Ela já chegou a ser apontada pela Time como uma das pessoas mais talentosas dos Estados Unidos. Tem no extenso rol de clientes um ex-presidente do país. E carrega consigo uma história de vida comovente. Assim é Sheila Bridges, cuja ousada combinação de cores do apartamento onde vive no Harlem, em Nova York, não dá falso parecer: estamos diante de uma das mais respeitáveis designers de interiores da cidade.
Sheila, que começou sua carreira no mundo da decoração no posto de assistente no escritório Shelton, Mindel & Associates, hoje dirige seu próprio escritório. No currículo, ela elenca clientes como o magnata da música Andre Harrell, o autor de best-sellers Tom Clancy e Bill Clinton. Nada mal para uma garota que se formou em propaganda, pela Universidade Brown, e mudou de rumo inesperadamente após alguns trabalhos ruins.
“Depois de tentar a sorte trabalhando em um restaurante de massas e na Bloomingdale’s, me deparei com a vaga de assistente no escritório de arquitetura e decoração”, relembra. Foi sorte. Foi destino. Algo despertou dentro dela ao atuar ali. “Eu podia me ver trabalhando naquele campo, me sentia confortável”, sorriu. Antes de se lançar em carreira solo, aos 30 anos, Sheila trabalhou também com o decorador Renny Saltzman. O resto é história.
História, aliás, não falta a esta mulher que leva orgulhosa acima dos olhos a marca maior de sua coragem. A cabeça careca.
Em 2004, aos 40 anos, Sheila estava no apogeu da carreira. Enquanto fazia suas aparições na televisão, desenhava produtos e lidava com clientes geniosos, seus cabelos caiam. Logo veio o diagnóstico: alopecia, uma doença autoimune. Com a doença, o veredito: ela teria que se reconhecer, pelo resto da vida, sem suas madeixas.
Aos poucos a figura de cabeça brilhante no espelho começou a parecer-se com ela. Foi então, numa tarde em que desfrutava o azul de sua sala de estar, que brotou no teto uma ideia. Sheila decidiu escrever um livro autobiográfico. “Eu acho importante que as mulheres contem suas histórias – especialmente as afrodescendentes”, disse. “Eu quis contar minha história, e só eu poderia contá-la do jeito certo, afinal, não deveria ser um livro sobre queda de cabelo, mas sobre se sentir confortável na própria pele”, explicou.
Assim, nasceu The Bald Mermaid, publicado nos Estados Unidos em julho. O livro assume um tom ácido, bem-humorado e, por que não, sensual. Uma amiga o descreve como “o encontro de Cornel West com Sex and the City”.
Atualmente, depois de abandonar sua carreira na televisão, a designer se dedica muito mais à produção de objetos interessantes, como a coleção de pratos cujo desenho é baseado nos marcos do seu bairro, o Harlem. Por causa de seus cabelos, ou da ausência deles, ela abandou mais que as aparições na telinha. Muita gente ficou para trás – amigos, amores e familiares. Um dos efeitos benéficos da calvície, como bem disse sua mãe, foi a seleção natural. Permaneceu na vida, só aqueles que valiam a pena.