Com sensos de humor e de cor fora do comum, e um olhar que se traduz em ambientes cheios de alma, a designer Kelly Wearstler virou darling dos interiores americanos. Especialmente da Costa Oeste, onde vive com o marido e os filhos e trabalha com sua equipe de arquitetos, designers e gente do marketing em seu estúdio – ali, cria desde um brinco até uma casa inteira, e comanda um poderoso e-commerce onde vende de tudo by KW. Em Hollywood, também a sua cara, como Beverly Hills, onde mora, mantém sua flagship boutique na Melrose Avenue.
Suas dimensões beiram o exagero sem perder as proporções, e seus ambientes de residências, restaurantes e hotéis resultam sensuais, cheios de brilho dos metais, texturas das pedras que ama e inúmeras peças exóticas – ainda que elas sigam uma hierarquia –, escolhidas a dedo no mercado vintage ou de sua própria produção. Amante do rústico misturado ao sofisticado e da irreverência sem ser engraçada, Kelly se transformou em diva do décor num mundo ultracontemporâneo, que revisita sem pudor o passado. Na entrevista exclusiva à Casa Vogue, a seguir, ela dá detalhes sobre sua obra eclética, mas absolutamente única.
Como define seu estilo? Minha estética é a de arriscar, justapor o rústico e o refinado, misturar high and low. Amo história da arte e, de verdade, não tenho um período favorito do design. Permitir que peças contemporâneas se harmonizem com referências históricas cria uma vibe distinta e plena de alma.
Você diria que existe atualmente uma evolução do minimalismo para o maximalismo? Qual seria sua participação nisso? O aspecto mais sexy da indústria do design é sua inconstância e jovialidade – o design está sempre andando para frente. Tento não pensar em termos de rótulos. Quero criar um sentido de aventura em meus interiores, mas designs calmos também podem ser poderosos.
Poderia nos explicar como é o seu processo de curadoria? Sou uma designer emocional. Fazer o meu trabalho é me apaixonar o tempo todo. Meu processo é altamente intuitivo. Posso me inspirar por um destino para o qual tenha viajado ou por uma peça-chave vintage. E sempre faço prateleiras organizacionais para cada espaço: uma ferramenta visual incrível, em que componho layouts com materiais, cores e texturas.
Como é a sua rotina? No seu escritório, na sua loja, fazendo compras
comos clientes... Minha agenda varia a cada dia. Estou sempre à procura, visitando fornecedores, encontrando com os clientes e trabalhando no meu estúdio e na loja. Enfrento bem grandes tarefas: fui garçonete por dez anos e posso encaixar uma dúzia de reuniões em uma só manhã. O estúdio é multifacetado, tem de tudo: do design de joias à arquitetura.
Existe uma escolha só sua de materiais, formas etc., ou os clientes têm o direito de opinar? Claro! Os melhores projetos são inevitavelmente aqueles em que o cliente tem voz ativa. e ponto de vista diferente. Meu trabalho é ser uma boa ouvinte e trazer a visão do cliente através do meu filtro.
Luxo e beleza: como eles podem estar juntos em uma casa, um restaurante ou um hotel? Acredito piamente que forma e função podem sempre coexistir, com tranquilidade. Luxo também é conforto e cuidado com os detalhes. A mãe natureza é a melhor designer. Isso pode se traduzir na forma de uma estampa de mármore ou na escolha de uma paleta de cores calma que dê destaque a uma vista “matadora” do oceano.
Quais elementos de arquitetura podem ser considerados os mais importantes em um projeto? Depende do espaço... Pé-direito alto e madeiras calorosas. Sou uma amante apaixonada de pedras e minerais. Detalhes metálicos dão profundidade e dimensão a qualquer recinto. Iluminação – que deve ser impecável – é absolutamente essencial para deixar um ambiente sexy e um clima elegante.
E os móveis e objetos? Eu vejo o mobiliário como uma espécie de escultura. Um diálogo entre materialidade e espiritualidade, com silhuetas emocionantes que carregam uma voz peculiar. Peças audaciosas podem formar um só look, ainda que deva existir uma hierarquia. Muitas estrelas em um só ambiente criam um drama desnecessário.
Que informações tem sobre arquitetos ou designers brasileiros? Roberto Burle Marx: amo o seu paisagismo, seu design de exteriores. João Filgueiras Lima, o Lelé: esse arquiteto sensacional é uma inspiração para o meu amor pela escultura. JoaquimTenreiro: adoro seus móveis, o uso da madeira e as proporções interessantes.
E o que você pensa sobre o futuro? Quais são os seus planos? Sempre temos novidades saindo do forno. Vou lançar uma coleção de iluminação neste verão e uma extensa linha de móveis no próximo outono. Projetos residenciais estão sendo finalizados agora em Nova York e em Los Angeles, e vamos decorar um hotel para uma nova cadeia, com sua primeira unidade prevista para inaugurar em San Francisco na primavera de 2016, e outras quatro em seguida.
Os favoritos de Kelly
Cores: bronze, preto e branco
Texturas: mármore, wengé e pirita
Estampas: geométricas, de inspiração grafite e pinceladas pictóricas
Metais: bronze, prata polida e latão
Pedras: labradorite, água-marinha e pirita
Pintores: Victor Vasarely, Cy Twombly e Pablo Picasso
Escultores: Sheila Hicks, Louise Nevelson e Constantin Brancusi
Arquitetos ou decoradores: Pierre Cheveau, Gio Ponti e Andrée Putman
Designers: Carlo Scarpa, Ettore Sottsass e Ico Parisi
Estilistas: Johnson Hartig, Nicolas Ghesquière, Pierre Hardy e Ashish
Estilos: Memphis, vienense e pós-Moderno
Décadas: 1920, 1970 e 1980
*Matéria publicada em Casa Vogue #357 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)