Quanto tempo é preciso para que possa um personagem de relevância cultural ser esquecido, ignorado ou totalmente desconhecido? Na era da informação rápida, abundante e imprecisa, sendo otimista, diria 10 anos. Poucos conseguem ser lembrados pelas gerações posteriores e o paranaense Artigas é um dos raros exemplos de arquitetos cuja obra é constantemente revisitada pelos jovens. Um dia fui (mais?) jovem e fiz parte do séquito de admiradores deste expoente da arquitetura paulista. Tinha 28 anos, um terreno com vista para o colégio Pio XII, declive muito acentuado, o que tornava qualquer obra caríssima para o bolso de um arquiteto tão jovem.
Um amigo da época e da vida, o Edu Leme, dono de uma galeria homônima, que era um dos meus jovens clientes e trabalhava no mercado financeiro, sugeriu que eu comprasse uma casa no Pacaembu, por ser melhor localizada e consideravelmente mais barata do que construir naquele "buraco". Saí um único dia com o corretor que, desanimado após visitar alguns imóveis, me disse: "tem uma casa que ninguém gosta... Muito esquisita e alta, mas se você quiser ver...". Mesmo antes de entrar, vibrei. "Eu quero!", gritei. "É essa aí e deve ser do Artigas!".
A casa onde moro há 24 anos faz parte da primeira fase bem "corbusiana": um cubo com janelas apoiado em pilotis. Artigas tinha a minha idade quando a desenhou, aos 28 anos, para um amigo, Rivadavia de Mendonça, que, até onde sei, era membro do " partidão" e pai de Inês Petit, esposa do falecido Francesc Petit da DPZ, cuja família eu conhecia por conta de vários almoços em Santana do Parnaiba. Moro ali até hoje e reluto em me mudar, apesar dos apelos constantes da Ligia, minha mulher, por ser uma casa, por ter escadas e sobretudo por eu estar lá há tantos anos, mesmo antes de nossas vidas se cruzarem.
Todos os dias admiro a implantação num terreno com aclive tão acentuado a iluminação natural em todos os cômodos, a ventilação cruzada, a ampla sala que se contrapõe aos pequenos dormitórios. Claro que tive que interferir para poder adequar o imóvel a nossa vida... A chapelaria virou lavabo, o quarto maior ganhou banheiro e closet, construí uma piscina – mas nada que removesse a autoria de Vilanova Artigas. A saber, hoje começa, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149), a exposição "Ocupação Vilanova Artigas". Imperdível!