Para um designer, ter suas peças produzidas em grande escala por uma marca é um reconhecimento dos grandes. Imagine, então, ver isso acontecer aos 23 anos. Este é o caso do paulistano Marcelo Caruso, que viveu boa parte de sua vida em Curitiba, mas foi trazido de volta para os arredores da maior metrópole do país a chamado da carreira.
Os caminhos que o levaram a ter uma pequena família de móveis produzida pelo estúdio Moora - Mobília Brasileira são complexos de explicar até para ele. Talvez por isso Caruso resgate memórias mais antigas. "Cursei Design graças a um conjunto de fatores, como as vezes que observei minha mãe copiar um desenho para eu pintar, ou aquelas em que decidi construir um brinquedo nada convencional feito de papelão, rolhas, arames e canos de PVC. Não consigo traçar um motivo que tenha me levado para este mundo", conta ele à Casa Vogue.
Durante o curso, desbravou o design gráfico, o web design e o projeto de produtos sonhando em trabalhar na área automotiva, um sonho que cultivava desde criança. Mas foi em 2013, em seu último ano na Universidade, que uma professora mudaria sua forma de pensar. Ethel Leon, historiadora do Design brasileiro, apresentou a ele todos os personagens principais do modernismo europeu e do brasileiro. E foi amor à primeira vista. "Comecei a entender a relação direta entre a arquitetura e o mobiliário e passei a pesquisar todos profissionais que mais me chamavam a atenção, como Marcel Breuer, Gerrit Rietveld, Le Corbusier, Mies van der Rohe e obviamente os brasileiros Oscar Neimeyer, Lúcio Costa, Sérgio Rodrigues e Joaquim Tenreiro."
Essa paixão pode ser vista nas linhas bem pensadas e executadas na madeira do banco Bambo e das cadeiras Guida e Gorete, que ele produziu nas aulas de marcenaria com o designer Rodrigo Silveira. O primeiro, inspirado no desenho da cauda de um piano, ganhou tal nome porque o protótipo não ficou firme. "Ele foi feito praticamente sem croqui, pois aprendi a projetar pensando não apenas nas formas, mas na produção e no uso do objeto".
Já Guida nasceu quase sem croqui. "Estudei as proporções básicas da ergonomia e as executei da forma mais simples que se consegue em uma cadeira." Graças aos pés posteriores que recuam alguns centímetros para trás do encosto, como um guidão de bicicleta, surgiu o nome.
"Gorete, ainda em produção, foi a primeira peça que não projetei pensando na marcenaria. Desenhei esta cadeira com a capacidade técnica da fábrica em mente, com peças feitas de madeira multilaminada curvada, torneada e com encaixes menos evidentes que os da técnica tradicional." Conta ele. "As primeiras pessoas que a viram fizeram associação com um sentimento nostálgico. Então, o nome Gorete coube perfeitamente, pois ele traz a mesma memória, é divertido e é fácil de lembrar."
"Para mim, que entrei de paraquedas no mercado, tudo é muito novo e ainda estou aprendendo o ritmo. Com seis meses de formado fui atrás dos designers que admirava, mesmo nas redes sociais, e logo consegui uma parceria com uma marca. Mas pretendo continuar trabalhando com a madeira nacional, algo que amo, e acho difícil encontrar um projeto meu na composição."