Reflexões em torno de aspectos da vida como perdas e relações entre cuidado, apego e negligência aos objetos cotidianos, que atendem necessidades diárias, levaram a artista plástica Livia Marin a desconstruir suas cerâmicas. Copos, tigelas, jarros e potes foram fragmentados, mas - ao invés de quebrá-los -, ela os derreteu com o intuito de demonstrar algo que está prestes a ruir. Neste sentido, a artista interrompe o processo de um "acidente" para incentivar a observação, entre formação e dissolução, e como tudo pode ter um fim se não receber o devido cuidado.
A coleção Padrões Nômades, apesar de parecer estar prestes a derreter completamente, mantém os desenhos intactos. Eles seguem motivos criados por Thomas Minton, em 1780, que elaborava gravuras em cerâmicas utilizando a técnica do pastiche – trabalhos que imitam abertamente algo que já foi realizado. Usando dessa liberdade criativa de copiar, Minton fazia estampas em azul ou vermelho sobre um fundo branco, que eram extremamente parecidas com as paisagens feitas em cerâmicas e porcelanas chinesas.
O sucesso que o londrino obteve com seus desenhos orientais caiu na banalidade tempos mais tarde - e coube à artista plástica resgatá-los. Para ela, a integridade de projetos que uma vez foram exclusivos e desenvolvidos especialmente para cobrir xícaras ou pratos não pode se tornar algo que passa despercebido. O olhar nostálgico que a coleção Padrões Nômades carrega é um alerta de Marin acerca da história de prestígio que muitas peças carregam consigo.
A artista plástica chilena, que hoje vive em Londres, colecionou ao longo de anos instalações realizadas com produtos que passaram a ser produzidos em larga escala. Através deles, Livia investiga a natureza das relações entre o material e as pessoas, na era em que tudo é descartável, e deseja trazer de volta o significado único que cada item carrega.