Situada na pequena cidade de Lens (cantão do Valais), em plenos alpes suíços, a Fondation Pierre Arnaud é um dos mais recentes centros culturais de peso do país. Criada por Daniel Salzman, a fundação leva o nome de seu genro, um industrial francês instalado na região que sempre sonhou em criar na cidade um centro cultural de grande porte.
O prédio, ao mesmo tempo sóbrio e imponente, possui uma fachada de 250 metros quadrados revestida com 84 painéis solares. Um dispositivo que produz 15.000 kwh de energia por ano, ou seja, a totalidade da energia necessária para a iluminação do edifício nesse período.
Durante o dia a fachada funciona como um grande espelho que reflete a belíssima paisagem dos alpes. À noite, os painéis iluminam o espelho d’água e o lago situado em frente ao prédio criando reflexos coloridos nas três superfícies. Uma loja, um terraço panorâmico e um restaurante gastronômico são ainda pontos altos do complexo que tem tudo para se tornar um centro de arte e lazer maior.
O espaço de exposição de mil m² tem como vocação principal abrigar duas grandes exposições por ano: uma no inverno e outra no verão. Para os próximos cinco anos as exposições de inverno serão organizadas em torno das grandes correntes artísticas que marcaram o mundo das artes entre 1850 e 1950, e as do verão serão dedicadas à confrontação entre a arte européia e a produção artística de outros continentes.
O time de curadores e historiadores é de primeira e a museografia é assinada pelo consagrado designer francês Adrien Gardère. Para sua exposição inaugural a fundação escolheu como tema o divisionismo, uma corrente artística do século 19, próxima do impressionismo, também conhecida como pontilhismo.
Para sua primeira mostra de verão os curadores apresentam Un air de famille, uma exposição que estabelece um paralelo entre o surrealismo e as artes primitivas - termo que designa as produções artisticas de civilizações ditas tradicionais ou tribais.
Um paralelo natural, visto que muitos surrealistas eram grandes colecionadores de arte primitiva. André Breton, por exemplo, possuia um grande número de peças de civilizações africanas, oceânicas, mayas e até esquimós. As formas enigmáticas dessas peças, suas simbologias misteriosas e seus grafismos de linhas puras não só fascinavam os surrealistas mas também os inspiravam em suas próprias criações.
A exposição no entanto não juxtapõe as obras surrealistas às peças primitivas. "Não nos interessa estabelecer comparações óbvias, queremos que os visitantes façam suas próprias associações", explica Christophe Flubacher, curador da mostra.
O percurso começa no primeiro andar com um espaço dedicado exclusivamente às obras primitivas. Momento em que o visitante pode descobrir a beleza e o mistério dessas peças produzidas por civilizações remotas, muitas datando de vários séculos.
No piso inferior, obras de mais de 50 artistas surrealistas: de Salvador Dalí a Max Ernst passando por Wilfredo Lam, Yves Tanguy ou ainda Alberto Giacometti. A particularidade da cenografia é que as obras dos surrealistas foram dispostas na mesma ordem que as peças primitivas das quais foram inspiradas, mas no andar de baixo. Um dispositivo cenográfico inteligente que evita o "lado a lado" e convida o visitante a estabelecer as filiações entre as obras por si mesmo.
Um programa para os amantes de arte mas também para quem curte natureza, pois a paisagem dos alpes durante do verão e o outono é das mais impressionantes, talvez até mais que no inverno.
Un air de famille
Data: até 5 de outubro
Local: Fondation Pierre Arnaud
Endereço: 1, route de Crans,1978 Lens, Suíça