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Mistérios e movimentos de Marina

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  (Foto: Mariana Maltoni)

Por trás da mulher charmosa ainda com trejeitos franceses que não gosta de falar de si mesma, mas tem discurso firme quando o assunto é seu trabalho, há uma menina mineira surpreendentemente sensível e observadora. Marina Simão me cativou há algum tempo e nunca soube explicar exatamente o porquê. Depois de algumas conversas e da visita em seu ateliê nos Jardins, entendi que se a obra é um reflexo da personalidade e história de vida do próprio artista, a identificação do público com a obra só pode significar uma comunhão entre espectador e artista. Seu espírito nômade, seu olhar atendo aos gestos, sua paixão pelo movimento e sua vontade de não pertencer a lugar algum me tocaram antes mesmo de nos conhecermos.

   (Foto: divulgação)

Há 10 anos, Marina – que já era advogada – trocou Belo Horizonte por Paris, onde estudou artes plásticas e começou a dar seus primeiros passos em direção “aos lugares desconhecidos e ao anti-individualismo” que virariam tema principal de sua obra: fotos de estrada em lugares onde não parou, florestas misteriosas, pássaros voado no Vietnã, um vídeo de Mario de Andrade sobre o rito de passagem de índios brasileiros. Estas são algumas das imagens que lhe atraem. “Geralmente começo meus trabalhos a partir de paisagens estranhas para mim. Depois vou construindo as imagens finais com fragmentos narrativos. É sempre uma tentativa de encontrar algo desconhecido e, por isso, tento me colocar em situações em que as limitações sejam evidentes para provocar justamente o erro”, declarou ainda em Paris em uma conversa por skype.

  (Foto: divulgação)

 

  (Foto: divulgação)

Ano passado voltou ao Brasil e hoje vive entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Se mudar para o velho mundo poderia significar algum tipo de fuga e encontro das melhores formas para expressar suas questões internas e estéticas, o retorno levaria – naturalmente – a um reencontro de si mesma e, consequentemente, de como sua obra se desenvolveu nos últimos anos. “Quando cheguei no Rio comecei a entender alguns aspectos do meu trabalho. Um deles é que eu sempre rejeitei a estética da memória e, por isso, fugia de qualquer coisa que lembrasse minha própria história. Busco por imagens que não me pertencem procurando sempre pelas formas de uma inteligência coletiva”, conta a artista com o cigarro em uma mão e a coca-cola light na outra. Pausa para prender o cabelo. E ela começa a explicar sobre como esta inteligência que tanto lhe encanta está na natureza e movimento browniano – termo usado para a oscilação aparentemente aleatória de moléculas, mas que seguem um padrão pouco explícito e cujo “rastro” forma um desenho. “Estes padrões de comportamento aparecem no trajeto dos pássaros e tubarões, por exemplo. Acho isso lindo e, por isso prefiro ignorar traumas pessoais na minha obra e focar no universal e “aleatório” que é, na verdade, orquestrado e coreografado”.

  (Foto: Mariana Maltoni)

 

   (Foto: Mariana Maltoni)

Outros artistas que ela admira e, de certa forma, levantam as mesmas questões? Francis Alÿs também discute os percursos urbanos e dos fenômenos naturais e Gabriel Orozco compartilha com Marina as inquietações sobre o gesto. O encanto pela capacidade de se anular está, também, no vídeo da bailarina Anna Pavlova dançando a morte do cisne. “Parece que ela vira um bicho...de repente não é mais ela que está ali”, lembra apaixonada.

Fã do filme Pink Flamingos e do balé O Lago dos Cisnes, ela dança desde os seis anos, o que explica a delicadeza de seus quadros. São os movimentos que aprendeu em classe, entretanto, que a ajudam quando a dança é com o pincel. “A pintura dialoga com expressão corporal o tempo inteiro. Presto muita atenção nos gestos enquanto trabalho: qual é a intenção, a intensidade, a direção deste gesto? Além disso, existe a questão da ocupação do espaço-palco e espaço-tela.” Para novembro, ela está organizando uma exposição na galeria Mendes Wood onde vai reunir outros artistas que dialogam com movimento e corpo Aguardem...obras lindas, com certeza, virão.

  (Foto: divulgação)

 

  (Foto: divulgação)

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