O filósofo Alain de Botton já escreveu muitos best-sellers que transformam a filosofia em uma visão mais proxima da vida contemporânea. Entre eles, o livro Arquitetura da Felicidade fez sucesso ao lado do documentário homônimo que faz pensar sobre como as casas contemporâneas podem nos proporcionar uma vivência mais interessante.
Para Botton, no entanto, não basta falar ou escrever. Sua reflexão sobre o morar rendeu um fruto concreto: no projeto Living Architecture, ele põe em prática seu discurso. Ao lado de arquitetos, criou lugares incríveis que podem ser habitados por alguns dias e provar sua teoria de que uma residência pode transformar seu estado de espírito. A casa Balancing Barn – em tradução literal, Celeiro em Balanço – é uma delas.
Localizada em um vale preservado pela Fundação Suffolk Wildlife Trust, na Inglaterra, a casa ocupa uma área onde antes havia bangalôs, celeiros e construções abandonadas. O Living Architecture renovou o entorno, transpondo árvores com cuidado para manter e resgatar a flora e a fauna originais. Depois, convidou o escritório holandês de arquitetura MVRDV, reconhecido pelo design inteligente, sensível e divertido para sugerir que tipo de moradas poderiam ser erguidas ali. O terreno repleto de desníveis inspirou a criação da Balancing Barn, uma construção de 30 metros de largura, que tem sua metade em balanço.
Nos interiores, a madeira clara reveste até as vigas de aço, criando ângulos e formas complexas. A cozinha e sala de jantar, com grandes janelas de correr, levam a um longo corredor que se estende aos quatro quartos com suítes.
No outro extremo, uma grande sala de estar com janelas enormes levam a um mergulho na paisagem. Os interiores foram projetados pelo Studio Makkink & Bey, em conjunto com o MVRDV e o Living Architecture, com mobiliário de forte sotaque holandês e referências do mestre Piet Mondrian.
Uma porta camuflada no living revela a escada de acesso ao jardim, onde há um balanço para as crianças desafiarem o peso da casa. As ruínas originais do lugar estão expostas, para não apagar sua memória. O revestimento externo de aço inoxidável polido torna o visual leve, ao refletir a luz do sol, e mimetiza o volume na natureza. Reflexões podem vir aos montes, e é o que o filósofo tinha em mente para quem passar alguns dias abrindo as janelas da casa.
No mês de agosto, a Casa Vogue está mais que especial - a edição tem como editores convidados a dupla mais aclamada do design brasileiro: Irmãos Campana (clique aqui e confira o nosso making of!). Para comemorar, teremos, além das entrevistas com arquitetos que já são tradição no nosso Facebook às terças-feiras, uma programação especial com designers. Soma-se a dupla Jader Almeida, Marcelo Rosenbaum e Claudia Moreira Salles, que contarão detalhes do processo criativo às quintas-feiras, por volta das 15h.
O Facebook Live é uma ferramenta que consiste na publicação de vídeos em tempo real, permitindo que os espectadores não apenas vejam o que está sendo exibido, mas também enviem perguntas e façam apontamentos. Ou seja, é o momento perfeito para tirar todas as suas dúvidas com mestres no assunto!
A Minotti inaugurou no mês passado uma flagship store em Munique, a segunda na Alemanha, depois de Berlim, em 2012. Em parceria com a Egetemeier Wohnkultur, a loja ocupa uma área de 300 m² em um único piso, com grandes janelas ao longo da fachada. As cores da marca, em pisos de cimento, painéis de madeira escura intercalados com paredes de mármore e cortinas de linho cinza, foram aplicadas pela equipe Minotti Studio neste cenário ideal para expor a coleção 2016.
Com novo formato, a mostra Modernos&Eternos, em seu terceiro ano, acontece num espaço maior, a Casa Bossa, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e passa de nove a 18 ambientes assinados por arquitetos e designers, como Luciano Dalla Marta (autor do croqui), Suite Arquitetos, Zanini de Zanine e Henrique Steyer, entre outros.
Os profissionais interpretam o tema em homenagem à consultora de moda Costanza Pascolato para fazer um mix & match de mobiliário e objetos vintage ou antigos com peças contemporâneas e autorais. Afinal, essa é a proposta do evento concebido pelos sócios Maria di Pace e Sergio Zobaran, onde tudo está à venda. De 10 a 14 de agosto.
O desejo de romper fronteiras moveu o trio Andre Poli, Roberta Queiroz e Soninha Vilela a criar o showroom No Borders for Design, no Miami Design District, bairro que concentra tendências mundiais da área, além de arte, moda e gastronomia. É para lá que o grupo está levando o bom desenho made in Brazil, por meio de nomes como Luhome, Empório Beraldin, Vermeil, Mac Móveis, PanoramAH!, Santa Mônica Tapetes, Sao Casa Export, Silvia Heringer e Effyis Design.“Realizamos uma curadoria. A marca precisa ser high-end e reconhecida no Brasil, ter história e potencial para conquistar o mercado exterior”, explica Roberta. E os planos não param por aí: a ideia é abrir novas frentes também na Europa e na Ásia.
Referência mundial em planejamento urbano, o arquiteto paranaense Jaime Lerner acaba de somar mais um feito ao currículo: criou sua primeira peça de mobiliário. De traço minimalista, a Duo tira partido das curvas conquistadas pelo manuseio da chapa de aço. “A exemplo do meu trabalho como arquiteto e urbanista, nunca cultivo excessos. A simplicidade deve ser impactante”, diz. Lançada pelo Projeto Viés, a namoradeira – com edição limitada e numerada de 15 exemplares – se integra à coleção de 2015 por Zanini de Zanine, Aida Boal, Ronald Sasson, Zanine Caldas e Flavio Franco e será leiloada em prol da escola Israelita Salomão Guelman.
Depois de assinar coleções com a chef Morena Leite e o lighting designer Maneco Quinderé para o Projeto 2, Paulo Alves apresenta o resultado de mais uma parceria, desta vez com o gaúcho Hugo França, autoridade em reaproveitar resíduos florestais para a produção de mobiliários únicos. Juntos, eles conceberam 60 itens, que estarão expostos, de 8 a 20 de agosto, em seus ateliês, em São Paulo, e depois circularão por lojas e galerias do país. Casa Vogue conversou coma dupla.
Como foi trabalhar em parceria?
Hugo França: Foi minha primeira experiência e deu certo: unimos duas linguagens com harmonia.
O que vocês criaram?
Paulo Alves: Bancos, mesas, aparadores, luminárias e sofás. Levei os pés de galhos dos meus móveis para as peças pesadas do Hugo. Elas se soltaram do chão e ganharam leveza.
Qual o aprendizado que fica do projeto?
HF: Curtimos muito fazer este trabalho e nos tornamos bons amigos.
PA: Nunca havia produzido em escalas tão grandes. Foi interessante compartilhar o processo de criação com um artista contemporâneo.
Era 2006. Eu morava em Milão, na Itália, e trabalhava como freelancer para revistas da Europa. Estava no Brasil fazendo uma série de reportagens sobre arquitetura e design e tinha uma missão: entrevistar os designers brasileiros mais famosos do momento, os irmãos Campana. Essa matéria, um perfil de oito páginas, foi publicada nos principais títulos europeus do segmento, com minha assinatura. Era o meu début como jornalista de design internacional, catapultado pela força desses ícones. Desde então, Fernando e Humberto são, para mim, como padrinhos de carreira. E nossas jornadas, por sorte minha, sempre se cruzaram! O insight de convidá-los como editores deste número da Casa Vogue nasceu no ano passado, durante a Casa Vogue Experience, logo depois do sucesso da palestra que Humberto lá fez. Como farol verde, fizemos a reunião inicial em março, quando colocamos no papel inúmeras ideias e possibilidades de participação da dupla, da primeira à última página.
Maio e junho foramos meses mais intensos de trabalho conjunto: produção de sets fotográficos, identificação das casas dos colecionadores mais representativos de suas criações, seleção das peças que comporiam cada seção, além da produção de retratos e das nossas três capas especiais, duas para bancas e uma, a mais Campana de todas, especial para nossos assinantes. Até um croqui exclusivo, assinado por Fernando, conseguimos incluir nos últimos minutos da prorrogação. Foram cinco meses trabalhando juntos, trocando experiências, devaneios e sonhos. O vídeo de making-of da edição (disponível em nosso site) e as fotos deste editorial dão uma amostra dessa emoção. Ao escrever esta carta, no dia do fechamento, sinto aquela ponta de depressão. Acabou... E agora? Agora, a edição Casa Vogue editada pelos irmãos Campana está aqui, em suas mãos, pronta para ser degustada e consultada por toda a eternidade!
A usina Campana não para. A pesquisa como artesanato, que “oxigena” as ideias e traz novos repertórios para a dupla, segue firme, em parcerias com comunidades pelo Brasil. No Estudio Campana, design de mobiliário e equipamentos urbanos. Em Brotas, SP, cidade onde nasceram e se criaram, vão replantando árvores para formar um parque.
No futuro, mais projetos solo: “Estamos sentindo necessidade de trabalhos mais autorais, sem fazer concessões ao outro”, diz Humberto Campana. Com tantos vetores ativados, como definir o design dos Campana? “Somos contadores de histórias, nosso trabalho é como uma fotografia: com traços oníricos, surrealistas, e também humanitário.
Uma vez Cristina Morozzi definiu nosso desenho como design líquido. Eu acho isso também. Ele não se contém, não tem fronteiras”, completa. O segundo semestre começa com a abertura do ReffetoRio Gastromotiva, onde a organização do chef italiano Massimo Bottura, número 1 do mundo, instalará sua cozinha comunitária, com móveis assinados pela dupla.
No próximo mês, o Instituto Campana inicia o programa Cimento e Batom, para capacitar mulheres no assentamento de cerâmica para a construção civil. No Mana Contemporary Center, em Nova Jersey, EUA, deve estrear, em novembro, com figurino dos Campana, um balé que retoma o Triádico, criado pelo alemão Oskar Schlemmer (1888-1943) em 1922, pioneiro espetáculo multimídia nascido sob influência da Bauhaus.
Paralelamente, o Estudio acerta detalhes do mobiliário urbano sustentável pensado para uma praça na área de Riverfront,em Detroit. São postes de iluminação com bancos e captação de energia solar. Em fase de protótipo, o projeto deverá estar pronto no próximo ano. Fernando e Humberto contam mais detalhes na entrevista abaixo.
Poste com banco e sistema de captação de energia criado por Fernando e Humberto Campana para a área de Riverfront, em Detroit, EUA, previsto para 2017
Como serão os figurinos para o balé? Humberto Campana: Acabamos de voltar de Nova York para prepará-los. Buscamos em Chinatown e na Canal Street nossos materiais. Os figurinos vão ficar com muitos infláveis, luzes, plásticos e alguns elementos naturais. No começo fiquei assustado porque é um balé histórico, mas depois foi saindo, como num passe de mágica. A última exposição dos Campana no Brasil foi no novo CRAB, no Rio, com bordados em luminárias.
Luminárias na exposição Retratos Iluminados, no CRAB, no Rio, produzidas por artesãs de Sítios Novos, SE, e Entremontes, AL, sob orientação dos irmãos
Como foi esse trabalho? HC: Tivemos a ideia de confeccionar grandes bordados com os pontos em cruz e redendê que as artesãs usam tradicionalmente, mas comos retratos delas, estilizados, para que revelassem a cara, num ato de afirmação. Fernando Campana: Foi um gesto de liberdade, para mostrar que é possível sair do habitual. Têm sido frequentes as parcerias com comunidades de artesanato.
O que elas significam para vocês? FC: Queremos ampliá-las.A experiência com as bordadeiras foi proporcionada pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação – IPTI, que atua na economia criativa, com arte, ciência e tecnologia. HC: O objetivo é conhecer e resgatar habilidades manuais que estão desaparecendo, os processos. O design é a ferramenta, e isso alarga o nosso vocabulário de formas e conceitos. Para eles, são ideias novas para pôr em prática com técnicas que já conhecem. Esse tipo de relação de pesquisa com técnicas tradicionais nós já realizamos na Europa, conhecendo importantes mestres artesãos para aprender seus ofícios, como em Roma. Agora, estamos fazendo isso no Brasil, descobrindo trabalhos incríveis.
Somos contadores de histórias, nosso trabalho é como uma fotografia: com traços oníricos, surrealistas, e também humanitário"
Humberto Campana
Participar do Salão de Milão ainda é importante? HC: São referências, tendências, lançamentos. Mas ficamos pouco por lá. Para me atualizar, procuro sites que dão uma visão do que está acontecendo. As ideias estão todas aí. É preciso se informar para não achar que você está criando uma coisa mágica e, no fim, ver que está apenas repetindo algo.
Quais os planos para o futuro? HC: Eu me vejo trabalhando com a natureza, em jardinagem, paisagismo. Quero fazer... na verdade já estamos fazendo, um parque dentro de nosso sítio em Brotas. Gostaria de ter um grande jardim, com pavilhões. Já plantamos 15 mil árvores de vegetação nativa (angicos, paineiras, pitangueiras). No futuro, vejo ali uns pavilhões. Ali eu gostaria de ter compromisso só com minha fantasia.
Design, hoje, serve para quê? HC: Hoje o design procura salvar o mundo.Os jovens designers não querem ser estrelas. Querem fazer um mundo melhor, tanto com as técnicas, como a biotecnologia, quanto em projetos sociais.O futuro do design é mais querer ajudar do que fazer coisas belas. Pode ser belo, mas com esse background. E também é coletivo. Procuro ir nesse pensamento. Ter no nosso trabalho uma razão de ser.
DEZ PEÇAS DE TODOS OS TEMPOS Fernando e Humberto elegem o crème de la crème entre suas criações
Cadeira Favela
Foram apenas dois exemplares criados em 1991, com sarrafos de madeira sobrepostos e pregados de forma irregular. A peça imitava as construções improvisadas, sem projeto. Em 2003, a italiana Edra produziu uma segunda versão
Sofá Boa
De espuma e veludo, em formato de nó, o móvel foi confeccionado pela Edra em 2002 e exibido com destaque no Salão do Móvel de Milão
Armário Settimio
Desenvolvido para a Galleria O. Roma, de bambu e colagem tridimensional de objetos de bronze, foi exposto na mostra Barroco Rococó, em Paris, em 2012
Cadeira Sushi
Metal, borracha e tecido formam esta peça do Estudio Campana. A primeira, de 2002, foi editada pela Edra. Depois a dupla desenvolveu uma linha com outra poltrona, sofá, mesa, bufê e acessórios
Mesa Ofidia
De corda e bronze fundido, do Estudio, foi apresentada na galeria Friedman Benda, em NY, 2015
Cadeira Corallo
É uma produção escultórica da Edra, de 2004, de aço compintura epóxi
Bufê Detonado
Com estrutura de madeira e fios de náilon trançado e aplicação de palhinha ao estilo vienense, foi desenvolvido pelo Estudio Campana e mostrado em Nova York (na Friedman Benda) e Miami em 2015
Armário Cangaço
De madeira com couro e tachinhas metálicas, design Estudio Campana e Espedito Seleiro
em edição limitada para a Firma Casa, 2015
Cadeira Plástico Bolha
Criada em 1995 comcamadas desse material presas a uma estrutura de metal, numa fase em que a dupla fez uma série de experiências com produtos plásticos
Poltrona Banquete
Produção do Estudio, de 2002, tem estrutura de ferro com bichos de pelúcia e faz parte de uma coleção de poltronas comassentos com esses elementos, de couro e motivos variados
INTERFERÊNCIAS MARCANTES Arquitetura de interiores e arte têm ganhado força na carreira da dupla nos últimos cinco anos. Só em 2011, foram quatro grandes projetos de intervenção: o café do Theatro Municipal em São Paulo, o café do Museu d’Orsay em Paris, o New Hotel em Atenas e uma instalação para o Maxxi, o museu de arte do século 21, em Roma. Aqui, seis destaques escolhidos pela dupla
CAFÉ DO MUSEU D’ORSAY PARIS, 2011
Inaugurada em 1900 como a primeira estação ferroviária eletrificada do mundo, a Gare d’Orsay foi desativada e reaberta em 1986 como museu. Convidados para redesenhar o seu Café l’Horloge, os irmãos se inspiraram no mestre vidreiro Emile Gallé para conceber o espaço. Luminárias de placas de alumínio dourado pendem das estruturas do forro para iluminar o ambiente, emoldurado pela grande estrela: o antigo relógio da estação. Painéis de fios metálicos retorcidos, lembrando a poltrona Corallo, formam biombos entre grupos de mesas de madeira. Cadeiras com encostos e assentos de formas ameboides são de poliuretano azul-celeste.
LOJA CAMPER SÃO PAULO, 2013
Um corpo de fibra entremeado por cadeiras de plástico barato apareceu pela primeira vez na série Transplastic, exposta em Londres, em 2007. O mobiliário híbidro alude à ideia de um mundo artificial e sintético sendo engolido pela natureza poderosa. A mistura foi aplicada de forma funcional para criar assentos, nichos e paredes de ambientes acolhedores como cavernas das lojas Camper, de calçados, começando pela de Nova York e chegando a São Paulo. Restos de outdoors foram usados pelos irmãos para painéis de uma loja em Saragoça e quadros de sisal na de Florença.
AESOP VILA MADALENA SÃO PAULO, 2016
Os cobogós de cerâmica rústicos, que já tinham aparecido em uma mesa dos Campana apresentada no começo dos anos 2000, voltamà cena. É com eles que foramconfeccionadas as prateleiras fixas que servem como mostruário para os produtos da loja Aesop, marca australiana de cosméticos, no endereço da Vila Madalena, em São Paulo. Cobogós com desenhos radiais são suportes para os balcões de atendimento. Nas paredes, um revestimento de sisal ajuda a deixar o ambiente ainda mais cheio de referências brasileiras.
CAFÉ DO THEATRO MUNICIPAL SÃO PAULO, 2011
Ao reabrir ao público no seu centenário, o Theatro Municipal trouxe como destaque o projeto de interiores do café-restaurante, by Campana. Assimetria e geometria comandamo ambiente. Foram desenvolvidas superfícies espelhadas nas mesas, nos balcões e em painéis nas paredes para refletir janelas e os afrescos do teto, com detalhes dourados. Mesas e luminárias de piso ganharam, como base, torres de placas metálicas de tamanhos variados, empilhadas.
NEW HOTEL ATENAS, 2011
Feita coma colaboração de alunos de arquitetura da universidade grega de Tessália, a reformulação dos interiores de uma construção dos anos 1950 deu lugar ao New Hotel em Atenas, com 79 quartos. Uma das premissas foi reutilizar o mobiliário antigo de madeira do local como base para as criações. Assim nasceram novas poltronas com retalhos de couro e painéis da recepção e do restaurante, além do revestimento de pilares como sistema Favela, envolvidos com sarrafos pregados de forma irregular. Para decorar alguns quartos, foram produzidas com metal figuras inspiradas nos Karagiozis, bonecos bidimensionais do folclórico teatro de sombras da Grécia.
MUSEU STEDELIJK AMSTERDÃ, 2014
Para “desconstruir a linearidade do ambiente do museu e trazer a natureza para dentro”, os irmãos usaram formas orgânicas, madeira e peles de vaca para o projeto do Museu Stedelijk, na Holanda. O Grand Canyon foi a inspiração para a área da recepção e a loja de design. Lâminas de madeira de tonalidades diferentes empilhadas como em curva de nível recobrem as paredes da loja, formando balcões, mesas e displays contínuos e orgânicos. Nas paredes do auditório, foi aplicada uma espécie de colcha de retalhos feita manualmente com couro de vaca.
Que tal ver os filmes mais prestigiados dos festivais de Cannes, Berlim, Veneza e Toronto dentro de um prédio desenhado por Oscar Niemeyer? A experiência será possível a partir do dia 24 deste mês, coma abertura da filial fluminense do Reserva Cultural, no antigo Centro Petrobras de Cinema, que integra o Caminho Niemeyer, em Niterói. As mesas ao ar livre do restaurante no piso inferior serão spots perfeitos para contemplar as linhas do arquiteto.
O ambiente é um mergulho nas formas e texturas da dupla de designers mais amada do país. As paredes revestidas com o desenho inspirado nas escamas de pirarucu criamum ecossistema particular: nunca antes visto! O lustre orgânico simboliza o crescimento de fungos na madeira; as cores, naturais, proporcionamo diálogo entre inanimados. Todas as peças deste espaço são de Fernando e Humberto Campana, escolhidas por eles como representantes máximas de seu universo. Na parede, revestimento multilaminado Pirarucu, para a Alpi. Lustre Fungo, para a Lasvit. Sobre o armário da linha Capacho, na Firma Casa, vasos homônimos e castiçal Barroco. Poltrona Bolotas (à esq.), cujas bolas de pele sintética são confeccionadas pela ONG Orientavida, poltrona Racket Detonado e mesa lateral Ofidia, todas criadas para a Friedman Benda.
Edifício The Beekman foi o primeiro arranha-céu de Nova York
Grades de ferro fundido de estilo vitoriano ornamentado comflores e dragões e uma claraboia piramidal. Primeiro arranha-céu de Nova York, o edifício The Beekman, desenhado em 1881 por James M. Farnsworth, renasce para abrigar a mais nova unidade do grupo Thompson Hotel. O inglês Martin Brudnizki foi o responsável pela decoração dos interiores deste tesouro arquitetônico, e o chef TomColicchio e o restaurateur Keith McNally cuidarão dos restaurantes.
Monica Martins e Juliana Freire no casarão de 1920
Reativar um patrimônio histórico de maneira inusitada: este é o objetivo do L.A.C.A. – Lugar de Arte Contemporânea Atemporal, que reúne gestões autônomas e privadas de diferentes áreas, como artes plásticas, teatro, dança e gastronomia, em uma construção tombada de 1920 no centro de São Paulo.
Responsáveis pela programação de artes, Juliana Freire e Monica Martins, sócias da galeria Emma Thomas, que transferiu a sede para o local, montarão uma exposição inaugural que discute a própria história da casa (e suas falhas) com obras de Victor Leguy.
O hall de entrada traz um sofá de Francesco Binfaré para a Edra, à frente de uma tela de Bruce Pearson, além de um retrato de Frida Kahlo e Diego Rivera (à esq.) e uma fotografia de David Levinthal (à dir.) nas paredes que antecedem um dos livings, onde se vê, ao fundo, um sofá da artista Nicola L
Bons enredos parecem estar sempre em busca de corajosos como Jenette Kahn. O sorriso expansivo da americana que comandou – e revolucionou – a DC Comics por 27 anos, como editora e presidente, dá uma pista de seu universo vibrante de cores e formas. Mas só ao entrar em sua casa no Harlem, em Manhattan, entende-se seu talento para criar histórias marcantes. Coleções de arte e design emocionam a cada esquina. Tudo coerente com a verve criativa de quem passou pela célebre revista Mad e, aos 68 anos, se mantém ativa à frente da Double Nickel Entertainment – produtora de filmes como Gran Torino (2008), dirigido e estrelado por Clint Eastwood. “Amei a DC, é o melhor trabalho da galáxia! Mas tenho a mesma paixão por filmes”, conta.
O teto da sala de jantar, elaborado por Al Williams, intercala espelhos e reproduções de pedaços de pinturas renascentistas, e sustenta um lustre da Venini dos anos 1930, mesma década da mesa francesa, rodeada por cadeiras Jenette, design Fernando e Humberto Campana – estas, produzidas por Al Williams e Lloyd Schwan; nas paredes, quadros de Justen Ladda (à esq.) e Carrie Mae Weems (à dir.)
Ainda que tenha chefiado grandes companhias, Jenette jamais se limitou a agendas repletas de reuniões. O décor é tão visceral para ela, que, além de garimpar peças raras para a residência, levou-a a escrever 300 páginas de segredos e lições sobre interiores, no livro In Your Space (Abbeville Press, 2002), em que revela seu antigo escritório na DC, sua casa de campo e The Perfect House, como chama esta morada, seu “renascimento”.
Um dos livings exibe telas de Joyce Pensato e um pendente de Ingo Maurer – sob ele, poltronas de Jean Prouvé (à esq.) e cadeiras de Frank Gehry (à dir.), tudo da Vitra, mesa de centro de Gae Aulenti e tapete de Eileen Gray
Há 20 anos, estava divorciada quando encontrou o imóvel de 408 m², de quatro andares, necessitado de uma boa reforma. E se a vida imita a arte, é curioso e romântico o capítulo em que entra o herói Al Williams, empreiteiro, artista e jogador de xadrez de ranking internacional. No apartamento anterior, três eletricistas não foram capazes de resolver um problema sério, solucionado por Al de forma simples e com olhar silencioso – o que fisgou Jenette para sempre. A parceria se estendeu à renovação da construção e, depois, à vida. Há dez anos moram juntos e ele realiza os desejos ousados da amada. Como o teto majestoso da sala de jantar – ela teve a ideia, ele construiu – e as peças com design Campana, produzidas por ele com direcionamento de Fernando e Humberto.
Jenette Kahn e Al Williams, os donos da casa
Logo, a aventura de entalhar belas histórias pela casa se tornou mais divertida. Um mundo que não se prende a estilos, mas que pode levar ao drama ou à comédia. Na sala, a chaise Catwoman hipnotiza, enquanto no quarto presencia-se um bom embate: a cadeira Plástico Bolha, dos Campana, disposta em frente à mítica Red&Blue, de Gerrit Rietveld.
O quarto do casal guarda a primeira peça assinada pelos irmãos Campana adquirida por Jenette, a cadeira Plástico Bolha (à dir.), posta frente à frente coma icônica Red & Blue, de Gerrit Rietveld, e com a luminária de piso de Yonel Lebovici – na parede, quadro de Ben Shahn (à esq.) e pinceladas de Roxy Paine (acima da lareira)
Mais do que causar surpresa, o design de qualidade precisa ultrapassar a matéria física para ser especial ali – que o diga a própria cadeira Jenette. No verão de 1998, em um almoço com a curadora de design do MoMA de Nova York, Paola Antonelli, Jenette se entusiasmou ao saber de uma exposição vindoura, Projects 66: Campana/Ingo Maurer. Era a estreia da dupla brasileira no museu. “Quando vi fotos do design dos Campana, fiquei elétrica”, lembra.
As muitas peças feitas por amigos me trazem inspiração para viver"
Jenette Kahn, proprietária
Na época, os “materiais modestos e a imaginação sofisticada” lhe serviram de pretexto para dar uma festa, em sua própria morada, na noite de abertura, com todos os envolvidos na mostra. “Eles são encantadores e humildes até hoje.” A amizade nascida ali trouxe a encomenda das cadeiras da sala de jantar. “Quando fui ao Brasil, vi que eram lindas, confortáveis e tinham o nome Jenette. Me emocionei.”
No escritório de Jenette, trabalha-se sobre uma cadeira Batman, de Alex Locadia, e uma escrivaninha da Sleek Modern Furniture, na companhia de um painel de Roxy Paine (na parede)
É a identidade que ela mais gosta que a casa assuma, a da emoção. “Fico feliz com os detalhes e também ao ver as coisas em diálogo entre si. Mas as muitas peças feitas pelos amigos, essas me trazem inspiração para viver.”
Detalhe de um living traz quadros de Sandy Skoglund, mesa de Nanna Ditzel e mesas baixas de Gaetano Pesce
Na instalação Cuatro Guitarras, os artistas cubanos fazem referência às fases da lua
Conhecidos por questionar de forma ácida e bem-humorada a arquitetura, a escultura e o design (com uma boa dose de política), o coletivo Los Carpinteros desembarca no Brasil trazendo a retrospectiva Objeto Vital, com cerca de 70 obras, no CCBB SP – desde as aquarelas primordiais que refletiamo contexto político e econômico da ilha de Fidel nos anos 1990 até as megainstalações que subvertemo espaço urbano. Não deixe de conferir os trabalhos musicais, como Cuatro Guitarras e Cuarteto. Até 12 de outubro.
O artista Leandro Erlich toca a Nona Sinfonia de Beethoven
Depois de trazer nomes como Daniel Buren e Song Dong para a mostra de arte pública OiR– Outras Ideias para o Rio, Marcello Dantas convidou Leandro Erlich (acima),Mana Bernardes e a dupla AVAF para criar instalações conectadas a diferentes esportes e que dependem da interação do público. Por isso, esta etapa é chamada de OiR PLAY. Em Corrida Musical, o Parque Madureira, até 18 de setembro, o visitante deve correr batendo nas traves. O resultado? Ele vai tocar a Nona Sinfonia de Beethoven.
Li Edelkoort senta-se sobre uma versão dourada da poltrona Vermelha, design Fernando e Humberto Campana, da Edra, à frente de uma espada do Studio Job
Lidewij Edelkoort é uma respeitada pensadora e trend hunter, sem dúvida a mais famosa do mundo. Esta senhora holandesa, de olhos azul profundo, que só usa branco ou preto e pinta seus lábios com batom vermelho carmim, há mais de 30 anos avalia cores, formas, materiais e até alimentos que estarão em pauta no futuro. Seu trabalho é viajar pelos continentes, respirar “l’air du temps” e analisar o comportamento dos consumidores para grandes marcas internacionais, como Gucci, Prada, Armani, Zara, Nissan, Lancôme, Estée Lauder, Shiseido e Coca-Cola.
A coleção única de poltronas desfila seu esplendor no escritório, da esq. para a dir.: Rock Sofa, do Studio Job, Favela, Vermelha e Transplastic, as três de Fernando e Humberto Campana e Cow,de Niels van Eijk – a mesa é vintage (anos 1980), e o pôster anuncia uma exposição de Kazimir Malevich
Em meio a uma e outra jornada planetária, sua vida pessoal se desenrola entre Amsterdã e o 14º arrondissement de Paris, próximo a um poético jardim sobre o qual se debruçam as generosas janelas e longe dos hot spots da cidade. Em uma espécie de contêiner branco de dois andares, resquício de um antigo edifício industrial em que várias salas pequenas deram lugar a ambientes espaçosos, os móveis e objetos – os quais muitos não se sabe se são esculturas – estão em constante movimento. Li, como é chamada, abriu as portas sem se preocupar como que iria ser fotografado, o que é raro, mas também inteligente. O caminho a ser seguido está bem sinalizado.
Na área de refeições, banco de Julia Lohmann (à esq.), estante e biombo do Studio Job, corvo de Maarten Kolk & Guus Kusters e mesa e cadeiras vintage estofadas com tweed
Vemos peças do Studio Job e de Maarten Baas, passando por preciosidades dos irmãos Campana, cuja obra artesanal Li possui e admira de maneira muito particular. “Humberto e Fernando são muito fetichistas em seu design, cultuam madeira, couro e metal tanto quanto ervas daninhas e materiais reciclados”, conta. “O trabalho deles mostra que designers também são artistas, o que não os impede de criar modelos em série a preços democráticos. É exatamente isso que reforça o seu talento: transitar de um ofício para outro, aprendendo com as experiências na arte e na indústria”, acrescenta.
Anzol gigante de Dewar & Gicquel, aparador comobjetos, tudo do Studio Job, pássaro de Maarten Kolk & Guus Kusters sobre mesa de Francisco Pinto e retrato de Li Edelkoort, por Erwin Olaf
Aqui é o local onde Li se reúne com sua equipe para analisar e conceituar as mil ideias coletadas em todo o mundo. “Este lugar é o meu santuário, um ponto para refletir, escrever e falar com os meus clientes e amigos”, diz. “Vivo cercada por minha coleção de design e meus objetos favoritos, nunca deixaria entrar, por exemplo, um móvel de escritório.” E embora a atuação da equipe se baseie em pesquisa, charme e talento têm prioridade. “Como acreditar na existência de um produto sem design?” É algo que a guru não se cansa de repetir. Quando lhe perguntarmos o que a entedia no design de hoje, responde: “As formas facetadas”. Sua maneira de conduzir os negócios é desconcertante, uma vez que não estabelece relações de hierarquia; sua influência é tamanha que tudo se organiza naturalmente ao seu redor.
A cadeira Evolution, de Nacho Carbonell, assume lugar de destaque diante da janela comvista para um jardim
Enquanto trabalha, também adora ficar na cozinha. “Acho bom quando posso preparar uma refeição, mas apenas um prato, sem entrada ou sobremesa – não sou muito boa de garfo. Como sociedade, já comemos o suficiente. Sou mais de pequenos snacks”.
Vivo cercada por minha coleção de design e meus objetos favoritos, nunca deixaria entrar, por exemplo, um móvel de escritório"
Li Edelkoort, trend hunter
Apesar de tanta investigação séria, baseada em métodos consolidados, a sábia trend hunter aponta que a coisa mais importante, de fato, é um bom olfato. Sua pesquisa se alimenta da reflexão existencial e da inspiração que a natureza oferece. Isto é expresso em seu caderno de tendências, apresentado duas vezes por ano e ao qual recorre como a uma bíblia. Sua vida é observar, e não gosta que a observem. Fala pouco, mas seu trabalho diz muito.
No primeiro andar, ventilador, cadeiras e mesas da coleção Clay, de Maarten Baas
A cozinha recebeu bancada de inox e porta feita sob medida por artesãos holandeses
A sobriedade nórdica define o estilo do banheiro, revestido de azulejos brancos
Uma videoinstalação de Tony Oursler, que projeta imagens fantasmagóricas de um rosto sobre uma árvore do jardim, recebe os visitantes à frente de uma das construções centenárias que compõem a fazenda
A Old Belchers Farm sempre esteve presente na vida de Michael Hue-Williams. Trata-se de uma extensa propriedade rural que pertence à sua família desde o século 17, em Little Milton, vilarejo a uma hora de Londres, próximo a Oxford. Ainda que ele tenha aberto sua primeira galeria, homônima, na capital britânica em 1988, com projeto de John Pawson, sua relação com a fazenda permaneceu constante. Àquela, seguiu-se a Albion Gallery, sua segunda aventura artística, para a qual contou com o desenho de Norman Foster. Após alguns anos de sucesso, Hue-Williams decidiu levá-la da cidade para o campo, rebatizada de Albion Barn.
O living é um verdadeiro tributo aos irmãos Campana, graças à cadeira Lupa (ao piano), à mesa de centro Harumaki e à cadeira Sushi III (ao fundo), todas assinadas pelos designers – pintura de Callum Innes e fotografia de Hiroshi Sugimoto
Coube à arquiteta suíça Christina Seilern adaptar os vários edifícios de pedra, madeira e tijolo, construídos ao longo do tempo em torno de um grande pátio central: desde a sede da fazenda, onde o proprietário vive com a família e está exposta a maior parte das obras de arte, até os silos antigos, que abrigam exposições temporárias. Para tanto, a profissional manteve a aparência tradicional do exterior e renovou os interiores – mais de 650 m² totalmente adaptados à criação contemporânea. “Este conceito de galeria é muito diferente dos anteriores. As pessoas não passam na frente e entram, temos de trazê-las para cá, organizar eventos, almoços que as atraiam”, diz Hue-Williams.
O galerista Michael Hue-Williams, proprietário da Albion Barn
Talvez por isso, a sala de jantar de um dos celeiros seja o centro nervoso da reforma empreendida. Lá, sobre uma mesa de Marc Newson, pende uma luminária colorida dos irmãos Campana, enquanto um caranguejo de porcelana coberto por uma rede de crochê da portuguesa Joana Vasconcelos escala a parede. Outro ponto focal é a biblioteca, onde Christina Seilern deus asas à imaginação. Quando a porta é fechada, o recinto se torna um refúgio secreto, em que tanto a saída como as paredes são camufladas pelos livros.
Centro nervoso da casa, a sala de jantar recebeu escultura de Zhan Wang sob fotografia de Hiroshi Sugimoto (à esq.), espelhos de Daniel Buren entre poltronas de Richard Woods, escultura de Joana Vasconcelos (à dir., no alto), mesa de Marc Newson, cadeiras de India Mahdavi, tapete de Tony Bevan e, coroando tudo, o pendente La Nave Va, de Fernando e Humberto Campana, realizado pela Venini
Do lado de fora, entre pomares e jardins, espalham-se peças, esculturas e obras site specific, uma mais surpreendente do que a outra, como a videoinstalação do artista americano Tony Oursler (uma presença fantasmagórica projetada em uma árvore próxima à passagem dos visitantes); a pequena casa colorida à beira da quadra de tênis, do britânico Richard Woods; a betoneira de aço corten do belga Wim Delvoye; as rochas de inox do chinês Zhan Wang; ou o pavilhão de James Turrell para contemplar o céu. “A Old Belchers Farm nos permite realizar projetos em uma escala muito maior do que poderíamos em uma galeria convencional na cidade. A coleção de esculturas ao ar livre visa à criação de um legado que destaque a relação e o diálogo que temos com os artistas”, completa. Para Hue-Williams, esta foi a principal razão para se mudar. Aqui ele experimenta a simplicidade da vida no campo. E um pouco de arte...
A biblioteca, com mesa e banco de Richard Woods
O pavilhão de tênis, assinado por Richard Woods
O interior do pavilhão de tênis, obra de Richard Woods que integrou uma exposição realizada na propriedade – as vigas e o piso estampam desenhos do artista, mas os sofás são de India Mahdavi e o pendente Transcloud, dos irmãos Campana, parte da série Transplastic
Um dos celeiros transformados em galeria exibe paredes, piso e cerâmicas estampadas, tudo de Richard Woods
Um pavilhão concebido pelo artista James Turrell, outro edifício que faz parte da fazenda e galeria
A fachada frontal da primeira casa idealizada 100% pelos irmãos Campana é recoberta de piaçava, além de ser pontuada por molduras e guarda-corpos de aço corten e por grupos de cactos no subsolo e na cobertura
Absurdamente criativos, Fernando e Humberto Campana jamais se furtaram a experimentar com materiais. Bichos de pelúcia, lascas de madeira, pele de peixe, cristais, cordas, bronze – tudo isso já foi incorporado a poltronas, sofás, mesas, luminárias e por aí vai. Agora, ao desenharem, pela primeira vez, uma casa desde o princípio, se aventuraram com outra matéria-prima inusitada. Localizado no bairro paulistano dos Jardins, o lar de Solange Ricoy e Stefano Zunino exibe uma fachada arrebatadora, revestida, de alto a baixo, de piaçava.
Os moradores Solange Ricoy e Stefano Zunino, na companhiade uma chaise de Charles e Ray Eames, da Vitra
Solange, fundadora da Alexandria Group, consultoria internacional de estratégia e branding, e o marido, CEO para a América Latina e head global de digital da agência de publicidade J. Walter Thompson, adquiriram o terreno estreito há sete anos e contrataram os Campana porque, em suas palavras, “são a expressão do Brasil”.
No hall de entrada, visto desde o interior, um quadro de Carlos Regazzoni encara a porta da cozinha, diante de um banco dos irmãos Campana – luminárias de piso da Flos
O casal queria que a residência tivesse uma grande fachada opaca, capaz de inibir eventuais bisbilhoteiros, bem como um interior arejado, que fluísse para o jardim dos fundos. Dessa forma, a família (incluindo dois filhos menores, Niccoló e Costantino, ainda presentes, e dois mais velhos, Matteo e Benedetta, morando fora para estudar) “poderia habitar dentro como se estivesse ao ar livre, e viver fora com o conforto de estar dentro”, diz Solange.
Um espelho em forma de nuvem desenhado por Fernando e Humberto Campana reflete o jardim dentro do living, que traz poltronas da Poltrona Frau, luminária de mesa preta de Vico Magistretti para a Oluce, mesa de centro de Antonio Citterio, da Maxalto, sofás modulares do mesmo autor para a B&B Italia e luminária com bambu e mesa lateral (ao fundo) dos irmãos Campana
Outro pedido especial foi a enorme estante, considerada por ela “o elemento central da casa”, com capacidade para armazenar cerca de mil livros. Com base nesses requisitos, o projeto tornou-se, segundo Humberto, “um exercício de volumetria, luminosidade e funcionalidade”.
A estante revestida de couro que sobe paralela à escada até a claraboia, no topo, e que pode armazenar até mil livros, criada sob medida pelos irmãos designers
Os irmãos designers também optaram por empregar uma variedade maior de móveis do que apenas aqueles criados por eles. “Teria sido muito ditatorial”, argumenta Fernando. “Não se trata de um showroom Campana, afinal.”
A sala de jantar tem como destaques a primeira mesa da coleção Papelão, de Fernando e Humberto Campana, e quadros de Yolanda Mohalyi, Arcangelo Ianelli e Tomie Ohtake (da esq. para a dir.)
O projeto, lembra Solange, passou por várias revisões antes do início da obra (só a estante foi redesenhada sete vezes). “No começo era estilo favela, em seguida, barroco brasileiro, e depois voltamos para uma abordagem mais simples, tropical sul-americana, ao estilo dos Campana, com toques de design italiano”, afirma ela. “Essa mistura reflete a gente: meu marido é italiano e eu sou argentina.”
Pastilhas vermelhas da Bisazza revestem um dos banheiros, que traz ainda pendentes de Konstantin Grcic para a Flos e lavatório da Antoniolupi
No subsolo, ficam a garagem e as dependências de serviço. Living, biblioteca, cozinha e terraço ocupam o térreo, enquanto no segundo andar estão os quartos das crianças e uma varanda. A suíte máster fica no topo de tudo isso, circundada por um outro terraço, como uma penthouse.
A cozinha recebeu porta e piso no tom tangerina da Pantone, móveis planejados da Dada e balcão de Silestone, da Cosentino
Mas e esse componente sui generis na frente da morada? Isolante e à prova d’água, a piaçava raramente é vista fora de vassouras ou quiosques de praia. Embora seja a primeira vez que os designers utilizam o material em um edifício, já o tinham empregado antes. Em 2003, desenharam um candelabro que combinava piaçava e cristais Swarovski e, em 2007, usaram-na para cobrir uma parede na exposição MyHome, no Vitra Design Museum. Na casa, a piaçava, presa em ripas de madeira penduradas em uma moldura de alumínio, terá de ser substituída de tempos em tempos.
A mesa de cobogós de Fernando e Humberto Campana é a vedete do terraço, no térreo
Se a frente de aspecto cabeludo surpreende – além de ser um pit-stop ideal para maritacas –, o mesmo pode ser dito da estante revestida de couro, que sobe até a claraboia, por onde a luz natural se derrama para dentro.
Teria sido muito ditatorial se tivéssemos usado só o nosso mobiliário"
Fernando Campana, designer
De resto, os ambientes são mobiliados de forma simples, com cores brilhantes que iluminam as paredes majoritariamente brancas. Dadas as aberturas da construção e seus vários terraços, não surpreende que Solange, Zunino e seus filhos sejam vistos mais fora do que dentro da residência. Niccoló e Costantino descobriram que a “pele” engraçada do lar torna fácil contar aos amigos onde eles moram. Como a mãe explica com um sorriso, “os meninos a chamam de Casa Mamute”.
Panorama do jardim, que recebeu bancos de ferro desenhados pela dupla de designers
A fachada posterior, vista a partir do jardim dos fundos, com varandas em todos os andares
Uma composição da artista Raja Schwahn-Reichmann domina a parede da sala de jantar, que tem ainda um armário de Massimo Morozzi (à esq.) e mesa e cadeiras de Denton, Corker e Marshall, sob pendente de Maria Christina Hamel
Cada item da casa de Stephan Hamel em Monteggiori, um dos mais belos burgos das colinas de Lucca, na região italiana da Toscana, participa de um refinado jogo de misturas, num universo vivaz e eclético em que as peças se movem de maneira alternativa de acordo com afinidades e contrastes. Cores, materiais, móveis e objetos dão vida a um cenário caleidoscópico onde o olho nunca se cansa de procurar novidades. “É necessário sublimar a confusão”, avisa o proprietário, que se define como um “catalisador de marcas, ou um terapeuta espiritual delas”, e que não hesitou em enriquecer com itens de design de forte impacto visual esses ambientes de estrutura tradicional, com vigas de madeira e piso de lajotas.
Vaso da Driade sobre mesa de jantar com design de Denton, Corker e Marshal
O consultor de design é nascido em Bancoc, Tailândia, filho de mãe italiana e pai metade austríaco, metade russo. Formado em história com doutorado em ciências políticas, Hamel elabora estratégias de marketing para algumas das mais importantes empresas de design do mercado (atualmente, se aventura também no mundo da moda). “Acho que o design se integra com naturalidade em uma casa de campo”, pontua. “Adoro essas contaminações, gosto de mesclar épocas e estilos mantendo o devido savoir-faire: é terapêutico.” Foi assim que os móveis idealizados por Massimo Morozzi, pelos irmãos Campana, por Maria Christina Hamel e por Masanori Umeda se tornaram protagonistas de uma paisagem composta, nas quais despontam os tapetes moldávios de delicado tema floral e as criações da artista vienense Raja Schwahn-Reichmann.
A poltrona Anemona, de Fernando e Humberto Campana para a Edra, ocupa lugar de destaque no living, próxima a um tapete moldávio e um bufê alto de Massimo Morozzi
Um papel de destaque é dado às criações de Fernando e Humberto Campana, de quem Hamel foi um dos primeiros a falar. “Não fui eu quem os descobri”, revela. “O mérito é de Massimo Morozzi, que foi um grande teórico do design radical. Eu os promovi com sucesso, e foi fácil, porque os Campana são uma bomba criativa.”
Detalhe do living enfoca, sobre o bufê de Massimo Morozzi, uma instalação luminosa de Maria Christina Hamel, autora também do vaso vermelho (à dir.)
A assinatura dos irmãos brasileiros é uma das tantas presentes na morada, repleta de desenho autoral por onde quer que se olhe. Além disso, Monteggiori também tem uma relação com o conceito demarca. “Os primeiros a introduzir a ideia demarca foram os etruscos: eram grandes colecionadores de vasos gregos e importaram não só vasos, mas ainda os ‘designers’, os artesãos que produziram as peças.” Visto que Monteggiori tem origens etruscas, existe talvez uma ligação secreta que une o trabalho de Hamel e sua casa a um povo misterioso que conhecia os segredos do marketing, do colecionismo e do design.
Protótipo de cadeira dos irmãos Campana e armário de Massimo Morozzi, da Edra, integram o quarto de hóspedes
No escritório, sobre um tapete moldávio, duas poltronas Favela, ícones de Fernando e Humberto Campana para a Edra
Vista aberta do quarto de hóspedes revela o biombo Zig Zag, design dos irmãos Campana para a Edra, sobre tapete moldávio, um assento antigo de sisal (à dir.) e duas obras pendentes de Raja Schwahn-Reichmann