
Lidewij Edelkoort é uma respeitada pensadora e trend hunter, sem dúvida a mais famosa do mundo. Esta senhora holandesa, de olhos azul profundo, que só usa branco ou preto e pinta seus lábios com batom vermelho carmim, há mais de 30 anos avalia cores, formas, materiais e até alimentos que estarão em pauta no futuro. Seu trabalho é viajar pelos continentes, respirar “l’air du temps” e analisar o comportamento dos consumidores para grandes marcas internacionais, como Gucci, Prada, Armani, Zara, Nissan, Lancôme, Estée Lauder, Shiseido e Coca-Cola.

Em meio a uma e outra jornada planetária, sua vida pessoal se desenrola entre Amsterdã e o 14º arrondissement de Paris, próximo a um poético jardim sobre o qual se debruçam as generosas janelas e longe dos hot spots da cidade. Em uma espécie de contêiner branco de dois andares, resquício de um antigo edifício industrial em que várias salas pequenas deram lugar a ambientes espaçosos, os móveis e objetos – os quais muitos não se sabe se são esculturas – estão em constante movimento. Li, como é chamada, abriu as portas sem se preocupar como que iria ser fotografado, o que é raro, mas também inteligente. O caminho a ser seguido está bem sinalizado.

Vemos peças do Studio Job e de Maarten Baas, passando por preciosidades dos irmãos Campana, cuja obra artesanal Li possui e admira de maneira muito particular. “Humberto e Fernando são muito fetichistas em seu design, cultuam madeira, couro e metal tanto quanto ervas daninhas e materiais reciclados”, conta. “O trabalho deles mostra que designers também são artistas, o que não os impede de criar modelos em série a preços democráticos. É exatamente isso que reforça o seu talento: transitar de um ofício para outro, aprendendo com as experiências na arte e na indústria”, acrescenta.

Aqui é o local onde Li se reúne com sua equipe para analisar e conceituar as mil ideias coletadas em todo o mundo. “Este lugar é o meu santuário, um ponto para refletir, escrever e falar com os meus clientes e amigos”, diz. “Vivo cercada por minha coleção de design e meus objetos favoritos, nunca deixaria entrar, por exemplo, um móvel de escritório.” E embora a atuação da equipe se baseie em pesquisa, charme e talento têm prioridade. “Como acreditar na existência de um produto sem design?” É algo que a guru não se cansa de repetir. Quando lhe perguntarmos o que a entedia no design de hoje, responde: “As formas facetadas”. Sua maneira de conduzir os negócios é desconcertante, uma vez que não estabelece relações de hierarquia; sua influência é tamanha que tudo se organiza naturalmente ao seu redor.

Enquanto trabalha, também adora ficar na cozinha. “Acho bom quando posso preparar uma refeição, mas apenas um prato, sem entrada ou sobremesa – não sou muito boa de garfo. Como sociedade, já comemos o suficiente. Sou mais de pequenos snacks”.
Apesar de tanta investigação séria, baseada em métodos consolidados, a sábia trend hunter aponta que a coisa mais importante, de fato, é um bom olfato. Sua pesquisa se alimenta da reflexão existencial e da inspiração que a natureza oferece. Isto é expresso em seu caderno de tendências, apresentado duas vezes por ano e ao qual recorre como a uma bíblia. Sua vida é observar, e não gosta que a observem. Fala pouco, mas seu trabalho diz muito.


