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As faces mais criativas da Coreia

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Enquanto as tensões entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul continuam a ameaçar os cidadãos de ambos os países, artistas e designers do lado capitalista encontram expressão e fuga em projetos que ganham destaque no mundo pela pureza, elegância e significado. Conheça abaixo as mais relevantes criações coreanas da atualidade.

Drifting Tree House with Orangey Branches (Foto: Florian Kleinefenn / cortesia Galerie Chantal Crousel)

Corpo e espaço

Conhecida pelos totens antropomórficos compostos por elementos multicoloridos (lâmpadas, cabos, plantas artificiais, correntes, penas e roupas), Haegue Yang participa pela segunda vez da programação artsy da Bienal de Veneza – dois anos atrás, esteve no pavilhão de seu país e agora está entre outros jovens na paralela Who is Alice?, no Spazio Lightbox, naquela cidade italiana, até 24 de novembro. São belíssimas as instalações feitas com persianas coloridas (na foto, Drifting Tree House with Orangey Branches) que questionam sua natureza ambivalente de obscurecer ou permitir a entrada de luz e propõem a participação do público, que pode girá-las e ter diferentes percepções enquanto permeia a obra. Alguma semelhança com os penetráveis de Hélio Oiticica? Sim. A artista cita o brasileiro na obra cinética e imersiva que montou em 2011, Cittadella, composta por 200 persianas de alumínio que refletem luzes pontuais e promovem a difusão de odores que simbolizam terra, enxofre vulcânico, oceano e grama, entre outros.
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O vídeo Vulgar Flesh (Foto: divulgação)

Movimento e estagnação

Depois de diversas exposições em seu país, a artista Eunji Cho chamou a atenção do mundo das artes no início deste ano, quando participou da mostra Walking Drifting Dragging, no New Museum, em Nova York, ao lado do brasileiro Paulo Nazareth. Interessada em ativar o movimento e a energia inerentes a restos urbanos, como lama, pedra, poeira e até carnes abandonadas no açougue (acima, o vídeo Vulgar Flesh tem pouco movimento e música melancólica de Jonathan Dowman), ela faz vídeos, performances e instalações explorando a presença do homem moderno, que fica frágil como o estrangeiro no território alheio. No vídeo Earth Thief, exposto no New Museum, por exemplo, ela registra sua travessia por centenas de fronteiras dentro de Berlim – algumas visíveis e ativas e outras já extintas, como o Muro de Berlim– enquanto coleta punhados de terra, pedregulhos e plantas. Uma referência mais do que pessoal: “A linha está sempre na minha mente”, referindo-se à fronteira entre a Coreia do Norte e a do Sul.
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Instalação da série Secret Star (Foto: divulgação)


Memória estrelada

A artista Youngmi Chun se interessa pelas contradições referentes à busca da perfeição. Nos últimos anos, trabalhou na série Secret Star, na qual investigou o próprio conceito de escultura e imagem da estrela celeste como um dos diferentes estados da existência humana (na instalação da foto, por exemplo, a forma só pode ser entendida ao olhar para o espelho, no alto, que reflete a escultura). O fascínio teve início quando ela ganhou uma pulseira de desenho estrelado que se despedaçou. Era uma lembrança pessoal que a artista logo relacionou às estrelas do rock e aos monumentos dedicados a elas. “São símbolos públicos para que memórias privadas não sejam esquecidas. Eu queria fazer o meu”, explica. No momento, Youngmi está desenvolvendo um trabalho com imagens publicadas nas mídias sul-coreana e inglesa.
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Mesa de concreto e argila esculpida à mão e pintada com camadas de esmalte céladon (Foto: divulgação)


Poesia das estações

Depois de ter feito faculdade de cerâmica, mestrado em escultura e obter o título de doutor em arquitetura, o designer Hun-Chung Lee virou referência em seu país por transformar materiais frios – como concreto e aço –em mobiliário escultural elegante e etéreo. Já usou também, em seus experimentos, gelo, chocolate, pétalas de flores, doces, vidro, lâmpadas, bambu e até lixo. Recentemente, voltou às raízes de ceramista para criar bancos, cadeiras e mesas de concreto e argila esculpidos à mão e pintados com camadas de esmalte céladon – desenvolvido no século 15, esse processo traz o verde (acinzentado e pálido), o amarelo ou o azulado a partir da oxidação do ferro. As formas e cores são inspiradas na natureza e nas estações climáticas coreanas, transformando as peças em “pintura de paisagem tridimensional”, como define Lee, que, não à toa, é fã de Hugo França.

Cadeiras de concreto e argila esculpidas à mão e pintadas com camadas de esmalte céladon (Foto: divulgação)

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Peça em que é possível deitar e também meditar (Foto: cortesia Gallery Seomi)


Linhas do horizonte

O designer Bae Se Hwa tem conquistado o mundo com seu mobiliário de linhas dinâmicas e suaves, inspirado em paisagens do interior sul-coreano. Brinca ao dizer que faz “móveis calmos e serenos” e de estrutura simples, recorrendo aos cubistas, que transformavam a natureza em formas geométricas. Na última coleção, Bae usou tiras de madeira retorcida por meio da técnica da flexão a vapor, que, posteriormente, são sobrepostas. Se as lacunas entre as placas resultam em curiosos volumes transparentes, a sutil tensão entre as linhas retas e curvas traz à tona as forças opostas do yin-yang. A tradição oriental também aparece na hora de pensar na funcionalidade: desenhou, por exemplo, uma peça em que é possível deitar e também meditar. “Busco materiais, técnicas e formas para fazer um mobiliário capaz de proporcionar equilíbrio, paz interior e sanidade mental.”
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Cadeira-varal (Foto: divulgação)


Memórias de infância

Conectado com a tendência mundial dos móveis híbridos, o designer Seung-Yong Song fez uma cadeira-varal, uma poltrona-estante e uma cama-mesa por razões pessoais. “Essa coleção nasceu quando eu morava em Paris. Era tudo tão apertado que comecei a pensar sobre o prazer do espaço, mesmo que pequeno.Queria criar um ambiente aconchegante, mas sem entulhos, como um ninho de pássaro”, explica. Sempre com o objetivo de criar bem-estar espiritual, ele também desenhou Object-O, cadeira-cocoon inspirada nas memórias de sua infância, quando fazia suas “casas” debaixo da mesa ou dentro do guarda-roupa. “Sentia-me confortável e protegido daqueles inimigos que eram, na verdade, invisíveis. Nesta peça, recriei esse espaço secreto e tranquilo”, conta o coreano que, neste ano, foi um dos vencedores do prêmio W Hotels Designers of the Future na Design Miami/Basel.

Object-O, de Seung-Yong Song (Foto: divulgação)


* Matéria publicada em Casa Vogue #337 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)


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