Nascida e criada em uma família belga de ceramistas, Agnès Emery nunca conseguiu alinhar seu estilo de pensamento com a estética da época. Formada em arquitetura em um tempo em que o minimalismo clean de Le Corbusier era dominante, acabou se refugiando em um campo onde poderia usar cores com liberdade. Primeiro, dedicou-se a restaurar interiores art nouveau em Bruxelas, enquanto pintava, em paralelo, suas telas vibrantes. Depois foi no design de móveis que ela encontrou um refúgio em que pudesse colocar em prática seus desejos criativos.
Foi somando todas essas influências com a admiração pelo artesanato e trabalho manual que ela fundou, em 1993, a Emery & Cie. Não só compostas por móveis e luminárias, mas também por papéis de parede, tecidos, revestimentos e objetos decorativos, as coleções criadas por Agnès esbanjam energia cultural garimpada em todo o mundo. No Marrocos, escolheu cores e formas para azulejos de cerâmica e aprendeu a produzir móveis de aço. Na Índia, usou a sabedoria de artesãos locais para o corte manual de vidro, pedra e espelhos. Do Nepal vem a expertise do trançado manual. E da Bélgica, onde vive, ela cria tudo para que tantos diferentes materiais sejam produzidos em seus locais de origem pelos profissionais que realmente entendem do assunto.
Em sua última coleção, mais um elemento entra na dança de etnias: a madeira. Apesar de já produzir há décadas, Agnès sempre evitou o uso do material por não considerá-lo ecologicamente correto, mas as novas técnicas de reaproveitamento trouxeram uma união inesperada entre o útil e o agradável. Assim nasceu uma coleção que mescla harmoniosamente madeira – trabalhada na Europa – com ferro forjado – feito artesanalmente no Marrocos, capaz de levar para qualquer ambiente os ventos de um planeta múltiplo. Em um tempo onde é possível conectar referências de vários pontos do mundo, por quê não abraçar a todas?