um berço e um caixão – de linhas esguias, é claro.