“O passado não existe. Na cultura, tudo é contemporâneo”. As palavras do grande arquiteto e designer italiano Giò Ponti (1891-1979), me acompanharam como um mantra na caminhada de hoje pelo FuoriSalone, evento concomitante Salão do Móvel de Milão que, desde 1991, atrai designers e ideias de todos os cantos do mundo.
A busca de um equilíbrio entre tradição e inovação aparece nas muitas reedições de peças históricas, citações, homenagens e composições que os grandes nomes do design escolheram para apresentar suas coleções. São releituras autoconfiantes, que não temem críticas e acrescentam às peças originais certa leveza. Depois de anos de crise e incertezas, os brands parecem apostar na autoironia para voltar a sonhar.
Galeria 1: Kartell, Dimore Studio, Moroso, Richard Ginori e Missoni
A reflexão sobre “Projeto, Forma e Identidade” é, no fim das contas, o tema do design district de Brera, que esse ano se deu a missão de cavar às raízes da invenção, para focar os processos construtivos que levam ao desenvolvimento da criatividade.
A ideia é bem ilustrada pela super tradicional casa de porcelanas Richard Ginori que, ressurgidas das cinzas da falência, estreou um novo store no coração de Brera. Debaixo de um teto de tijolos e cabos aparentes, com cara de work in progress, é exposta uma coleção elegantíssima caraterizada por motivos tradicionais e releituras geométricas. O caso é exemplar. Foi justamente na Richard Ginori que o jovem e desconhecido Giò Ponti estreou como designer, em 1923. Uma prova de coragem aquela do Augusto Richard que, para relançar a manufatura nascida em 1737, contratou um recém-formado como diretor artístico.
Galeria 2: Nendo, Rubelli, Nodos e Herman Miller
Essa mesma ousadia parece motivar outros brands na nova fase. A Kartell, por exemplo, homenageia o espírito de Memphis, o grupo de vanguarda de design e arquitetura capitaneado por Ettore Sottsass e ativo nos anos 1980, com uma coleção de cores acessas e peças chamativas. O “espírito de Memphis”, uma grande dose de audácia em reação ao minimalismo da década anterior, permeia a coleção. Mas o faz com leveza, sem se levar muito à serio.
Entre as revisitações dos clássicos de Ginori e a carga energética de Kartell, compõe-se um universo de citações e diálogos entre épocas distantes, que inclui desde os tradicionais tecidos venezianos de Rubelli, até as estampas abstratas de Missoni. Das tradições revisitadas das centenárias porcelanas japonesas, às linhas enxutas de Nendo. Das referências a um passado não bem identificado do charmosíssimo Dimore Studio, às linhas quadriculadas de Henry Miller e Wolf Gordon.
Galeria 3: Austrian Design Pioneers, Sollos e Rossana Orlandi
Das revisitações do saber fazer artesanal nos preciosos tapetes de Nodus e nos designs dos “pioneiros” austríacos, às impressões 3D. Passando pelas estampas otimistas de Marimekko e os parentescos entre arte e design propostos pela Moroso. E, no meio disso tudo, o melhor do novo design brasileiro, com a apresentação de Jader Almeida na Sollos.
Passeie pelas galerias de fotos para conferir mais novidades e releituras no Brera Design District.
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Ouça abaixo a entrevista que a diretora de redação da Casa Vogue, Taissa Buescu, fez nesta quinta-feira para a rádio CBN, direto de Milão: