O ano que se encerra revelou ótimas criações no design brasileiro, que cresce em qualidade dia após dia. Mas o que define o bom design? Dentre os fatores possíveis, originalidade e inovação – estética ou matérica – são fundamentais. Foram estes os critérios que nortearam a equipe da Casa Vogue na difícil missão de eleger os melhores produtos da “safra 2013”. Tim-tim!
Mobiliário
Cabideiro da série Coletiva, de Maurício Arruda
Uma peça híbrida, flexível, cuja utilização é determinada pelo usuário. Assim é o cabideiro da série Coletiva, de Maurício Arruda. “A ideia era fazer móveis nos quais a função e o lugar a ser usado fossem uma decisão do consumidor, e não minha. Assim, ele assumiria um papel mais pró-ativo, como se fosse coautor da peça – por isso o nome Coletiva”, explica o designer. A estética minimalista, mas sem frieza, também conquista – fruto da bem dosada combinação entre a estrutura metálica tubular e os materiais “quentes”, como a madeira, o couro e a palha.
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Tableware
Coleção Transatlântica, de Brunno Jahara
Lançada em janeiro deste ano, durante a Maison & Objet, a linha de porcelanas criada por Brunno Jahara para a Vista Alegre funde traços das culturas brasileira e portuguesa para criar um híbrido contemporâneo. “Busquei símbolos que remetessem à história desses dois países. As estampas surgiram a partir de colagens de arquivos antigos e, claro, tecnologias digitais. Um misto de passado e futuro que reflete o momento atual”, diz o designer. Sua peça favorita dentre as 70 que compõema coleção? O jarro d’água aqui publicado – item bastante simbólico (já que a linha tem o oceano como fio condutor) que inova também pela forma, até então inédita no catálogo da fábrica portuguesa.
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Têxtil
Tapeçaria Horário de Verão, de Alexandre Heberte
Mesclando técnicas tradicionais da tecelagem artesanal com a inovação da tessitura, Alexandre Heberte criou esta tapeçaria artística de 0,37 x 1 m: “Há variações de passa-fita, ponto mexicano e panamá, e ainda interpenetrações, técnicas kilim e gobelin, que possibilitam fendas e uniões, mais os nós do tipo soumak, turco e smirna”, conta o tecelão cearense radicado em São Paulo. Para criar a peça, evocou “a memória dos fins de tarde na Pedra do Vento, na Serra do Catolé, onde está localizada a estátua do Padre Cícero”. Além de lã, algodão e fibras sintéticas, ele utilizou, na trama, fitas cassete e VHS reaproveitadas: “Procuro sempre ampliar o universo das matérias-primas”, afirma.
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Outdoor
Banco Dominó Concreto, de Claudia Moreira Salles
A simplicidade é o principal trunfo deste banco, perfeito para espaços externos, mas que pode tranquilamente mobiliar qualquer living. Um desdobramento do banco Dominó (criado em 2010 e executado com madeira), o Dominó Concreto se aproxima ainda mais da arquitetura modernista pelo uso da matéria-prima. “O concreto é um material com o qual venho trabalhando e que possui a vantagem de ser moldável, ter a superfície variável de aspecto, dependendo do pigmento e do tipo de pedra empregado, e, neste caso, ser usado em áreas externas”, afirma Claudia Moreira Salles.
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Iluminação
Pendente Huñati, de Marcelo Rosenbaum, Fetiche Design e Nada Se Leva
A peça, comercializada pela La Lampe, é uma das criações resultantes da terceira edição do projeto A Gente Transforma, realizada numa aldeia indígena yawanawá, no Acre. Aqui, diversas lâmpadas do tipo globo são agrupadas em uma rede de miçangas feita pelos yawanawá com base em técnicas artesanais transmitidas há gerações. O produto final – uma luminária de 0,70 x 1,53 m, imponente e nada convencional – exalta a beleza do feito à mão e remete à pesca, outra atividade característica da tribo. Segundo Rosenbaum, este “é o resultado de uma nova forma de aliança, de troca de fazeres e conhecimento, possibilitando a liberdade e o reconhecimento de um povo que guarda tantos saberes”.
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Revestimento
Coleção Concreta, de Laura Ahrons e Luciano Mandelli
A inspiração, como o nome indica, veio do movimento concretista das artes plásticas, ocorrido nas décadas de 1950 e 1960. Elaborados a partir de formas geométricas básicas, os módulos tridimensionais desta coleção lançada pela Oca Brasil permitem a composição de painéis únicos e totalmente personalizáveis. “A liberdade de mesclar cores e formas é o principal trunfo deste revestimento. A instalação dos mosaicos na parede convida a um momento criativo e possibilita a todos a arte de criar seu próprio painel”, afirma Laura Ahrons. A linha é formada por sete modelos – na foto, composição com os módulos Ikat.
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Acessório decorativo
Coleção Herbário, de Rodrigo Almeida
Concebida para celebrar os 10 anos da Legado Arte, esta coleção de cerâmicas desenvolvida por Rodrigo Almeida é formada por peças nascidas do acúmulo e da sobreposição de cores, formas e texturas. O projeto se baseou em muita pesquisa histórica e experimentação, como conta o designer: “Dissecando a produção de cerâmica das últimas décadas, construí a linha mestra desta coleção”. O resultado são 19 peças únicas, entre vasos e luminárias, que estabelecem um diálogo de formas clássicas com orgânicas, valorizando “a energia e o poder de comunicação do projeto”, nas palavras de Rodrigo.
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Assento
Cadeira Corten, de Zanini de Zanine
Escultórica até o talo, a cadeira tira partido das propriedades do aço corten com um desenho geométrico que valoriza a espessura sutil da chapa metálica. “Quis explorar uma estética delicada, mas ao mesmo tempo toda a resistência, a força e o peso do material”, revela Zanini de Zanine. Ao rigor da forma, opõe-se o aspecto irregular do acabamento: soldas aparentes aliadas à oxidação irregular do aço corten, aqui inaugurado pelo designer. “Busquei uma peça funcional, mas com aspecto de uma genuína escultura”, conta Zanini. Dito e feito!
* Matéria publicada em Casa Vogue #340 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)