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A obra de Mario Merz em 5 tempos

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Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

Muitas vezes as surpresas mais preciosas de bienais e feiras de arte estão nas exposições paralelas. Na abertura da última Bienal de Veneza não foi diferente. Entre as mostras mais bacanas, está Mario Merz – Città Irreale : primeira individual do italiano em seu país desde 2005 que inaugura novos espaços expositivos na Gallerie dell'Accademia.  A ideia? Homenagear este grande artista da Arte Povera e a própria Veneza... uma cidade irreal (ou surreal). O título, aliás, é a apropriação de um conceito usado em alguns trabalhos de Merz, pois ele sempre questionou as concepções de espaço e representação: começou com os objetos perfurados por neons, continuou com a criação dos iglus e das mesas em espiral e se estendeu para os projetos arquitetônicos.

A seleção de obras feita por Bartolomeo Pietromarchi é significativa e perfeita para quem quer aprender mais sobre o artista. Afinal, todos os elementos que aparecem com frequência do discurso de Merz estão lá. Veja alguns abaixo e visite a mostra com eles em mente.

1. Os neons

Repare nos trabalhos dos anos 1960, como Impermeabile. É neste momento (e com estas obras) que o artista começa a questionar conceitos de representação usando objetos ordinários com neons atravessados. Neste momento, ele pega o conceito do ready-made de Duchamp e dá um toque... digamos, místico. Para Merz, o fluxo de energia da luz serve para anular o status – funcional e material – de cada objeto de forma simbólica e poética. Desta forma, objetos do dia-a-dia tonam-se “nobres” não pelo fato de serem representados em uma pintura ou escultura, mas por se transformarem eles próprios em obras de arte e atingirem uma “quarta dimensão”.

LEIA TAMBÉM: Uma mostra para as pinturas de Duchamp

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

 

2. Iglu

O iglu é um elemento frequente e resume a visão de Merz sobre o que significa “a existência neste mundo”. Os abrigos semiesféricos representam o espaço essencial para um corpo protegido e a vontade de “parar de ser um arquiteto de formas desnecessárias e ineficientes” para criar ambientes completos nos quais propõe não apenas novas estruturas, mas também atitudes. Ou seja, é o espaço absoluto nele mesmo, o espaço vital. Eficiência máxima e esforço mínimo.

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

5artisti-104 (Foto: Editora Globo)

 

3. Sequência de Fibonacci

Já a série numérica descoberta pelo matemático Leonardo de Pisa (conhecido como Fibonacci) em 1202, que começou a aparecer a partir dos anos 1970 nos trabalhos de Merz, representa o dinamismo do crescimento e reprodução orgânica. Nasce aí um link entre as obras do italiano e a arquitetura, pois “criar um ambiente” significa, para ele, “criar um estilo de vida” e a palavra criação está diretamente ligada aos números progressivos. 

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

Basta reparar em 74 gradini riappaiono in una crescita di geometria concentrica, no pátio do centro cultural, onde os elementos arquitetônicos também são tirados de seu contexto para reaparecer em forma de oito iglus. O resultado? O campo ideal, na concepção de Merz, de estruturas nômades abstratas que parecem ter nascido natural e magicamente!

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

E, se na série cada termo subsequente corresponde à soma dos dois anteriores, vale reparar na obra Una somma reale è una somma di gente: uma série de fotos tiradas em um restaurante (sempre no mesmo ângulo) usando a presença dos clientes de acordo com a regra somatória de Fibonacci. Na primeira, não há clientes. Na segunda, há um homem. Na terceira, uma mulher. Na quarta, dois clientes: o homem e a mulher (a soma das imagens anteriores). Depois 3, 5, 8, 13 e assim sucessivamente  até completar 55 clientes.

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

 

4. O espiral

A forma espiral está diretamente ligada à sua obsessão pelo crescimento orgânico traduzido pela sequência de Fibonacci e traz à tona a concepção de espaço e tempo explorada pelo artista que vai de encontro às teorias modernistas. Ele acredita no tempo cíclico e orgânico e não no pensamento ligado diretamente ao progresso e à linearidade. O espiral representa, ainda, um espaço governado pelas regras naturais de crescimento orgânico – o que aponta, consequentemente, para a ideia de expansão e proliferação infinita. Merz busca, então, ressaltar a experiência e história acumulada do entorno enquanto os modernistas criavam o espaço utópico ignorando o entorno. 

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Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 


Vale lembrar: este conceito tornou-se ainda mais potente quando Mario Merz ganhou uma histórica retrospectiva no Museu Guggenheim, pois ele usou a sequencia numérica de Fibonacci (referencia ao crescimento orgânico)  na rampa do museu desenhado por Frank Lloyd Wright.

Editora Globo (Foto: Editora Globo)

 

 

5. Mesa:

Merz cria uma série de mesas em forma espiral. O objeto de décor é, antes de mais nada,  um “espaço sociável limitado construído sobre o solo” usado pelo coletivo para compartilhar e representa outra necessidade humana vital: viver em companhia.

Mario Merz (Foto: Divulgação )

 


Mario Merz – Città Irreale
Data: até 20 de setembro
Local: Gallerie dell'Accademia
Endereço: Campo della Carità, 1050, 30123 Venezia, Itália

 


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