O fim do ano convida a refletir sobre o que passou e imaginar o que está por vir. Quando o tema é o design brasileiro, essa retrospectiva é motivo de satisfação, graças à qualidade da nossa produção. Mas, justamente por isso, destacar apenas dez entre as ótimas criações nacionais dos últimos 12 meses não foi tarefa simples. Critérios básicos? Além de agradar aos olhos, inovação e originalidade são essenciais. Com vocês, os eleitos de Casa Vogue!
Cadeira de Três Pés - Ricardo Graham Ferreira (O Ebanista)
Muitíssimo elegante, a cadeirinha de madeira maciça se destaca pela estrutura delgada e pela corda que desenha o espaldar ao percorrer, em zigue-zague, os furos demarcados no topo do encosto e na parte posterior do assento - abaixo dele, um palito permite torcer a corda e tensioná-la, método simples e eficiente. Feita com técnicas tradicionais de marcenaria, a peça também se destaca pela execução cuidadosa, que se revela em detalhes como o encontro entre o encosto e o pé posterior. Os três pés, aliás, são uma resposta do designer ao desejo de estabilidade constante para o móvel, ainda que em pisos irregulares.
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Banco revisteiro - Zanini de Zanine
Material pouco empregado em mobiliário, o aço inox se prestou lindamente à construção deste banco, que tem como referência as esculturas neoconcretas de Franz Weissmann (1911-2005), com os cortes, planos e dobras que o artista criava na superfície metálica. Apresentado na IDA, feira de design da Arte Rio, e na MADE, em São Paulo, o banco integra o projeto Fuori Serie, da Mekal, que fabrica peças de aço inox assinadas por designers brasileiros. Produzido em série limitada a 100 unidades.
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Criado-mudo da coleção Capacho - Fernando e Humberto Campana
Além da geometria inusitada, o móvel chama atenção pelo uso, como revestimento, do capacho de fibra de coco – material que a dupla começou a explorar em 2012, na concepção da cenografia para sua exposição Barroco Rococó, no Musée des Arts Décoratifs, em Paris. Mestres em deslocar matérias-primas singelas e dar-lhes nova leitura, aqui os irmãos designers não só tiraram partido dessa expertise, mas criaram uma peça bastante funcional. Desenvolvido especialmente para a Firma Casa, o móvel será produzido em edição limitada a 75 exemplares (mais cinco provas de autor).
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Tecidos da coleção Tarsila do Amaral - JRJ Tecidos
O rico universo da artista foi o ponto de partida para a equipe da JRJ criar, com a consultoria do arquiteto Michel Safatle, uma linha de tecidos com mais de 40 estampas, duas das quais nos atraíram especialmente. Em Joias, o desenho surge a partir do formato de um brinco usado por Tarsila em um autorretrato, com o vermelho de um mantô, vestido em uma festa dada por Santos Dumont. Já em Piano, a inspiração são as teclas do instrumento musical que lhe era tão caro.
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Cadeira de balanço Licci - Jader Almeida
À primeira vista, nota-se o refinamento do traço e dos materiais – o latão, a madeira, o couro. Em seguida, a leveza, que se manifesta na redução formal e também em detalhes construtivos, como os apoia-braços que não tocam na estrutura, parecendo flutuar. O “balanço”, na verdade, está ali mais para acolher o corpo do que propriamente para balançar, como explica o designer: “ela acomoda vários biotipos graças à soleta que se molda ao corpo e ainda ao balanço, que dá equilíbrio”.
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Aparador Cello - Jacqueline Terpins
A sutileza da forma é o que conquista nesta peça, que parece levitar graças aos três finíssimos apoios de metal, que pousam delicadamente sobre o piso. Os contornos fluidos e sinuosos foram inspirados pelo universo dos luthiers: durante um concerto, Jacqueline se interessou pelas formas dos instrumentos de corda. A execução do aparador, assim como a dos instrumentos que encantaram a designer, é totalmente artesanal e tradicional, mas o resultado é indiscutivelmente fresco e contemporâneo.
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Luminária Tempo - Osvaldo Tenório
Inspirada nos ponteiros do relógio, a peça é composta por uma haste fixa e outra móvel, que pode ser girada conforme a necessidade de iluminação. Feita de bronze e latão, a luminária utiliza lâmpadas incandescentes vintage nas duas hastes. Desenvolvida inicialmente para a residência do designer, entrará em produção em série numerada a partir de 2015, juntamente com outros projetos do pernambucano.
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Balanço amor perfeito - Claudio Corrêa (Marcenaria Baraúna)
Dois planos de madeira, inclinados em direções opostas e estruturados por travessas cilíndricas do mesmo material, compõem o assento deste balanço, executado com cabreúva e ipê. Sintética na forma, mas ampla no significado, a peça foi idealizada como uma namoradeira, na qual duas pessoas sentam em direções opostas para que os olhares se encontrem e o diálogo flua. O uso dos planos inclinados, frequente no design de cadeiras, aqui foi um ponto de partida e também um desafio, superado com maestria. O balanço foi concebido a convite do BOOMSPDESIGN e apresentado ao público no Museu da Casa Brasileira.
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Mesa de trabalho Adolpho - Sergio Rodrigues
No início dos anos 1990, Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete, encomendou a Sergio Rodrigues (1927-2014) a criação de mesa e poltrona para sua sala de trabalho. Além da amizade que tinham, Adolpho era profundo admirador do trabalho de Sergio, tendo lhe dado carta branca. Originalmente executada com mogno, a mesa encanta pela harmonia dos traços, generosos sem ser pesados, algo que Sergio Rodrigues sabia fazer bem. Reeditada este ano e apresentada na IDA, feira de arte da ArteRio, a mesa passa a integrar o catálogo da Etel Interiores, feita com madeiras certificadas como cedro, freijó e sucupira.
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Vasos da série Líquida - Heloisa Galvão
Explicitar a natureza da matéria-prima e do próprio processo produtivo é um dos méritos desta série de utilitários, que neste ano ganhou novos vasos e a cor rosé, desenvolvida pela ceramista mineira em homenagem à sua filha Cecília. Para executá-los, Heloisa derrama a porcelana líquida, tingida com corantes minerais, em moldes de gesso e os movimenta de modo a espalhar o conteúdo. Tal procedimento dá origem a objetos de finíssima espessura, com linhas fluidas – e sempre únicas.