Imóveis antigos costumam guardar, em meio a uma divisão de cômodos não muito apropriada para os dias atuais, um grande potencial para atender às necessidades dos moradores de hoje. Foi pensando nisso que um cliente na faixa dos 40 anos chamou as arquitetas Cristina Bezamat e Laura Bezamat, da Bezamat Arquitetura, para transmutar um apartamento de 70 m² no bairro carioca de Botafogo em um lar onde pudesse morar com sua filha.
"Nosso objetivo era transformar um espaço compacto em uma casa otimizada e agradável para um homem solteiro", conta Cristina à Casa Vogue. Por isso, o primeiro passo foi colocar abaixo algumas paredes inconvenientes. Assim, a sala de estar se integrou à cozinha que, por sua vez, cresceu ao incorporar o antigo quarto de empregada. Onde ficava a divisória entre os cômodos, foi instalada uma mesa integrada. "Além de servir como jantar, o local atende a um pedido do morador, que é um colecionador de jogos de tabuleiro e faz questão de receber amigos para jogar", completa ela. Ao redor, as cadeiras Anna, de Jader Almeida, na Arquivo Contemporâneo, e os pendentes Beat, de Tom Dixon, na Lumini, criam o aconchego ideal para um petit comité.
Na sala de estar, onde ficaria a mesa tradicional, foi construído um dos recantos mais gostosos da casa. Um armário verde de época, da Velha Bahia, guarda os jogos do proprietário ao lado de uma poltrona Daff, de Jader Almeida, e um banco Mocho, de Sergio Rodrigues, ambos da Arquivo Contemporâneo. A luz fica por conta da luminária de piso Bauhaus, de Fernando Prado, na Lumini.
Para instaurar um clima que fosse masculino e descolado, as arquitetas elegeram o tom escuro da nogueira como revestimento principal para os painéis que cobrem as paredes e para o mobiliário feito sob medida – os da cozinha, da lavanderia e dos quartos foram executados pela Favo, e os demais pela ANBI Marcenaria. Algumas partes – como toda a área íntima – receberam acabamento de laca branca enquanto a cozinha foi a escolhida para um arroubo de ousadia. "Já que o cômodo é integrado ao living, fizemos da parte de baixo dos armários um bloco monocromatico marrom de pedra basalto. Os de cima ganharam vidro laranja para quebrar a sobriedade."
A mobília ( Arquivo Contemporâneo e Interni) foi escolhida para dar ainda mais personalidade ao apartamento. Muito design brasileiro – com peças assinadas por Jader Almeida, Marcus Ferreira, Fernando Prado, Sergio Rodrigues e Maria Cândida Machado – se espalha por todos os lugares. "Acho importante escolher itens com DNA, principalmente se eles forem do Brasil. Além de possuírem muito charme, cada mesa ou cadeira escolhida conta a história de um designer importante e é imediatamente associada a toda sua obra", explica a arquiteta.
A transição da área social para a íntima fica clara graças à escolha do piso. A primeira ganhou o branco do porcelanato Bauhaus, da Portobello, enquanto a outra recebeu piso vinílico da AcquaFloor. Todas as cortinas e tecidos do projeto são da Orlean, e os metais e louças dos banheiros e lavabo da Deca.
Para finalizar, Cristina e Laura criaram um projeto luminotécnico feito para valorizar cada pedacinho da propriedade. "A iluminação não deve apenas iluminar, mas também operar uma cenografia que dá clima e cria situações", diz Cristina. Por fim, obras de arte da Sérgio Gonçalves Galeria de Arte foram eleitas em conjuntos com o cliente para deixar, de vez, o lugar com a cara dele.