Era no coração do Brasil que a designer de interiores paulista Renata Amaral passava suas férias na infância e na adolescência. Da fazenda do avô, no Estado de Goiás, guarda lembranças indeléveis e fundamentais em seu jeito de ser. “Gosto do primitivo e de certa rusticidade do campo”, conta ela, proprietária da Fazenda Marambaia, em Santo Antônio de Posse, interior de São Paulo.
Ali, todo fim de semana, literalmente, Renata despe-se de sua persona urbana para, acompanhada da família, entrar em contato estreito com a natureza. “Nessas ocasiões, fico, normalmente, de bermuda, camiseta e com um sorrisão no rosto”, diverte-se.
É uma licença em meio ao dia a dia agitado, cheio de idas e vindas entre Alphaville, bairro nobre de Barueri, SP, onde mora, e a capital paulista, por conta do trabalho – cujo ritmo a profissional pensava diminuir. Pensava. Pelo contrário, à parte a lida com os clientes na cidade, atualmente preside a Associação Brasileira de Designers de Interiores – ABD.
A propriedade rural com 22 alqueires, originalmente de produção cafeeira, foi arrematada em 2007 e transformada aos poucos.“O fato de a construção não apresentar acabamentos opulentos me atraiu”, lembra Renata, responsável por poucas alterações na planta da casa, de cerca de mil m², erguida em 1907.
A peroba substituiu a cerâmica vermelha de parte do piso e os oito quartos receberam carpete. “Preferi manter os forros do tipo ‘saia-e-blusa’ [em que tábuas retas são presas umas sobre as outras], de aspecto simples”, comenta ela.
Os elementos são, em geral, bicolores. Um dos tetos, por exemplo, mescla branco com mostarda – mesma cor a tingir o exterior da centenária construção. O esperto verde-azulado empregado em portas e janelas, além das paredes claras, completa a base cromática da decoração adaptada ao contexto campestre.
Nela, ressaltam-se características dos projetos assinados pela designer de interiores, como a busca pelo conforto, a valorização de materiais naturais e o apreço pela arte. Há móveis brasileiros antigos, alguns dos quais pertencentes à propriedade, peças vintage e de família, além de itens recentes e outros tantos encontrados, com olhos de lince, em sites de “mercado livre”.
Harmonioso, o conjunto revela alguns assentos pintados por ela de azul ou vermelho, o que lhes traz bossa. É o caso das cadeiras presentes na simpática cozinha, com direito a fogão a lenha e coloridos ladrilhos hidráulicos no chão.
O exterior, onde esculturas trazidas de terras distantes pontuam o paisagismo vigoroso de Oscar Bressane, sofreu uma mudança importante. “O local da piscina, defronte da casa, me incomodava, por isso a transferimos para outra parte do terreno”, conta a proprietária.
No lugar do antigo tanque, há hoje um lago, mais em sintonia com o entorno dessa fazenda tão relevante para Renata, de espírito lowprofile, que se diz “muito família” e confessa não receber convidados com tanta frequência. Se, de algum modo, sempre se volta ao começo, dá para imaginar a designer de interiores, daqui a uns bons anos, morando definitivamente nesta fazenda, cultivando eternamente as suas reminiscências de um Brasil brasileiro.
* Matéria publicada em Casa Vogue #346 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).