Foram necessários seis meses de reforma e muito jogo de cintura para contornar imprevistos e transformar esse apartamento de 318 m², situado em um dos edifícios mais antigos da capital baiana, em um lar contemporâneo. A intervenção profunda, sob responsabilidade dos arquitetos Gabriel Magalhães e Luiz Cláudio Souza, procurou criar ambientes amplos, iluminados e com o máximo aproveitamento da vista para a Baía de Todos os Santos. Para isso, paredes foram derrubadas, a planta foi reconfigurada, duas suítes adicionais foram criadas e espaços foram integrados.
Gabriel conta que uma das primeiras ações foi abrir a cozinha para a sala. Só que durante a demolição, foram descobertos dois shafts no local. Um deles foi coberto com uma parede vegetal de samambaias. A solução encontrada, além de esconder o elemento indesejado, ajudou a levar um pouco de verde para o apartamento, que não possui varandas. O segundo shaft foi eliminado, restando uma tubulação de água pluvial que não pode ser retirada. A saída foi revestir a coluna com chapas de aço inox e incorporar o elemento ao décor, como se fosse um pilar.
A cozinha, que manteve o piso existente, recebeu bancada de granito preto da Pavimenti e banquetas desenhadas por Jader Almeida, fornecidas pela Home Design. Para maximizar a sensação de amplitude e valorizar o design aramado das banquetas, a parte inferior da bancada foi revestida com espelho.
Tabeiras de madeira que rodeavam o piso de mármore branco no antigo imóvel também foram aproveitadas. A madeira reciclada foi utilizada no painel da sala de jantar, em portas, no home theater e no painel que reveste a parede vegetal em frente à sala de almoço.
Durante a reforma, a necessidade de construir duas novas suítes, uma delas com vista para o mar, exigiu flexibilidade e criatividade dos arquitetos. Para levar toda a tubulação necessária para um dos novos banheiros, a saída encontrada foi conduzi-la sobre o pavimento por meio de um nicho de 10 cm de altura que atravessa o home theater.
"Resolver esteticamente essa questão foi um desafio e tanto. Até que a cliente trouxe como referência o filme O Mágico de Oz", lembra Gabriel Magalhães. A partir daí, o nicho de tubulação transformou-se em uma passarela com pastilhas amarelas de vidrotil. Além disso, no home, foi colada uma arte na parede com referência ao filme. Para finalizar, uma sequência de balizadores foi instalada para reforçar o brilho da pastilha e criar uma iluminação com efeito de cinema.
Um dos desejos da proprietária era a de que o design brasileiro fosse privilegiado, integrando-se ao mobiliário que ela já possuia. Isso levou à escolha da mesa de jantar Milla, criada por Jader Almeida, e de cadeiras Bertóia pintadas de laranja, ambas fornecidas pela Home Design.
Diante da altura reduzida do pé-direito, os arquitetos tiraram partido da simetria das vigas existentes como referência para dispor os móveis do living. Para arrematar o espaço, sobre o piso de mármore branco foi colocado um amplo tapete Pixel, também da Home Design.
Em um design baseado prioritariamente em uma paleta de revestimentos sóbria, a cor aparece em objetos de decoração fornecidos pela Bizâncio e na arte introduzida nas paredes. Destaque para o trio de telas da artista plástica paraibana Alice Vinagre que preenche a parede de seis metros e remete à religiosidade baiana.