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Oásis subterrâneos

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No Brasil, morar abaixo do subsolo nunca foi popular e, levando em consideração a imensa superfície do país, podemos entender por quê. Quem escolheria viver numa ”caverna”, quando podemos eleger domicilio na superfície, aproveitando espaço, luz natural e, para os mais sortudos, vistas encantadoras?

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

De forma geral, o uso do subterrâneo ainda não seduz. De fato, o mundo abaixo de nossos pés sempre veiculou um campo lexical do sujo, do mal, do inferno, em oposição ao mundo celeste, que aproxima o ser humano do divino, da eternidade, da pureza e do bom. 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

Entretanto, para alguns países, a ocupação humana dos subsolos parece ser cada vez mais uma solução interessante para nossa sociedade em busca de um futuro sustentável. As vantagens desse tipo de construção são várias: economia no isolamento acústico e térmico, proteção contra tempestades, melhor proteção contra incêndio, integração à paisagem, tetos verdes, economia de energia, segurança, etc.

Para a Suíça, por exemplo, além dessas vantagens, os subsolos são uma reserva fundiária estratégica, já que as áreas construtíveis do país estão esgotando. De fato, o laboratório de pesquisa para a cidade subterrânea Deep City da Escola Politécnica Federal de Lausanne- EPFL, identificou nos subsolos quatro tipo de recursos: espaço, geotermia, águas subterrâneas e geomateriais. Estúdios de design e de pesquisa nas escolas de arquitetura helvéticas como a EPFL estão focando nesta disciplina promissora junto com engenheiros de geologia e do meio ambiente.

Já nos Estados Unidos, projetos como resposta para crises climáticas estão sendo divulgadas. 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)



De acordo com o site dos arquitetos da foto acima, num futuro próximo, no qual o planeta estará sofrendo com a crise hídrica, Sietch Nevada foi imaginado como um protótipo urbano para o Sudoeste do Estados Unidos, que torna o armazenamento, uso e coleta de água essencial para a forma e desempenho da vida urbana. Invertendo os padrões urbanos estereotipados de programas dispersos a céu aberto, o Sietch é uma comunidade densa e subterrânea. Uma rede de canais de armazenamento de água está coberta com estruturas residenciais e comerciais ondulantes. Estes canais ligam a cidade a enormes aquíferos profundos e prestam serviços de transporte, bem como de irrigação agrícola. As cavernas transbordam com vida urbana densa: uma Veneza subterrânea. Organizadas em células, essas estruturas constituem uma nova tipologia que articula a rede subterrânea urbana e as atividades ao nível da superfície de captação de água, geração de energia, agricultura urbana e aquicultura. Além disso, o Sietch também é uma fortaleza, um bunker, preparando para possíveis guerras por água na região.

Se, até recentemente, as formas concretas de ocupação dos subsolos se limitaram aos estacionamentos, metrôs, equipamentos de infraestruturas e bunkers militares, estamos, hoje, percebendo novos meios de apropriação desses espaços marginais.

Já conhecemos diversos exemplos de cidades que usaram os meios de transportes subterrâneos como catalisador de espaços públicos e comerciais enterrados. As vantagens não são apenas econômicas e práticas, tais espaços também geram conforto aos moradores de cidades de clima extremo. Pensem em Montreal, no Canadá, onde as temperaturas invernais podem chegar a 32 graus negativos, ou nos invernos gelados e verãos úmidos de Osaka, Japão. Nesses casos, o underground, que na cidade canadense atinge 32 quilômetros de comprimento, cobrindo 41 quadras (uns 12km²), torna-se, por alguns meses, o espaço mais frequentado pelos habitantes, propondo um clima controlado e confortável em espaços públicos e comerciais.

Felizmente, esses espaços subterrâneos estão se abrindo a novos usos e funções. Projetos de reapropriação de infraestruturas de transportes enterradas e estações de metrô abandonadas estão ganhando popularidade no mundo inteiro. Tais projetos aproveitam as infraestruturas negligenciadas para criar novos espaços públicos de usos insólitos em relação à historia do mundo subterrâneo.

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

Com a ajuda dos arquitetos Manal Rachdi, da OXO Associates e de Nicolas Laisne, Nathalie imaginou no lugar das estações descuidadas espaços elegantes para exibir arte, restaurantes abertos, parques e piscinas públicas.

Também conhecemos as representações utópicas e distópicas das cidades na ficção científica que provavelmente influenciam os projetos de urbanistas e arquitetos na concepção dos masterplans das cidades do futuro.

No México, por exemplo, um projeto de Earthscraper do Studio BNKR criou um dialogo sobre o futuro da cidade, invertendo o ícone da modernidade que se cristalizou na forma dos arranha-céus.

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

Mas o que nos interessa hoje é como o subsolo, esse espaço técnico e logístico precioso (ele nos providencia água, eletricidade, esgoto, internet, transporte, infraestruturas, etc.), que permitiu às cidades existirem e se desenvolverem como nós as conhecemos, poderia também ser muito mais que uma reprodução caricatural das moradias trogloditas ou das cidades de ficção cientifica.

Além de ser uma reserva fundiária interessante para evitar o desgaste territorial e o afastamento dos cidadãos do centro urbano tradicional devido à expansão dramática da arquitetura vertical, o subterrâneo permite um relevante e inédito “terreno” de investigação para a pesquisa arquitetônica contemporânea.

Seguem abaixo alguns exemplos de projetos construídos que demonstram que arquitetura subterrânea não significa enterrar um prédio, ao contrário, existem várias formas de pensar e construir os edifícios subterrâneos do século 21. 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

 

Oásis Subterrâneos (Foto: Divulgação)

No Brasil, onde temos muita luz do sol e calor extremo, a condição subterra seria interessante para economizar energia, proporcionando moradias e espaços arejados, além de densificar as cidades, evitando o escalonamento urbano e preservando nosso meio-ambiente.  Minha preocupação, como arquiteta de interiores, é a qualidade dos espaços internos que serão projetados e quais seriam os recursos para criar ambientes agradáveis que não nos façam esquecer que estamos no subsolo, aproveitando essa condição para criar soluções arquitetônicas e sensações inéditas. Além disso, mesmo se conseguirmos criar arquitetura subterrânea de qualidade, precisamos ainda convencer a população de que o futuro não está necessariamente nas alturas.

Enobrecer o subterrâneo: um exercício que mexe apenas com as formas espaciais, mas também com nosso modo de vivenciar a arquitetura.

 


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