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A beleza do hotel Okura, em Tóquio

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Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Cruzar o hall de entrada do Hotel Okura, em Tóquio, é como voltar aos anos 1960. A combinação harmoniosa de madeira, painéis de papel e luminárias pendentes dá a primeira pista da riqueza de detalhes no interior do prédio construído dois anos antes dos Jogos Olímpicos de 1964. “É uma experiência como nenhuma outra”, diz Tomas Maier, diretor criativo da Bottega Veneta. Entretanto, apesar de ser exemplo dos mais emblemáticos da arquitetura modernista japonesa, o icônico edifício está com os dias contados. Previsto para ser fechado em agosto e demolido em setembro deste ano, dará lugar a uma torre de vidro de 38 andares.

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Sensibilizado pela destruição iminente, Maier, que vem de uma família de arquitetos alemães, propôs o movimento de valorização da arquitetura modernista no Japão. O estilista conta que se apaixonou pelo visual do hotel, começando pelo lobby, em meados dos anos 1980, quando visitou a cidade pela primeira vez. A junção de formas limpas e minúcias preciosas o impressionou. “Infelizmente, os detalhes artesanais que são vistos lá, feitos por mão de obra especializada, não são mais produzidos.”

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Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

O hotel foi erguido por um grupo de arquitetos renomados, liderados por Yoshiro Taniguchi, com o suporte do artista folk Shiko Munakata e do oleiro Kenkichi Tomimoto. É esse tipo de interferência, valorizando as raízes locais, que fez a diferença nessa fase da arquitetura japonesa. “Vemos uma personalidade, uma linguagem bastante específica”, diz a arquiteta japonesa Toshiko Mori, entusiasta da iniciativa e que vem trabalhando próximo a Maier – é dela o projeto contemporâneo da casa do estilista, nos Estados Unidos.

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Segundo Toshiko, a discussão em torno dos prédios remanescentes do movimento modernista no Japão é uma atitude cívica, além de uma responsabilidade social. De maneira geral, no Japão, preservam-se antigas construções, assim como há um desejo pelo novíssimo. “Esse período do Okura caiu em um gap. É o que eu chamo de ofensa histórica”, protesta Toshiko. Em novembro do ano passado, um simpósio apoiado pela Bottega Veneta, realizado no Museu de Arte Contemporânea do Século 21, em Kanazawa, abordou a importância de se resguardar o modernismo nipônico.

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Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Como parte da ação para chamar a atenção do mundo, a marca italiana vem convidando, desde dezembro, pessoas comuns a visitarem o hotel. Aqueles que participam devem postar suas fotos nas mídias sociais com a hashtag #MyMomentAtOkura e enviar as imagens para o e-mail mymomentatokura@jp.bottegaveneta.com. Até o fechamento desta matéria, eram quase 2.500 fotos no Instagram mostrando cantinhos luxuosos, a delicadeza dos jardins típicos, destaques da gastronomia e nichos deslumbrantes da decoração.

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

A arquitetura tradicional japonesa começou a ser repensada após a Primeira Guerra, sob a influência de arquitetos como o americano Frank Lloyd Wright e o alemão Bruno Taut. Ao contrário do Ocidente, as linhas modernistas sempre buscaram respeitar a antiga cultura. O movimento ficou mais forte depois de 1945, com os avanços científicos e tecnológicos. Um dos impulsos foi preparar Tóquio para a Olimpíada. Edifícios notáveis surgiram nessa época, como o Estádio Nacional Yoyogi, assinado por Kenzo Tange, além do Hotel Okura.

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Num movimento cíclico, o Japão está novamente se preparando para receber a competição mundial em 2020, e isso significa abrir espaço para a renovação. Para quem está com viagem marcada para Tóquio até o próximo mês, esta é a última chance de ficar hospedado neste ícone modernista.

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

Circuito modernista

Além do Okura, Tomas Maier tem se preocupado com outros representantes do movimento modernista japonês. Entre eles, construções assinadas pelo arquiteto Kenzo Tange. Primeiro japonês a ganhar o Pritzker (1987), ele ajudou a mudar a paisagem urbana do Japão após a Segunda Guerra inspirado por Le Corbusier, mas sem abandonar a cultura local. Um dos mais importantes trabalhos de Tange, o Kagawa Prefectural Office Building (abaixo, com a presença de Maier), de 1958, na província de Kagawa, exibe perfeito equilíbrio entre tradição e modernidade. Apesar de ter mais de 50 anos, seu traçado não está obsoleto. Isso se deve, principalmente, ao fato de lembrar construções tradicionais de madeira. Mas o concreto, os vidros e os pilotis acrescentam um visual atemporal. Essa estrutura significou uma ruptura com a imagem autoritária das sedes de antigos governos japoneses e vem inspirando outros prédios públicos desde o seu surgimento. Com approach brutalista, o Kagawa Prefectural Gym, de 1964, possui um desenho oval suspenso por quatro enormes pilares, o que lhe dá a aparência de um barco. Abalado por terremotos, o edifício está fechado desde o final do ano passado. O escritório de Tange, autor do projeto, apresentou três propostas de reforma, sem sucesso.

*Matéria publicada em Casa Vogue #358 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

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Hotel Okura (Foto: Tetsuya Ito / Divulgação)

 

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