
A Old Belchers Farm sempre esteve presente na vida de Michael Hue-Williams. Trata-se de uma extensa propriedade rural que pertence à sua família desde o século 17, em Little Milton, vilarejo a uma hora de Londres, próximo a Oxford. Ainda que ele tenha aberto sua primeira galeria, homônima, na capital britânica em 1988, com projeto de John Pawson, sua relação com a fazenda permaneceu constante. Àquela, seguiu-se a Albion Gallery, sua segunda aventura artística, para a qual contou com o desenho de Norman Foster. Após alguns anos de sucesso, Hue-Williams decidiu levá-la da cidade para o campo, rebatizada de Albion Barn.

Coube à arquiteta suíça Christina Seilern adaptar os vários edifícios de pedra, madeira e tijolo, construídos ao longo do tempo em torno de um grande pátio central: desde a sede da fazenda, onde o proprietário vive com a família e está exposta a maior parte das obras de arte, até os silos antigos, que abrigam exposições temporárias. Para tanto, a profissional manteve a aparência tradicional do exterior e renovou os interiores – mais de 650 m² totalmente adaptados à criação contemporânea. “Este conceito de galeria é muito diferente dos anteriores. As pessoas não passam na frente e entram, temos de trazê-las para cá, organizar eventos, almoços que as atraiam”, diz Hue-Williams.

Talvez por isso, a sala de jantar de um dos celeiros seja o centro nervoso da reforma empreendida. Lá, sobre uma mesa de Marc Newson, pende uma luminária colorida dos irmãos Campana, enquanto um caranguejo de porcelana coberto por uma rede de crochê da portuguesa Joana Vasconcelos escala a parede. Outro ponto focal é a biblioteca, onde Christina Seilern deus asas à imaginação. Quando a porta é fechada, o recinto se torna um refúgio secreto, em que tanto a saída como as paredes são camufladas pelos livros.

Do lado de fora, entre pomares e jardins, espalham-se peças, esculturas e obras site specific, uma mais surpreendente do que a outra, como a videoinstalação do artista americano Tony Oursler (uma presença fantasmagórica projetada em uma árvore próxima à passagem dos visitantes); a pequena casa colorida à beira da quadra de tênis, do britânico Richard Woods; a betoneira de aço corten do belga Wim Delvoye; as rochas de inox do chinês Zhan Wang; ou o pavilhão de James Turrell para contemplar o céu. “A Old Belchers Farm nos permite realizar projetos em uma escala muito maior do que poderíamos em uma galeria convencional na cidade. A coleção de esculturas ao ar livre visa à criação de um legado que destaque a relação e o diálogo que temos com os artistas”, completa. Para Hue-Williams, esta foi a principal razão para se mudar. Aqui ele experimenta a simplicidade da vida no campo. E um pouco de arte...




