Editora e fabricante de tecidos para mobiliário mais importante da França, a Pierre Frey assopra oitenta velinhas este ano. “A data serviu de desculpa para organizarmos uma série de eventos”, contou à Casa Vogue Patrick Frey, que atua desde 1976 como presidente da marca. O simpático filho do fundador falava do seu escritório, local outrora ocupado pelo pai. “Quando era criança, ficava escondido entre centenas de pedaços de tecidos observando-o desenhar. É bem possível que essas lembranças fascinantes me levaram a seguir o mesmo caminho”, relembrou o homem de negócios que, como o patriarca da família, também ocupa o papel de diretor criativo da casa.
Enquanto a megaexposição no Musée des Arts Décoratifs em janeiro de 2016 não chega, acabou de ser lançado o primeiro livro que retraça toda a história da Pierre Frey e esmiúça o estilo dos papéis de parede e tecidos que revestem o espaço dos mais diferentes ambientes – dos históricos Petit Trianon, em Versalhes, e château de Borély, em Marselha, até o badalado hotel Costes, em Paris. “Pierre Frey é uma maison que reflete completamente nossa época e ama misturar motivos históricos com insolentes estampas de modernidade”, elogiou o designer Vincent Darré que, além de ter assinado uma capsule collection com a marca ano passado, fez questão de deixar sua homenagem no livro junto com o de outros decoradores poderosos. Um deles é Jacques Garcia, com quem a marca acaba de colaborar na renovação de duas galerias do Louvre dedicadas ao século 18. O decorador pediu para a marca reproduzir a estampa floral do grand salon do château d’Abondant, da onde vem a maior parte dos objetos da sala de exposição.
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Folhear o livro é como passear no numero 47 da rue des Petits Champs, endereço da sede da maison desde o início. Descobre-se inclusive o confidencial petit musée que se encontra lá dentro: com mais de 25 mil (!) referências de tecidos, guaches, papéis de parede, tapetes e documentos históricos desde o século 16, o arquivo é uma das maiores coleções privadas especializadas no assunto e serve de inspiração não somente para as novas criações Pierre Frey como para historiadores e conservadores de museus. “São as raízes que nos permitem ter uma criação contemporânea rica”, divagou Patrick Frey, que gostar de olhar no retrovisor ao criar as novas coleções, mas sempre dando outros ares.
Os florais que inicialmente fizeram a fama da marca, claramente não resumem o seu estilo, que só a palavra eclético consegue definir. A série Origines, apresentada na última Maison & Objet, mostra como tudo pode servir de inspiração para o time de Patrick Frey. Depois de visitar o museu de arte aborígene, na Austrália, o diretor artístico ficou fascinado pelo assunto e trouxe as cores, os desenhos e as texturas deste tipo de civilização para seus tecidos - alguns deles, tem até búzios bordados.
Desde os tempos de seu fundador, a Pierre Frey vem convidando pessoas que nunca criaram tecidos para trazer frescor ao repertório da casa. Ano passado, a atriz francesa Louise Bourgoin fez uma série em preto-e-branco cheia do seus desenhos de amantes nus, cujo traço lembra o de Jean Cocteau. Este ano, Patrick chamou o Toxic para levar seu street art para dentro da casa das pessoas num panoramique (papel de parede de grande proporção).
Segundo Patrick, muito mudou nos últimos 80 anos, menos um aspecto de que tem muito orgulho. “Continuamos sendo uma empresa independente, convivial e familiar”, explicou, adicionando que seus três filhos trabalham em diferentes departamentos da marca. “Meu pai prezava muito pelas relações humanas”.